Sistemas de produção de leite no Paraná

Lorildo Aldo Stock - Ph.D. Eng. Agr. - Embrapa Gado de Leite
Alziro Vasconcelos Carneiro - DSc. Méd. Veterinário - Embrapa Gado de Leite
Marcos Cicarini Hott - MSc. Eng. Florestal - Embrapa Gado de Leite
Maria Gabriela Pinheiro Duarte - Estudante Economia da UFJF, Bolsista PIBIC do CNPq


Neste estudo, foram analisadas características de sistemas de produção de leite típicos do estado do Paraná, usando como referência as mesorregiões Sudoeste Paranaense e Centro-Sul Paranaense (Figura 1) que, em 2007, produziram 1/6 do leite do estado e concentram 1/3 das propriedades rurais do estado.

Representatividade dos sistemas

Os dados foram obtidos em painéis de especialistas, em Francisco Beltrão e Laranjeiras do Sul. Em cada região identificou-se dois sistemas de produção de leite denominados por Tradicional e Tecnificado.

O sistema Tradicional expressa a forma de produção de leite típica da agricultura familiar, a qual é equivalente a 17% da produção total do estado e é o sistema adotado por 32% dos produtores paranaenses, além de ser responsável por 62% do volume total de leite produzido na mesorregião Sudoeste e 80% na Centro-Sul.

Neste sistema a ordenha é realizada duas vezes ao dia, de forma manual ou, em alguns casos, é mecânica com balde-ao-pé. As bezerras são recriadas na própria fazenda. Alguns machos, quando criados, têm a finalidade apenas para consumo na propriedade. O sistema faz uso de infra-estrutura mínima de produção, com pouca dependência de insumos externos à propriedade. O produtor compra basicamente sal comum e mineral, concentrados para vacas, vacinas e medicamentos quando estritamente necessário. A alimentação é composta de capim picado, silagem de milho e pastagens típicas de inverno e de verão. É fornecido sal mineral durante todo o ano.

O sistema Tecnificado caracteriza a forma mais especializada de produção de leite da região, a qual é equivalente a 6,3% da produção total do estado e é o sistema adotado por 1,7% dos produtores paraenses, além de ser responsável por 28% do volume total de leite produzido na mesorregião Sudoeste e 15% na Centro-Sul.

Neste sistema as vacas apresentam melhor potencial genético de produção. O sistema possui infra-estrutura típica de fazenda especializada em produção de leite e forte dependência de insumos modernos. A ordenha, realizada duas vezes ao dia, é mecânica e as crias são manejadas em esquema de aleitamento artificial, com a criação somente de fêmeas. A mão-de-obra é predominantemente familiar. A alimentação volumosa, de melhor qualidade e em maior quantidade, é composta por forrageiras de inverno, pastagens perenes, e silagem de milho. A dieta é suplementada com ração concentrada. O sal mineral também é fornecido durante todo o ano.

Análise dos sistemas

Na Tabela 1 são apresentadas algumas medidas de tamanho e de desempenho técnico dos dois sistemas estudados. Os indicadores do uso de terra e mão-de-obra são apresentados na Tabela 2.

Custo de produção

Adotou-se o custo de produção por setores de produção de leite, de recria de fêmeas para reposição e de machos. Na Tabela 3 são apresentados os principais indicadores do custo de produção do leite. Os valores referem-se aos preços médios de mercado do mês de novembro de 2008. Como evidenciado pelo ICPLeite/Embrapa, não houve variação significativa nos custos de produção no último ano, o que justifica a utilização deste período de referência.

Nos sistemas identificados como Tradicional, o custo total de produção do leite foi superior ao preço líquido recebido pelo litro de leite vendido. O valor recebido pela venda do leite foi suficiente apenas para cobrir o desembolso e a remuneração da mão-de-obra familiar. Considerou-se como R$ 600 por mês o salário de da mão-de-obra empregada na atividade. Observou-se que as depreciações foram parcialmente cobertas. Portanto, os sistemas mostraram-se deficitários para cobrir o custo operacional.

