Sistemas Referências de Produção de Leite:

Região Norte de Minas Gerais


Alziro V. Carneiro, Luiz Carlos T. Yamaguchi e Glauco R.Carvalho- Embrapa Gado de Leite

alziro@cnpgl.embrapa.br

 Rodrigo Puccini Venturin - Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 

          

A mesorregião Norte de Minas produz 261 milhões de litros de leite/ano, respondendo por cerca de 4% da produção estadual. Os sistemas de produção são heterogêneos, exigindo uma avaliação mais detalhada de suas características. Para isso realizou-se uma pesquisa utilizando a técnica de painel, que reuniu 17 especialistas em produção de leite com amplo conhecimento da região selecionada. Em linhas gerais, o estudo propôs caracterizar e identificar sistemas referências ou modais de produção de leite, para posterior levantamento de coeficientes técnicos. Estes coeficientes são básicos para aferir o desempenho técnico e econômico dos setores de produção e de serviços que compõem o sistema global de produção de leite.

 

Entende-se por sistema referência ou modal aquele que representa um grupo de sistemas de produção de leite que adota o mesmo nível tecnológico ou aquele sistema que é adotado com maior freqüência entre os produtores de leite da região. Praticar o mesmo nível tecnológico implica que os processos, insumos e serviços empregados sejam o mesmo dentro do grupo, sem a necessidade de considerar a escala de produção ou o nível de utilização de insumos e serviços. O levantamento dos coeficientes técnicos, em nível de unidades produtivas, foi realizado com o auxílio do aplicativo SisSeg, desenvolvido em planilha eletrônica da Microsoft Excel®.

 

Foram caracterizados três sistemas referências, doravante identificados como A, B e C. Com relação à representatividade destes sistemas, em termos de números de produtores, correspondem a 80%, 19% e 1%, respectivamente, e em termos de produção regional de leite, 51%, 38% e 12%. Quanto ao número de vacas ordenhadas representam 74%, 22% e 4%, respectivamente.

 

Algumas medidas de tamanho e indicadores de desempenho são apresentadas e discutidas para os setores de produção (leite, fêmeas para reposição e alimentos volumosos) e setores de serviços (trator e implementos, irrigação e reprodução).

 

Na Tabela 1 são apresentados seis indicadores de desempenho para o setor de produção de leite, sendo três técnicos e três econômicos.

 

Analisando os indicadores de desempenho técnico, observa-se que o sistema B foi o menos eficiente em termos de utilização de pastagens, indicando uso excessivo do fator terra no processo produtivo. Destaque deve ser dado ao ótimo desempenho no emprego do fator mão-de-obra no sistema C, comparável com as produtividades alcançado pelos sistemas eficientes do sul do país. Quanto aos indicadores de desempenho econômico, o ativo imobilizado por litro de leite, foi, no sistema C, apenas 45% daqueles observados nos sistemas A e B. A remuneração do ativo imobilizado foi superior ao rendimento real da caderneta de poupança (6% a.a.), nos três sistemas considerados, com destaque para os sistemas B e C, que apresentaram rendimentos superiores em 2,5 e 2,4 vezes, respectivamente, ao rendimento considerado. Por fim, o giro do ativo imobilizado mostra a velocidade com que o faturamento girou em relação ao ativo imobilizado, que foi bastante reduzido nos três sistemas identificados, chegando a apenas 0,59 no caso do sistema C que obteve maior indicador.

 

Tabela 1. Indicadores de desempenho técnico e econômico do setor de produção de leite, caracterizados e identificados para a região Norte de Minas Gerais. Setembro de 2008.

 

Indicador de Desempenho

Unidade

Sistema Referência

A

B

C

Técnico

 

 

 

 

Taxa de lotação das pastagens

UA/ha

           1,71

            1,19

            2,18

Produtividade de pastagens

lt/ha/ano

    2.410,98

      1.865,72

      5.310,23

Produtividade da mão-de-obra

lt/dh

              97

             262

             620

Econômico

 

 

 

 

Ativo imobilizado

R$/lt

           1,58

            1,10

            0,55

Remuneração do ativo imobilizado

% a.a.

