Preços do leite ao consumidor em desaceleração

Lucas Campio Pinha – Estudante de economia da UFJF e Bolsista da Embrapa/CNPq - e-econom@cnpgl.embrapa.br
Glauco Carvalho - Economista e pesquisador da Embrapa Gado de Leite - glauco@cnpgl.embrapa.br


Nos últimos meses o leite voltou aos canais de mídia em função da alta de preços ao consumidor. De fato, ocorreram altas acentuadas, sobretudo no UHT, superando em muito o custo de vida média de uma família brasileira, medido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No último mês, no entanto, os preços dos lácteos ao consumidor começaram a ceder. O objetivo deste artigo é analisar o comportamento recente dos preços de leite e derivados ao consumidor.

O IPCA apresentou alta de 0,15 % no mês de agosto, sendo a menor variação mensal registrada em três anos (agosto de 2006, quando o índice variou 0,05%). Na categoria de alimentos, apesar dos preços terem ficado praticamente estáveis (-0,01%), houve grupos em que a variação foi bastante relevante. Entre as maiores altas destacaram-se as frutas (4,93%) e hortaliças/verduras (2,30%). Por outro lado, as maiores baixas foram observadas em leite e derivados (-3,69%) e óleos e gorduras (-2,53%). Com esse resultado, o IPCA acumula alta de 2,97% entre janeiro e agosto de 2009, portanto bem abaixo do verificado no mesmo período de 2008, de 4,48%. O grupo de alimentos acumulou alta de 2,56% no ano, enquanto a alta dos lácteos foi de 14,25%.

Os lácteos, que vinham apresentando altas sucessivas nos meses anteriores, registraram queda em alguns de seus produtos, o que fez com que a categoria contabilizasse um recuo de 3,69% no mês de agosto. A variação negativa mais acentuada foi a do leite UHT, com queda de 6,61% frente uma alta de 4,02% em julho. Houve recuo também nas cotações do iogurte, leite fermentado e creme de leite. Os principais aumentos ocorreram no leite condensado e no leite em pó, com alta de 1,05% e 1,0%, respectivamente (Figura 1).

No acumulado do ano, os preços dos lácteos ao consumidor registraram aumento de 14,25%.O leite UHT, apesar da queda de 6,61% no mês, foi o produto com maior alta no ano, acumulando valorização de 25,20%. Em seguida aparece o creme de leite, com 17,26%, e o queijo, com 5,63%. Somente o iogurte registrou queda no ano, de 2,82%. Em termos reais, descontando a inflação do período, nota-se que quatro produtos obtiveram valorização superior à inflação, sendo eles o leite UHT, creme de leite, queijos e leite em pó. Por outro lado, cinco produtos apresentaram valorizaram inferior a inflação, o que equivale a dizer que eles tiveram queda real de preços. Foram eles: leite com sabor, leite fermentado, manteiga, leite condensado e iogurte.

Na comparação anual, de agosto/2008 a agosto/2009, a inflação medida pelo IPCA contabilizou um crescimento de 4,36%. A categoria dos lácteos, por sua vez, apresentou um crescimento de 12,85%, mostrando valorização em termos reais. A maior valorização no período foi do leite UHT, com 23,64% de aumento em relação a agosto de 2008, seguido pelo creme de leite, com alta de 15,86%. Por outro lado, alguns produtos apresentaram recuo de preços, como o leite em pó (seguindo a tendência de queda nos preços internacionais), leite condensado e iogurte. Além destes três produtos, a manteiga, o leite com sabor e o leite fermentado registraram valorização inferior à inflação do período.

Portanto, após elevações expressivas na primeira metade do ano, os preços ao consumidor começaram a recuar. Para os próximos meses, o início do período de chuvas tende a impulsionar a oferta, reduzindo os preços ao produtor e, possivelmente, os preços ao consumidor. No entanto, ao consumidor outras variáveis devem ser consideradas, como o posicionamento da indústria, o ritmo das importações e a própria estratégia dos varejistas, que possuem elevado poder de negociação na cadeia produtiva. Além disso, o movimento de preços entre os derivados lácteos tende a ser diferente. Na comparação anual, por exemplo, verifica-se um descolamento bastante expressivo entre produtos como o leite UHT e o Creme de leite que registraram acentuada elevação. Na outra ponta, o leite condensado e o leite em pó tiveram quedas de preços. Parte desse descolamento é explicado pelo perfil de consumo, ou seja, o leite condensado e o leite em pó estão mais alinhados aos preços internacionais, que apresentaram queda acentuada com a crise financeira internacional. Já no caso do UHT houve reajustes importantes na gôndola e parte desses reajustes foram absorvido pelos consumidores.

Por fim, o movimento de preços ao produtor já é de desaceleração. A dúvida que fica diz respeito sobre a intensidade dessa queda. Apesar da captação de leite iniciar uma recuperação nos últimos três meses, em relação ao ano passado ela ainda está abaixo. A captação de julho de 2009 ficou 3,7% inferior a do mesmo mês de 2008. Nos sete primeiros meses em relação ao mesmo período do ano passado, a queda na captação foi de 6,0%, segundo levantamento do Cepea. Por outro lado, devido a forte apreciação do real frente ao dólar e a várias outras moedas, a nossa competitividade foi penalizada, o que comprometeu o fluxo de exportação. O exemplo disso, é que hoje temos preços ao produtor no patamar europeu e bem acima do verificado na Argentina. Mas esse é assunto para outro artigo. Por enquanto, o que se apresenta é uma perda de força dos preços de leite e derivados, tanto no produtor como no consumidor.

 

Agradecimentos: CNPq e Embrapa Gado de Leite.

 

Esta é a edição nº 34 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 22 de setembro de 2009, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Duarte Vilela, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Rui da Silva Verneque, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Elizabeth Nogueira Fernandes e Chefe-adjunto de Administração: Antônio Vander Pereira. Editores: Rosangela Zoccal e Glauco Carvalho. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Pedro Gomide e Leonardo Gravina. Projeto gráfico: Marcella Avila.

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