Concentração da produção de leite em Minas Gerais

Marcos Cicarini Hott; Glauco Carvalho e Aryeverton Fortes de Oliveira - Pesquisadores da Embrapa Gado de Leite e da Embrapa Monitoramento por Satélite – hott@cnpgl.embrapa.br

          

A produção de leite está distribuída por todo o país, com diferentes sistemas de produção. Inúmeros pequenos produtores estão espalhados por todo o território nacional e vivem da renda gerada na atividade. A Indústria de laticínios também é uma importante fonte de geração de emprego.

 

A produção de leite em Minas Gerais, também está difundida em todo seu território. Este fato demanda uma análise da concentração espacial e do rebanho de vacas ordenhadas, sendo possível quantificá-las no tempo por meio do ferramental disponível em Sistemas de Informações Geográficas (SIG).

 

Portanto, avaliar a distribuição da produção e plantel ao longo do território, e como se dá sua concentração suscita questões a respeito da função social e econômica do leite para o Estado. Nessa análise, consultaram-se as bases de dados do IBGE, juntando estas às bases vetoriais existentes por meio da chave municipal, usando as funções específicas do SIG. Posteriormente à compilação dos dados geográficos, calculou-se a concentração da produção de leite e das vacas ordenhadas por meio de duas medidas de concentração: Razão de Concentração (CR) e o Índice de Hirschman-Herfindahl (HHI). Quanto maior o CR, maior a concentração. O CR(1) indica a participação do maior município no total e o CR(10) indica a participação dos dez maiores municípios, e assim por diante. Já o HHI calcula a concentração como um todo e não apenas a participação dos maiores. Assim, um HHI menor que 1.000 indica baixa concentração, de 1.000 a 1.800 indica concentração moderada e acima de 1.800 indica alta concentração.

 

A seguir as tabelas e mapas, os quais se configuram em uma radiografia da cadeia leiteira no período entre 1990 e 2004. Após a consolidação de informações recentes sobre o leite realizaremos novas análises desse cunho.

 

A Tabela 1 mostra os municípios com maior produção de leite e vacas ordenhadas, respectivamente.          

 

Tabela 1. Principais municípios em produção de leite e vacas ordenhadas em Minas Gerais (1990 – 2004).

 

Produção de Leite

Vacas Ordenhadas

1990 2004 1990 2004
Município Produção
(milhões lt)
Município Produção
(milhões lt)
Município vacas (mil cabeças) Município vacas (mil cabeças)
Iturama

60,7

Ibiá

101,4

Iturama

113,1

Frutal

51,0

Campina Verde

55,0

Patos de Minas

89,8

Campina Verde

98,4

Carneirinho

50,5

Ibiá

42,1

Pompéu

84,7

Prata

59,0

Patos de Minas

47,7

Passos

42,0

Patrocínio

77,0

Unaí

50,0

Paracatu

46,3

Prata

40,6

Bom Despacho

74,2

Patos de Minas

48,3

Campina Verde

42,6

Unaí

40,0

Paracatu

66,0

Uberlândia

47,5

Prata

41,9

Governador Valadares

38,4

Perdizes

62,9

Ituiutaba

47,3

Ibiá

40,0

Patos de Minas

36,9

Unaí

59,0

Tupaciguara

43,1

Carlos Chagas

38,7

Uberlândia

35,7

Prata

58,7

Governador Valadares

42,7

Curvelo

36,8

Sacramento

33,4

Uberaba

54,9

Itapagipe

39,0

Itapagipe

36,1

 

Fonte: IBGE. Elaboração: Embrapa Gado de Leite

 

Na análise da concentração, verificou-se que o HHI para a produção de leite por município passou de 33,7 para 36,0 entre 1990 e 2004 mostrando uma baixíssima concentração (Tabela 2). Pela razão de concentração, o principal produtor em 2004, o município de Ibiá, foi responsável por 1,5% da oferta mineira de leite. Em 1990, o município de Iturama era o principal produtor, com 1,4% da produção. A participação dos 100 maiores produtores, em um total de 853 municípios, passou de 46,7% para 47,9% da produção, ou seja, 11,7% dos municípios foram responsáveis por quase metade da produção estadual de leite.