           7,18

          15,15

          14,67

Giro do ativo imobilizado

           0,20

            0,27

            0,59

Fonte: Dados de pesquisa
 

Na Tabela 2 são apresentados cinco indicadores de desempenho para o setor de produção de fêmeas para reposição, sendo três técnicos e dois econômicos.

 

Tabela 2. Indicadores de desempenho técnico e econômico do setor de produção de fêmeas para reposição do rebanho de vacas, caracterizados e identificados para a região Norte de Minas Gerais. Setembro de 2008.

 

Indicador de Desempenho

Unidade

Sistema Referência

A

B

C

Técnico

 

 

 

 

Taxa de lotação das pastagens

UA/há

1,71

0,30

1,56

Produtividade de pastagens

Cab/há

3,82

0,97

2,54

Produtividade da mão-de-obra

dh/cab/ano

1,93

1,54

0,85

Econômico

 

 

 

 

Ativo imobilizado

R$

  26.742,00

   64.145,00

   261.228,54

Ativo imobilizado por cabeça

R$/cab

    742,83

       839,31

       1.044,91

Custo total da novilha ao parto

R$/cab

594,68

1.052,49

1.308,10

Fonte: Dados de pesquisa
 

Como no caso anterior, os indicadores de desempenho técnico mostram que o Sistema B foi também menos eficiente em termos de utilização de pastagens. Também neste caso, o Sistema C mostrou ser mais eficiente na utilização da mão-de-obra, empregando apenas 0,44% e 0,55%, quando comparado aos sistemas A e B, respectivamente. Em termos de ativo, o Sistema C imobiliza 9,8 e 4,1 vezes mais do que os sistemas A e B, respectivamente, enquanto em termos de ativo por cabeça, o sistema C imobiliza 1,4 e 1,2 vezes mais. Quanto ao custo de criação da novilha até o parto, também foi superior no sistema C, sendo 2,2 e 1,2 vezes maior do que os observados nos sistemas A e B.

 

A Tabela 3 mostra algumas medidas de tamanho e indicadores de desempenho econômico do setor de produção de alimentos volumosos. Conforme se observa, as culturas anuais estão presentes nos sistemas B e C, consistindo basicamente de sorgo para confecção de silagem. As culturas perenes consistem de pastagens de braquiária e de forrageiras de corte como capineira e cana-de-açúcar. No sistema A utiliza-se apenas as pastagens como alimentação volumosa do rebanho, enquanto no sistema B, adota-se a capineira, cana-de-açúcar e sorgo para silagem, além das pastagens de braquiária. Por fim, o sistema C, utiliza pastagens de braquiária, cana-de-açúcar e milho irrigado e sorgo para produção de silagem.

 

Tabela 3. Medidas de tamanho e indicadores de desempenho econômico do setor de produção de alimentos volumosos, caracterizados e identificados para a região Norte de Minas Gerais. Setembro de 2008.

 

Tamanho e Desempenho Econômico

Unidade

Sistema Referência

A

B

C

Tamanho

 

 

 

 

Área com culturas anuais

ha

-

7,0

65,5

Área com culturas perenes

ha

        23,0

         157,5

         247,0

Área de pastagem

ha

        23,0

         155,0

239,0

Econômico

 

 

 

 

Ativo Imobilizado

R$

77.000,00

484.500,00

1.250.000,00

Custo total do setor

R$/ano

    7.613,29

    35.078,22

   221.870,34

Custo médio da pastagem

R$/ha

       454,22

         145,73

         358,63

Custo médio do volumoso

R$/t

-

           77,50

           75,49

Fonte: Dados de pesquisa
 

Analisando os dados econômicos, observa-se que o sistema C imobiliza um montante considerável na forma de terra e forrageiras perenes, representando cerca de 16,2 e 2,6 vezes maior do que os verificados nos sistemas A e B, respectivamente. Quanto ao custo total do setor, foi observado que no sistema C ele é maior em 29,1 e 6,3 vezes quando comparado aos sistemas A e B. Observou-se ainda, que o maior custo médio da pastagem foi no Sistema A, seguido dos sistemas C e B, enquanto o custo médio do volumoso foi semelhante nos sistemas B e C, uma vez que o sistema A não adota tal tecnologia.

