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Leite em alta, mas relação de troca continua ruim
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Os produtores de leite estão atravessando um momento difícil, bem diferente daquele vivenciado em 2007 e início de 2008. Os preços internacionais e domésticos recuaram, os custos de produção subiram e a relação de troca deteriorou bastante. O reflexo dessa piora na rentabilidade do produtor de leite não poderia ser outro: redução dos gastos. De fato, após a euforia de 2007 e início de 2008, com expansão na oferta de leite, a produção vem desacelerando. Desde outubro do ano passado que o crescimento do mês em relação ao mesmo mês do ano anterior está negativo, o que ilustra a perda de fôlego do produtor em manter inalterado o manejo do rebanho. No primeiro trimestre de 2009 a queda na oferta de leite foi de 7,3% em relação ao mesmo trimestre de 2008 (Figura 1). Essa retração na oferta, por outro lado, tem ocasionado pequenos reajustes no preço do leite, atenuando a situação desfavorável da relação de troca. Ainda assim, o ano continuará difícil para os produtores, já que os custos de produção não dão sinais de enfraquecimento. Na Figura 2 pode ser observada a evolução real, deflacionado pelo IGP-DI, do índice de custo de produção de leite (ICPLeite/Embrapa), do índice de preço recebido pelos produtores de leite, do índice de relação de troca (IRT) e da paridade. O IRT resulta da razão entre o índice de preço recebido pelo produtor (IPR) e o índice de preço pago (IPP). Já a paridade estabelece o limite entre a situação favorável (acima de 100) e desfavorável (abaixo de 100) para o produtor de leite em relação a base estabelecida como abril de 2006. De maneira geral pode-se verificar três períodos. O primeiro vai até março de 2007, com preços e custos de produção caminhando relativamente alinhados. O segundo período vai de abril/07 a agosto/08, em que o IRT esteve sempre favorável ao produtor de leite. No entanto, entre outubro/07 e agosto/08, apesar do IRT se manter em posição favorável, verifica-se uma trajetória declinante, influenciado tanto pelo recuo nos preços do leite quanto pelo incremento nos custos de produção. Por fim, o terceiro e último período iniciou em setembro/08 com a relação de troca sendo desfavorável ao produtor. Os preços do leite caíram 19% entre agosto e novembro do ano passado, situação que foi agravada com a crise internacional. Cabe ressaltar que essa situação desfavorável ao produtor coincide com o recuo na captação de leite, conforme ilustrado na Figura 1. Ou seja, ao se defrontar com uma relação de troca desfavorável o produtor cortou gastos e a produção caiu. Em fevereiro de 2009, os preços do leite voltaram a subir, mas longe de levar a relação de troca para uma situação favorável, até porque os custos não cederam. De todo modo a expectativa é de que os preços continuem em trajetória de recuperação indicando uma melhora na relação de troca para o segundo semestre. Mas cabe ressaltar duas preocupações, sendo a primeira no âmbito dos custos de produção. A Argentina sofreu uma forte seca, prejudicando a produção de milho e soja e a China está com um apetite acentuado no mercado de soja. Além disso, observa-se o retorno dos fundos de derivativos para posições compradas nestas commodities. Esses fatores, somado a uma possível expansão das exportações de milho brasileiras, ocupando o espaço da Argentina, podem causar alguma elevação dos preços da ração. Mas é preciso monitorar essas variáveis, já que o mundo se encontra em meio a uma grave crise, com reflexos negativos sobre a demanda. A segunda preocupação refere-se ao comportamento dos preços do leite no varejo. Nos últimos dois meses o leite subiu acima da inflação, medida pelo IPCA. No entanto, a taxa de desemprego está aumentando e a economia está passando por um momento de crise, com reflexos negativos sobre a renda das famílias. Dependendo da intensidade desta elevação de preços, a desaceleração do consumo de leite e derivados pode ser maior do que o esperado inicialmente. Uma coisa é certa. De abril de 2008 a abril de 2009, os preços do leite ao produtor recuaram 15%, enquanto ao consumidor o UHT está 5% mais alto. E os varejistas estão com uma margem bruta de comercialização no UHT entre 20% e 30%.
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Esta é a edição nº 30 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 22 de maio de 2009, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Duarte Vilela, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Rui da Silva Verneque, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Carlos Eugênio Martins e Chefe-adjunto de Administração: Antônio Vander Pereira. Editora Geral: Rosangela Zoccal. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Pedro Gomide e Leonardo Gravina. Projeto gráfico: Marcella Avila. |
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