Já no caso dos sistemas Tecnificados, o valor líquido recebido pela venda do leite mostrou-se suficiente para cobrir o custo operacional e proporcionou um excedente para cobrir as depreciações das benfeitorias e equipamentos e ainda remunerar o capital empregado. Em termos percentuais, em relação ao preço líquido recebido pelo produtor o item desembolso foi relativamente maior no caso do sistema Tradicional. Por produzir menos leite por vaca, o sistema Tradicional acabou por apresentar custo mais alto, por litro de leite.

Geração de renda

Sob o enfoque de renda mensal do setor leite (Tabela 4), o sistema Tecnificado foi o que mostrou melhor desempenho: margem líquida de R$ 1.683 e R$ 420 para remunerar o capital.

Em termos da atividade leiteira o desempenho foi melhor para o sistema Tecnificado, de R$ 2.506 e R$ 1.209 por mês (Tabela 5).

Aumento de produtividade: estudo comparativo

Com base nestes resultados e em debate com técnicos da região Centro-Sul Paranaense, sugeriu-se a adoção de pequenas alterações no sistema de produção que viabilizem o aumento de produtividade dos pastos e das vacas como forma de minimizar a dificuldade de geração de renda no sistema Tradicional. Este aumento de produtividade deve ser obtido com utilização de pastos perenes de melhor qualidade e melhor adubação que, por sua vez, possibilitariam maior taxa de lotação, ainda que as despesas com adubação aumentem os custos de produção, em valores absolutos. Os resultados das simulações e os impactos decorrentes no custo de produção e na geração de renda mensal da atividade leiteira estão listados nas Tabelas 6 e 7.

A estratégia consistiu no aumento de 50% no nível de produtividade das vacas, passando de 8,5 para 12,5 litros/vaca em lactação/dia. Para este cenário propôs-se o seguinte:

  • Transformação de 100% das pastagens nativas em pastagens cultivadas, com aumento da despesa anual de manutenção de R$ 150 para R$ 850 por ha/ano, para aumento da capacidade de suporte 1,5 para 6,0 UA/ha;
  • Manutenção da mesma área de terra e da quantidade de mão-de-obra;
  • Melhor manejo das vacas nas áreas de pastejo, possibilitando melhor condição de nutrição dos animais; e
  • Os demais itens de despesa com valores proporcionais ao número de animais.

Os resultados desta estratégia foram promissores, indicando que não há necessidade de quantidades adicionais de recursos físicos de produção e que o custo de produção do leite foi reduzido (33%, representando o equivalente a R$ 0,09 por litro no item desembolso, e de R$ 0,26 por litro no custo total). Além disso, há melhoria na rentabilidade da atividade: a margem bruta com aumento de 49%. A margem líquida passou de R$ 76 para R$ 297, o que expressa o montante que o produtor dispõe para investir todo mês. Portanto, esta estratégia proporciona renda bruta 30% maior.

Conclusão

Dos resultados do desempenho técnico e financeiro dos sistemas de produção de leite identificados como mais importantes na atividade leiteira da região, observou-se que o sistema de produção de leite familiar, Tradicional, é o que apresentou maior dificuldade de geração de renda. O resultado das simulações e os impactos decorrentes na geração de renda mensal indicaram que para a pequena produção Tradicional de leite, uma estratégia que viabilize ganhos na produtividade das vacas proporciona maior renda bruta. Além disso, é mais interessante no âmbito da melhor utilização dos recursos naturais, especialmente de terra.

 

Esta é a edição nº 36 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 16 de novembro de 2009, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Duarte Vilela, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Rui da Silva Verneque, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Elizabeth Nogueira Fernandes e Chefe-adjunto de Administração: Antônio Vander Pereira. Editores: Rosangela Zoccal e Glauco Carvalho. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Pedro Gomide e Leonardo Gravina. Projeto gráfico: Marcella Avila.

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