 

A Tabela 4 ilustra algumas medidas de tamanho e indicadores de desempenho econômico do setor de trator e implementos. Conforme dados apresentados, somente o sistema C dispõe de trator e implementos, cujas horas trabalhadas, ativo imobilizado e custo-hora do trator e implementos são apresentados na tabela.

 

Tabela 4. Medidas de tamanho e indicadores de desempenho econômico do setor de trator e implementos, caracterizados e identificados para a região Norte de Minas Gerias. Setembro de 2008.

 

Tamanho e Desempenho Econômico

Unidade

Sistema Referência

A

B

C

Tamanho

 

 

 

 

Total de horas trabalhadas

h/ano

-

-

3.000,00

Econômico

 

 

 

 

Ativo imobilizado

R$

-

-

312.600,00

Custo-hora trator e implementos

R$/h

-

-

29,05

Fonte: Dados de pesquisa
 

Na Tabela 5 são apresentadas algumas medidas de tamanho e indicadores de desempenho econômico do setor de irrigação. Como no caso anterior, somente o sistema C faz uso da tecnologia de irrigação. Atualmente, este sistema é utilizado apenas na cultura de milho para produção de silagem, o que evidencia a sua subutilização, que pode ser constatado pelo auto custo-hora apurado, de R$ 5,69. O sistema de irrigação será otimizado à medida que for empregado em outras atividades, que já faz parte do planejamento do empresário.

 

Tabela 5. Medidas de tamanho e indicadores de desempenho econômico do setor de irrigação, caracterizados e identificados para a região Norte de Minas Gerias. Setembro de 2008.

 

Tamanho e Desempenho Econômico

Unidade

Sistema Referência

A

B

C

Tamanho

 

 

 

 

Área irrigada

ha

-

-

13,50

Dias de irrigação

Dias/ano

-

-

240

Desempenho econômico

 

 

 

 

Ativo imobilizado

R$

-

-

37.000,00

Custo hora de irrigação

R$/hora

-

-

5,69

Custo hectare de irrigação

R$/ha

-

-

1.618,19

Fonte: Dados de pesquisa
 

A Tabela 6 mostra alguns indicadores obtidos no setor de reprodução. Foram computados os custos com reprodutores, rufiões e com a inseminação artificial. Os três sistemas adotam monta natural com a utilização de reprodutores, sendo que no sistema A o reprodutor é mestiço e no sistema B de raças com aptidão leiteira. No sistema C o manejo reprodutivo é realizado com reprodutores de raças especializadas para produção de leite e com a técnica de inseminação artificial. Os custos com reprodutores, rufiões e inseminação artificial evidenciam as vantagens com a adoção da técnica de inseminação, pois além de menor custo, proporcionam grande e rápida melhoria do rebanho, se utilizada de maneira adequada.

 

Tabela 6. Indicadores de medidas de tamanho e desempenho econômico do setor de reprodução, caracterizados e identificados para a região Norte de Minas Gerias. Setembro de 2008.

 

Tamanho e Desempenho Econômico

Unidade

Sistema Referência

A

B

C

Tamanho

 

 

 

 

Reprodutor

cab.

1

1

3

Rufião

cab.

-

-

5

Sêmen

doses

-

-

120

Econômico

 

 

 

 

Ativo imobilizado

R$/ano

1.550,00

2.000,00

17.600,00

Custo - reprodutores e rufiões

R$/ano

473,61

1.131,47

10.437,06

Custo - inseminação artificial

R$/ano

-

-

3.000,00

Custo total da reprodução

R$/cab

11,55

12,43

46,33

Fonte: Dados de pesquisa

 

Agradecimentos: à Fapemig que apoia e financia esta pesquisa.

 

Esta é a edição nº 23 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 10 de outubro de 2008, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Duarte Vilela, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Rui da Silva Verneque, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Carlos Eugênio Martins e Chefe-adjunto de Administração: Antônio Vander Pereira. Editora Geral: Rosangela Zoccal. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Vanessa Maia A. de Magalhães. Projeto gráfico: Marcella Avila. Estagiárias: Milana Zamagno, Katyelen da Silva Costa e Rafael Junqueira.

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