 

Para as vacas ordenhadas, além de apresentar-se com baixa concentração, houve uma pulverização ainda maior da produção com o HHI recuando de 41,3 para 30,9. O CR(1) caiu pela metade, de 2,3% para 1,1% de 1990 a 2004. O mesmo movimento foi visto nos demais indicadores da razão de concentração. É interessante notar que, em 1990, a concentração das vacas ordenhadas era superior a da produção, situação que inverteu em 2004. Nesse período, o aumento de produtividade foi colossal. Enquanto a produção de leite dos 100 maiores municípios passou de 2,0 bilhões de litros para 3,17 bilhões de litros (incremento de 58,3%), o número de vacas ordenhadas caiu de 2,40 milhões para 2,04 milhões (redução de 15,0%). Portanto, o aumento de produtividade no período foi de 86,3% ou 4,5% ao ano.

 

Tabela 2. Concentração da produção de leite e de vacas ordenhadas em Minas Gerais, por município

 

Indicador de Concentração

Produção de Leite Vacas Ordenhadas
1990 2004 1990 2004
HHI

33,7    

36,0    

41,3    

30,9    

CR(1)

1,4%

1,5%

2,3%

1,1%

CR(10)

9,9%

11,0%

12,1%

9,5%

CR(50)

31,3%

33,1%

34,9%

30,4%

CR(100)

46,7%

47,9%

49,6%

44,9%

 

Fonte: Autores

   

A distribuição da produção de leite e das vacas ordenhadas pode ser vista nas Figuras 1 e 2, com destaque para os municípios localizados principalmente no Triângulo Mineiro, Sudoeste e o Centro do Estado. Em menor intensidade, os municípios da Zona da Mata também apresentaram elevação de produção e de vacas ordenhadas.

 

A Figura 3 demonstra como houve incremento da produtividade em praticamente todo o Estado e de forma significativa. Destaque para os municípios localizados na Região Central e Sudoeste. Em 2004, o município de Inhaúma atingiu o maior índice de produtividade média registrado, de 5.096 litros por vaca ordenhada.

 

A produção de leite está distribuída por praticamente todo o território mineiro e com distintos perfis tecnológicos. A análise da concentração territorial mostrou como é pulverizada essa atividade no Estado, verificando-se uma baixa concentração em municípios. A notória deficiência em nossa infra-estrutura de transporte, principalmente devido à precariedade das rodovias, penaliza bastante o setor produtivo. Isso é potencializado justamente pela pulverização da atividade, cuja coleta do produto é muito fragmentada.

A produtividade média do rebanho leiteiro cresceu bastante no período analisado, o que levou a um incremento maior da concentração da produção vis a vis das vacas ordenhadas. Essa melhoria de produtividade ocorreu graças à adoção de técnicas mais avançadas de melhoramento genético, melhor qualidade da alimentação e manejo mais adequado dos animais. Ainda assim, é preciso avançar mais no âmbito de produtividade não esquecendo dos ganhos de qualidade do leite.

 

Conclui-se que se justifica a análise de concentração em termos de bacias leiteiras, pois alguns municípios pertencentes a algumas delas se destacaram. Destaca-se o suporte do ferramental geotecnológico aos trabalhos que envolvam logística, territorialidade ou questões fundiárias, o qual permite a localização dos fenômenos estudados no espaço geográfico.

 

Fonte: IBGE.
Elaboração: Embrapa Gado de Leite.
Figura 1: Distribuição da produção de leite, por município, em Minas Gerais: 1990 e 2004.

 

 

Fonte: IBGE.
Elaboração: Embrapa Gado de Leite.
Figura 2: Distribuição das vacas ordenhadas, por município, em Minas Gerais: 1990 e 2004.

 

 

 

Fonte: IBGE.
Elaboração: Embrapa Gado de Leite.
Figura 3: Produtividade leiteira, por município, em Minas Gerais: 1990 e 2004.

 

Esta é a edição nº 17 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 4 de abril de 2008, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Paulo do Carmo Martins, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Pedro Braga Arcuri, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Marne Sidney de Paula Moreira e Chefe-adjunto de Administração: Luiz Fernando Portugal Silva. Editora Geral: Rosangela Zoccal. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Vanessa Maia A. de Magalhães. Projeto gráfico: Marcella Avila. Estagiárias: Milana Zamagno e Katyelen da Silva Costa.

 

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