Sistemas Silvipastoris: uma alternativa para projetos de seqüestro de carbono

Marcelo Dias MÜLLER; Elizabeth Nogueira FERNANDES; Domingos Sávio Campos PACIULLO; Carlos Renato Tavares de CASTRO.

          

            O aumento desproporcional da concentração de gases efeito estufa – GEE’s na atmosfera no decorrer do último século, em função da atividade humana, levou a comunidade internacional a criar e estabelecer instituições e organismos voltados para a gestão deste problema. Durante a Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro em 1992, foi criada a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – UNFCCC, representando um esforço global de cerca de 180 países no sentido de estabilizar as emissões de GEE’s. Após a entrada da UNFCCC em vigor, em 1994, passaram a ser realizadas anualmente reuniões entre os representantes dos países signatários para a tomada de decisões em relação às mudanças climáticas. Estas reuniões foram denominadas de Conferência das Partes – COP. A terceira conferência das partes – COP 3, realizada em Quioto, Japão, em 1997, culminou com o estabelecimento do Protocolo de Quioto que estabeleceu metas de redução de emissões para os países industrializados (5,2% em média) abaixo dos níveis observados em 1990, no período compreendido entre 2008 e 2012. Dentre os mecanismos estabelecidos como uma forma de viabilizar o alcance dessas metas dos países desenvolvidos, o mais importante para os países em desenvolvimento é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL, que tem como objetivo assistir aos países não desenvolvidos, para que elas atinjam o desenvolvimento sustentável e contribuam para o objetivo final da Convenção. Este mecanismo permite que os países desenvolvidos financiem projetos de redução de emissões ou seqüestro de carbono em países em desenvolvimento, como forma de cumprir seus compromissos e, ao mesmo tempo, contribuir para o desenvolvimento sustentável dos países emergentes. Dentre os projetos elegíveis para mitigação de emissões vale destacar os projetos de florestamento e reflorestamento, incluindo aí a possibilidade de Sistemas Agroflorestais.


            Assim, diversos autores têm investido no estudo da dinâmica do carbono em sistemas silvipastoris. Os resultados encontrados são promissores e revelam o grande potencial que os sistemas silvipastoris têm para compor projetos de seqüestro de carbono.


            Na Embrapa Gado de Leite foi desenvolvido um estudo com o objetivo de quantificar o estoque de carbono em um sistema silvipastoril implantado na Zona da Mata Mineira como subsídio para o estudo de alternativas de manejo de sistemas silvipastoris, como forma de integração de objetivos sócio-econômicos e ambientais.


            Os dados analisados neste estudo foram provenientes de um experimento silvipastoril misto com 10 anos de idade implantado em uma área de 4 hectares. O sistema é composto por 2 espécies arbóreas: Eucalyptus grandis e Acacia mangium e o componente herbáceo é formado por pastagem de Brachiaria decumbens.


            Este modelo foi desenvolvido pela Embrapa Gado de Leite visando associar aspectos conservacionistas (controle de erosão, conservação da água, ciclagem de nutrientes, etc.) com aspectos econômicos, pela obtenção de produtos florestais e aumento da produtividade animal, para áreas montanhosas da Zona da Mata Mineira.


            Com base nessas equações foram calculados o volume, a biomassa e o carbono do fuste das árvores do povoamento conforme apresentado nas Tabelas 1 e 2.

 

Tabela 1. Volume total (VT), biomassa e carbono estocados (por hectare) no fuste das árvores de Eucalyptus grandis por classe de diâmetro aos 10 anos de idade.

 

Classe diamétrica (cm) Freqüência VT (m3)

Biomassa (Mg  ha-1)*

C (Mg  ha-1)

00,00 – 4,99

1

0,003

0,002

0,001

5,00 – 9,99

2

0,062

0,038

0,017

10,00 – 14,99

6

0,507

0,314

0,141

15,00 – 19,99

7

1,633

1,013

0,456

20,00 – 24,99

9

3,604

2,235

1,006

25,00 – 29,99

11

6,905

4,281

1,927

30,00 – 34,99

13

12,00

7,443

3,349

35,00 – 39,99

8

10,00

6,196

2,788

40,00 – 44,99

2

3,242

2,010

0,904

45,00 – 49,99

1

2,067

1,282

0,577

Total

60

40,00

24,81

11,17

 

* Considerando uma densidade de 620 kg/m3, para E. grandis com 11 anos de idade (BRITO & BARRICHELO, 1977).

