Um olhar sobre a produção de leite na Nova Zelândia

Rafael V. B. Junqueira
Administrador, Técnico em Laticínios, Mestrando pela Massey University, Nova Zelândia
rafaelvbjunqueira@yahoo.com.br


A Nova Zelândia é um dos grandes players no mercado global de lácteos. Apesar do seu pequeno tamanho territorial, equivalente ao estado do Rio Grande do Sul, o país é o oitavo maior produtor de leite do mundo, e o maior exportador de produtos lácteos, com mais de 30% do mercado internacional.

De todo leite produzido no país, aproximadamente 95% é captado pela cooperativa Fonterra. A importância da cooperativa para a economia da Nova Zelândia é inquestionável. Ela representa 7% do produto interno bruto (PIB), e mais de 25% da pauta de exportação.

A produção de leite na Nova Zelândia é dividida em estações (seasons). A estação inicia no dia primeiro de junho e termina no dia 31 de maio do ano seguinte. Podemos perceber na Figura 1, que a produção de leite possui comportamento altamente sazonal. Durante os meses de junho e julho, período que corresponde ao inverno, a produção é limitada, sendo destinada somente ao abastecimento do mercado interno. A partir do mês de agosto a produção começa a avançar, atingido o pico em outubro.

 

 

Nesta última estação, estação 2008/09, finalizada dia 31 de maio deste ano, a produção de leite na Nova Zelândia é estimada em 16,4 bilhões de litros, o que representa um crescimento de 8% sobre a estação anterior (Figura 2). Na presença desse expressivo crescimento da produção, pergunta-se: Qual é a explicação para esse fato, já que os preços das commodities lácteas no mercado internacional estão mais baixos?

 

 

A resposta está basicamente centrada em dois fatores. O primeiro fator refere-se as condições favoráveis para o crescimento das pastagens. Na estação 2007/08, a seca castigou várias regiões da Nova Zelândia, o que contribuiu para queda de 3% da produção naquele período. Porém, nesta última estação (2008/09), o clima favoreceu a pecuária leiteira, com chuvas bem distribuídas ao longo do ano, o que impulsionou a produção.

Outro ponto fundamental foi o número recorde de vacas em lactação. Na estação 2007/08, na esteira das commodities lácteas nas alturas, o preço pago pelo leite ao cooperado da Fonterra foi de NZ$7,90 por Kg de sólidos do leite (Figura 3). Esse valor, acima da média histórica, aumentou a confiança do produtor. Assim, na estação seguinte (2008/09), muitos aumentaram o rebanho com a expectativa de manutenção dos preços.

 

 

Diante desse cenário de crescimento da produção e queda dos preços no mercado internacional, o resultado foi redução do preço do leite ao produtor. Em comparação com a estação 2007/08, o preço pago na estação que terminou dia 31 de maio foi 34% menor, atingindo o valor de NZ$5,20. Essa queda expressiva do preço deixou muitos produtores em condições alarmantes. O reflexo já pode ser observado no campo, onde o preço da terra caiu 20% nos últimos seis meses, e alguns analistas prevêem que ainda há espaço para queda de 10% nos próximos meses. Vale ressaltar, que o valor pago pelo leite ao cooperado da Fonterra na estação 2008/09 ainda está sujeito a alterações, determinadas pelo conselho da cooperativa.

Para a estação 2009/10, que iniciou no dia primeiro de junho, as previsões ainda são contrastantes. Segundo relatório publicado no início de maio pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, sigla em inglês), a produção de leite da Nova Zelândia deverá crescer na faixa entre 1 e 2%. Porém, a recente publicação da Fonterra, que o preço previsto a ser pago pelo leite nessa estação que se inicia será de NZ$4,55, está gerando desconfianças. Alguns especialistas do setor estão questionando a capacidade financeira e o nível de endividamento dos produtores de leite do país. O valor previsto pela cooperativa, em termos nominais, é 12% inferior ao valor pago na estação 2008/09, e 42% inferior ao pago na estação 2007/08.

Nesse contexto onde produtores estão com margens apertadas, surge à necessidade de otimização dos sistemas de produção, a fim de reduzir custos. O foco principal deixa de ser em ampliar o volume, e volta a ser controlar o custo de produção. A estação iniciada no mês de junho terá pela frente a crise global que nos atingiu, e o cenário sugere que a produção de leite da Nova Zelândia deverá se manter próxima do patamar da última estação.

 

Esta é a edição nº 31 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 29 de junho de 2009, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Duarte Vilela, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Rui da Silva Verneque, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Carlos Eugênio Martins e Chefe-adjunto de Administração: Antônio Vander Pereira. Editora Geral: Rosangela Zoccal. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Pedro Gomide e Leonardo Gravina. Projeto gráfico: Marcella Avila.

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