Evolução do setor lácteo nos países da América do Sul de 2000 a 2008

Lucas Campio Pinha - Bolsista do CNPq, estudante de economia da UFJF
Kennya Beatriz Siqueira - Pesquisadora da Embrapa Gado de Leite
Guilherme Fonseca Travassos - Bolsista do CNPq, estudante de economia da UFJF
Glauco Carvalho - Pesquisador da Embrapa Gado de Leite


Introdução

A cadeia produtiva do leite passou por diversas mudanças desde o início do século XXI até os dias atuais, e a grande maioria dos países teve que se adaptar às novas regras do mercado, com maior competitividade e qualidade dos produtos. A produção mundial de leite está distribuída por todo o mundo, mas com processos produtivos heterogêneos entre diferentes países. Países mais desenvolvidos, em geral, possuem produtividade mais elevada e maior escala de produção (CARVALHO et al., 2007). Muitos desses países, notadamente os europeus e os Estados Unidos contam com elevados subsídios. Nos países em desenvolvimento a produtividade também vem se elevando, contribuindo mais para a oferta mundial.

Apesar de continentes como Oceania, América (parte Norte) e Europa terem um papel maior na produção e comercialização de lácteos, a América do Sul possui países que se destacam no cenário mundial, além de boas perspectivas para aumento da produção, produtividade e comercialização de lácteos. No ano de 2008 os países da América do Sul produziram cerca de 59,1 milhões de toneladas de leite de vaca, o que corresponde a aproximadamente 10,2% do total mundial (FAO, 2009). Alguns países deste continente possuem uma produção pouco expressiva se comparada aos grandes produtores. Por outro lado, países como Brasil e Argentina se destacam, ocupando a 6ª e 17ª posição no ranking mundial de produtores de leite em 2008.

Somando a participação na produção de Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Uruguai e Venezuela, tem-se aproximadamente 98,8% da produção total do continente, ao passo que somente Brasil e a Argentina respondem por 64,7% (FAO, 2009). Analisando os dados referentes à produção e produtividade destes países entre 2000 e 2008, nota-se que houve mudanças expressivas. Diante disso, torna-se oportuno estudar os principais países produtores de lácteos da América do Sul, analisando o seu comportamento nos anos de 2000 a 2008, com base nos valores anuais de produção e produtividade.

Resultados e Discussão

A América do Sul é a quarta maior região produtora de leite do planeta, atrás de Ásia, América do Norte e Europa. Entre 2000 e 2008, a taxa de crescimento média da produção de leite na região foi de 3,4% ao ano, o que se deveu principalmente ao incremento na oferta do Equador, Peru e Brasil (Tabela 1).

 

 

Os países analisados registraram mudanças em seus rebanhos de vacas leiteiras. De acordo com o IFCN Dairy Report 2009 (IFCN, 2009), o Brasil, país que possui o maior rebanho leiteiro da América do Sul, aumentou em 20% o número de vacas de 2000 a 2008, enquanto a Colômbia, detentora do segundo maior rebanho da região, cresceu em 8% neste período. Outros destaques positivos foram Equador e Peru, que registraram incrementos expressivos de 31,3% e 52,5%, respectivamente. Por outro lado, na Argentina verificou-se um decréscimo de 14,3% no número de vacas ordenhadas, enquanto a produção ficou praticamente estável. A razão entre a produção total de leite e vacas ordenhadas resulta na produtividade do país, sendo este um indicador interessante para verificar a incorporação de tecnologia e ganho de competitividade do setor no tempo.

O país com maior produtividade da América do Sul é a Argentina, seguido do Chile. O primeiro, apesar da redução no número de vacas, conseguiu manter a produção devido ao incremento da produtividade. No Chile também foram registrados aumentos consecutivos de produtividade, ao passo que Colômbia, Brasil e Equador praticamente mantiveram estáveis seus níveis de produtividade no período analisado, sendo os piores de toda a América do Sul. Com isso, verifica-se que a maioria dos países da região possui níveis de produtividade baixos, principalmente se comparado com grandes players do mercado mundial de lácteos como Estados Unidos (8,7 t/vaca), Alemanha (6,9 t/vaca), França (6,6 t/vaca) e Nova Zelândia (4,1 t/vaca).