 

 

Tabela 2. Volume total (VT), biomassa e carbono estocados (por hectare) no fuste das árvores de Acacia mangium por classe de diâmetro aos 10 anos de idade.

 

Classe diamétrica (cm) Freqüência VT (m3)

Biomassa (Mg  ha-1)*

C (Mg  ha-1)

00,00 – 4,99

0

0

0

0

5,00 – 9,99

2

0,062

0,032

0,015

10,00 – 14,99

11

0,929

0,487

0,219

15,00 – 19,99

12

2,800

1,467

0,660

20,00 – 24,99

15

6,007

3,148

1,417

25,00 – 29,99

4

2,511

1,316

0,592

30,00 – 34,99

1

0,923

0,484

0,218

35,00 – 39,99

0

0

0

0

40,00 – 44,99

0

0

0

0

45,00 – 49,99

0

0

0

0

Total

45

13,23

6,934

3,12

 

* Considerando uma densidade de 524 kg/m3 (Vale et al., 1999)

 

          

            Considerando as duas espécies arbóreas, estimou-se um total de 31,74 Mg ha-1 de biomassa e 14,29 Mg ha-1 de carbono. GIRALDO et al. (2007) encontraram resultados semelhantes para sistemas silvipastoris de Acacia mangium consorciada com Brachiaria dyctioneura, com densidade de 100 plantas por hectare. Segundo o autor, somente para a parte aérea do componente florestal foi estimado um total de 30,22 Mg de biomassa seca por hectare.


            KAUR et al. (2002), avaliando o estoque de carbono em sistemas silvipastoris com 6 anos de idade, estabelecidos em solos com altos teores de sódio e precipitação média anual de 600 mm, na região noroeste da Índia, encontraram valores de biomassa de fuste variando entre 4,62 a 9,78 Mg ha-1 em três diferentes arranjos espaciais de árvores. Para o componente herbáceo foram registrados valores variando entre 0,42 a 3,92 Mg ha-1. Neste estudo os autores consideraram a biomassa aérea total.


            Em outro estudo realizado por TSUKAMOTO FILHO (2003) na região noroeste de Minas Gerais, em um sistema agrossilvipastoril com eucalipto na densidade de 250 árvores por hectare, foi observado uma produção de 107,96 Mg ha-1 de biomassa seca do fuste, aos 10 anos de idade, o que corresponde a 0,43 Mg por planta, valor bastante semelhante ao encontrado para o eucalipto neste trabalho (0,41 Mg ha-1).


            GUTMANIS (2004) observou valores próximos em experimento silvipastoril com Pinus elliotti na região de Nova Odessa, SP, em duas densidades de plantio. Para a densidade de 200 árvores por hectare o acúmulo de biomassa no fuste das árvores foi de 104,54 Mg ha-1, correspondendo a 0,523 Mg por planta. Já na densidade de 400 árvores por hectare houve maior acúmulo de biomassa, 187,36 Mg ha-1, correspondendo a 0,468 Mg por planta. Para o componente herbáceo foram observados valores de 8,23 Mg ha-1, para o sistema com densidade de 200 árvores por hectare e 6,58 Mg ha-1, para o sistema com densidade de 400 árvores por hectare. Nesse estudo também foi considerada a biomassa aérea total.


            Segundo SHARROW & ISMAIL (2004), 90% do carbono das pastagens são armazenados no solo sob a forma de matéria orgânica, o que evidencia a necessidade da inclusão desse compartimento nos estudos sobre fixação de carbono em sistemas silvipastoris.


            Os resultados aqui apresentados, coincidem com estimativas observadas em outros estudos com diferentes espécies, arranjos e regiões e são apenas indicativos do potencial deste sistema silvipastoril, recomendando-se maiores estudos com relação aos demais compartimentos dele componentes.

 
 

 

Esta é a edição nº 16 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 11 de março de 2008, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Paulo do Carmo Martins, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Pedro Braga Arcuri, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Marne Sidney de Paula Moreira e Chefe-adjunto de Administração: Luiz Fernando Portugal Silva. Editora Geral: Rosangela Zoccal. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Vanessa Maia A. de Magalhães. Projeto gráfico: Marcella Avila. Editoração eletrônica: Angela de Fátima A. Oliveira e Leonardo Fonseca. Estagiário: Milana Zamagno.

 

 

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