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Evolução dos preços na cadeia produtiva do leite: análise dos últimos 12 meses.
Alziro Vasconcelos Carneiro - Analista da Embrapa Gado de Leite |
O custo de vida das famílias em junho de 2008, medido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), subiu 0,74%. O grupo composto por leite e derivados apresentou valorização de apenas 0,7%, em linha com a média nacional de variação de preços. Em junho do ano passado, no entanto, enquanto o custo de vida das famílias subiu 0,28%, os lácteos aumentaram 26 vezes mais ou 7,35% no mês. Isso indica que no ano corrente há uma menor pressão nos preços dos lácteos. No acumulado em doze meses, até junho, enquanto o IPCA aumentou 6%, os produtos lácteos subiram cerca de 8%.
No mercado internacional os preços estão apresentando certa estabilidade, movimento distinto daquele vivido no ano passado. A essência desse movimento foi uma combinação de recuperação da oferta global, estimulada pelos preços mais altos, e de certo enfraquecimento da demanda mundial, em função da corrosão da renda das populações mais pobres. Esse último motivo se deve a inflação mundial de alimentos, conforme analisado em artigos anteriores nesta revista. E no mercado brasileiro, como está o repasse de preços ao longo da cadeia produtiva do leite? Quais os produtos lácteos apresentaram maior valorização nos últimos doze meses? E quais subiram menos?
Analisando o período de 12 meses, até junho de 2008, verificou-se que o preço do leite ao produtor subiu 31% enquanto a ração, que representa parcela importante dos custos de produção de leite, apresentou valorização de 28%. No mercado atacadista, os preços de leite e derivados em conjunto, tiveram alta de 17,6%. Já no varejo, a elevação foi de 8% enquanto a inflação, medida pelo IPCA, ficou em 6% (Figura 1). |
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Fonte: IBGE, FGV. Elaboração: Embrapa Gado de Leite. Figura 1: Índice de preços para leite e derivados, ração e inflação: julho de 2007 a junho de 2008 (base: junho de 2007 = 100). |
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Do ponto de vista do produtor, a queda dos estoques mundiais de grãos e consequente incremento dos preços da ração têm prejudicado a rentabilidade. A situação ficou mais difícil no final do ano passado quando houve desaceleração nos preços do leite e a ração continuou se valorizando. Altas importantes ocorreram também nos suplementos minerais e fertilizantes. Todavia, no período de 12 meses a valorização dos preços do leite ao produtor superou a dos insumos.
Já no caso da indústria de laticínios, os preços de leite e derivados registraram incremento inferior ao do leite pago ao produtor, o que indica aperto de margem bruta nesse elo da cadeia produtiva (Figura 2). A pior relação de troca ocorreu no creme de leite e iogurte, que subiram 9,7% e 10%, respectivamente. O leite UHT também apresentou relação de troca desfavorável, com aumento de 14% enquanto o leite ao produtor subiu 31%. As maiores altas de preços no mercado atacadista ocorreram no leite em pó e nos queijos, de 24% e 25%, respectivamente. Portanto, mesmo estes produtos registraram alta inferior ao do preço da matéria-prima. |
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Fonte: FGV. Elaboração: Embrapa Gado de Leite. Figura 2: Variação de preços no leite ao produtor e produtos lácteos no mercado atacadista: julho de 2007 a junho de 2008. |
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Por fim, o varejo não conseguiu repassar para o consumidor final toda a alta de preços ocorrida no atacado para o conjunto de lácteos. Enquanto os preços aumentaram 18% no atacado a alta no varejo foi de 8%, indicando recuo de margem bruta de comercialização. Os produtos com maior defasagem de preços foram leite UHT e queijos, com preços ao consumidor doze pontos percentuais abaixo do preço no atacado. Mas essa defasagem não foi geral no setor. Alguns lácteos, como creme de leite, leite condensado e leite em pó apresentaram altas aos consumidores superiores ao aumento da indústria. Ou seja, o varejista aproveitou o aumento de renda dos brasileiros para remarcar seus preços. |
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Tabela 1. Variação de preços de leite e derivados no atacado e varejo: julho de 2007 a junho de 2008 (%) |
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Fonte:FGV. Elaboração: Embrapa Gado de Leite. |
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Em síntese, no período de 12 meses, até junho, a indústria foi o elo da cadeia produtiva com maior dificuldade de repasse de preços, seja pelo maior poder de barganha dos varejistas ou pela competição existente no setor de laticínios por maior participação de mercado. Além disso, a indústria viu seus custos majorados pelo aumento dos preços de sua principal matéria-prima, no caso o leite “in natura”. Portanto, os preços dos lácteos no varejo ficaram dez pontos percentuais abaixo dos preços da indústria, que por sua vez, registraram preços treze pontos aquém do pago ao produtor rural. Nesse sentido, verificou-se uma retração de margem ao longo da cadeia produtiva, que foi em parte atenuada por ganhos de produtividade e maior utilização da capacidade instalada.
No entanto, a aceleração do processo inflacionário no Brasil, sobretudo no que tange a preços de alimentos, deverá dificultar novos repasses de preços de leite e derivados. Isso porque a elevação mais expressiva de preços da alimentação afeta significativamente o orçamento familiar, corroendo a renda e inibindo o consumo. Os últimos dados de preços de lácteos no varejo indicam essa saturação. Em abril, maio e junho, as altas aos consumires foram de 1,95%, 1,37% e 0,70%. Ou seja, o aumento de preços em junho foi a metade do verificado em maio e quase um terço do registrado em abril.
De fato, o ritmo de expansão do rendimento real médio dos trabalhadores brasileiros está se reduzindo em conseqüência da inflação mais alta. No acumulado em 12 meses até maio de 2008, o rendimento real médio cresceu 2,2% (Figura 3). Em maio de 2007 essa expansão estava em 4,4%. A massa real de rendimentos, que corresponde ao produto do rendimento real médio e do total de ocupados, está crescendo 5,7% mas já esteve acima de 7% no ano passado. O único indicador que está apresentando melhora é o total de ocupados, com crescimento de 3,4%.
Por fim, o segundo semestre trás ainda alguns desafios para o setor no âmbito de preços. Primeiro porque os repasses deverão ser mais difíceis, na esteira da desaceleração da renda. Segundo, os insumos agrícolas já subiram bastante no período recente e devem se manter em patamar elevado nos próximos meses. Já o preço ao produtor sinaliza queda e pode desestimular os investimentos e a expansão da oferta para o próximo ano. Portanto, o maior desafio está em distribuir de forma igualitária o valor adicionado ao longo da cadeia produtiva, proporcionando crescimento e renda em cada um de seus elos. |
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Figura 3: Total de ocupados, rendimento real médio e massa real de rendimentos: crescimento acumulado em 12 meses em relação a 12 meses imediatamente anteriores (em %) |
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Esta é a edição nº 22 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 10 de setembro de 2008, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Duarte Vilela, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Rui da Silva Verneque, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Carlos Eugênio Martins e Chefe-adjunto de Administração: Antônio Vander Pereira. Editora Geral: Rosangela Zoccal. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Vanessa Maia A. de Magalhães. Projeto gráfico: Marcella Avila. Estagiárias: Milana Zamagno, Katyelen da Silva Costa e Rafael Junqueira. |
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