 

 

No âmbito dos custos de produção, a Argentina possui o mais baixo da América do Sul, inferior a US$ 30/100 kg. Brasil e Peru aparecem logo após, com algo em torno de US$ 30 a US$ 40 /100 kg de leite (IFCN, 2009). Portanto, mesmo possuindo os menores custos de produção da região, a Argentina ampliou a produção de leite de vaca em apenas 0,5% ao ano aproximadamente, ao passo que Brasil e Peru, apesar de terem custos relativamente maiores, cresceram a uma taxa média bem mais elevada. Vale destacar que a Argentina vivenciou uma crise econômica acentuada, sobretudo no triênio 1999-2001, além de instabilidade política recente, o que tem prejudicado os investimentos no setor.

A busca por eficiência produtiva nos países da América do Sul é fundamental para que haja um incremento maior da exportação de lácteos. Isso porque ganhos de produtividade, em geral, implicam em custos de produção mais competitivos para o leite cru e consequentemente de leite em pó, o principal derivado lácteo transacionado. De todo modo, os baixos índices de produtividade também ilustram o potencial de expansão da produção na região, caso ocorra a implantação em massa de programas de melhoramento genético do rebanho, maior profissionalização na gestão das fazendas, melhorias no manejo e na nutrição do rebanho.

Conclusão

Os países da América do Sul possuem diferenças no que se refere ao setor lácteo de cada local, porém algumas características são comuns à grande maioria, assim como em todo o mundo, como, por exemplo, a produção voltada para o consumo interno e o baixo nível de produtividade, com exceção de Argentina e Chile. Analisando os dados, vê-se que o continente tem condições de aumentar em grandes proporções o volume de produção, sobretudo no que se refere ao aumento da produtividade por melhorias técnicas, genéticas, econômicas entre outros.

Brasil e Argentina são os principais países produtores da região e são também os que apresentam as melhores perspectivas. Isto se deve ao fato de serem os Estados mais fortes, com maiores possibilidades de investimentos no setor, além de serem os maiores países em território, o que é propício ao crescimento da atividade leiteira como um todo.

 

Referências bibliográficas

CARVALHO, G. R.; YAMAGUCHI, L.. C. T.; COSTA, C. N.; HOTT, M. C. Leite: Análise de produtividade. Revista Agroanalysis, v. 27, n. 09, p. 19-21, . set. de 2007.

COMTRADE - United Nations Commodity Trade Statistics Database: Statistic Division. Commodity Trade Division. United Nations, New York, 2009. Disponível em: . Acesso em: 10 jan. 2010.

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IFCN Dairy Report 2009. Kiel, Germany: IFCN Research Center, 2009.

LEITE, J. L. B.; CARVALHO. G. R. O comércio mundial de lácteos e a participação brasileira. In: LEITE, J. L. B. et al. (Ed.). Comércio Internacional de Lácteos. 2. ed. rev. e ampl. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2009. p. 11-13.

SANTINI, G. A.; PEDRA, D. F. B. N.; PIGATTO, G. Internacionalização do setor lácteo: a busca pela consolidação. In: CONGRESSO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL, 47., 2009, Porto Alegre. Desenvolvimento rural e sistemas agroalimentares: os agronegócios no contexto de integração das nações: anais. Porto Alegre: SOBER, 2009. Disponível em: . Acesso em: 13 jan. 2010.

 

Esta é a edição nº 41 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 22 de abril de 2010, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Duarte Vilela, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Rui da Silva Verneque, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Elizabeth Nogueira Fernandes e Chefe-adjunto de Administração: Antônio Vander Pereira. Editores: Kennya Beatriz Siqueira e Marcos Cicarini Hott. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Pedro Gomide e Leonardo Gravina. Projeto gráfico: Marcella Avila.

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