Análise da sazonalidade da produção de leite no Brasil


Rafael Junqueira – Estagiário da Embrapa Gado de Leite

 Rosangela Zoccal e João Eustáquio C. de Miranda – Pesquisadores da Embrapa Gado de Leite

e-agro@cnpgl.embrapa.br

          

O clima predominante no Brasil é o tropical, caracterizado por temperaturas elevadas e estações do ano bem definidas, com inverno seco e verão chuvoso. A escassez de chuvas no período da seca, conjugado com o frio nos meses de julho a agosto, são o principal causador da queda do volume de leite na entressafra, motivado principalmente pela redução da disponibilidade e qualidade nutricional das pastagens, o que exige suplementação do rebanho com volumoso e/ou concentrado.

 

As regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste são as principais regiões produtoras de leite no país (Tabela 1). Especialmente nos estados de Minas Gerais, Goiás e São Paulo, o clima tropical é bastante característico, com verão quente e chuvoso e inverno seco. Esses períodos são caracterizados por abundância e escassez de forragem nas pastagens, que influenciam diretamente no volume de leite produzido, principalmente nos sistemas menos especializados, isto é, com menor preocupação com a alimentação do rebanho no período de seca.

 

Tabela 1. Produção de leite no Brasil – 2007*

 

Região

Volume (milhões litros)

Participação no total (%)

Sudeste

10.005

38

Sul

7.495

28

Centro-Oeste

3.775

14

Nordeste

3.460

13

Norte

1.737

7

*Estimativa da Embrapa Gado de Leite
Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal
Elaboração: Embrapa Gado de Leite
 

A sazonalidade da produção de leite é tema de grande importância para o setor lácteo por suas implicações nos vários agentes presentes no sistema agroindustrial do leite, como os produtores rurais e as empresas processadoras de leite e derivados.

 

A sazonalidade afeta diretamente os produtores de leite pela redução de sua receita na época da entressafra devido a queda do volume de leite no período, ao mesmo tempo em que eleva os custos de produção, seja pela necessidade de oferecer ao gado volumoso suplementar (cana e uréia, silagem de milho, silagem de sorgo), seja pelo maior uso de concentrados e o maior gasto com mão-de-obra.

 

Os laticínios com oscilações do volume de leite captado, também apresentam problemas relacionados com ociosidade industrial, mão-de-obra empregada, regularidade no abastecimento do mercado e no planejamento estratégico de médio e longo prazo.

 

O presente artigo analisa a sazonalidade da produção de leite nacional tomando em consideração dados do IBGE da Pesquisa Trimestral do Leite. Vale ressaltar que esses dados são oriundos de estabelecimentos de leite e derivados que estão sob inspeção sanitária federal (SIF), estadual (SIE) ou municipal (SIM), que representam aproximadamente 65% do leite produzido no Brasil.

 

O cálculo da sazonalidade considerou a média mensal dos últimos seis anos, de 2002 a 2007 e a produção de leite do mês de maior volume em comparação ao mês de menor volume para todos os estados da Federação.

 

Os estados de Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, São Paulo, Santa Catarina e Bahia são responsáveis por aproximadamente 80% da produção de leite do Brasil e são destacados na Figura 1. Podemos observar que a sazonalidade da produção varia entre as regiões do país. Entre os estados com maior volume de produção, São Paulo apresentou a menor sazonalidade. Em contrapartida, a Bahia foi o estado com maior sazonalidade, com diferença de 31,2% do mês de maior volume para o mês de menor volume de leite.

 

A menor sazonalidade em São Paulo pode ser explicada pelo maior uso de tecnologia na produção de leite, com muitos produtores adotando sistema de semi-confinamento, tanto no período de seca
> como nas águas.

 

          Fonte: IBGE - Pesquisa Trimestral do Leite

          Elaboração: Embrapa Gado de Leite

Figura 1: Sazonalidade da produção de leite em sete estados, 2002 a 2007.

          

Quando se agrupa os estados por região, pode-se observar que o Nordeste apresenta a menor sazonalidade, com variação de 18,5% e em seguida o Sudeste com 19,9%. A região de maior sazonalidade é o Norte do país, com queda de 30,8% do volume de leite no mês de menor produção (Figura 2).

 

A menor sazonalidade verificada no Nordeste pode ser explicada pela necessidade do produtor ter que tratar o gado, quase que durante o ano todo, com volumoso suplementar e/ou concentrado conforme a produção do rebanho.

 

 

          Fonte: IBGE - Pesquisa Trimestral do Leite

          Elaboração: Embrapa Gado de Leite

Figura 2: Sazonalidade da produção de leite nas regiões brasileiras (%), 2002/2007.

          

O uso de tecnologias e assistência técnica eficiente são fatores chaves para que o Brasil reduza a sazonalidade da produção de leite, contribuindo para que o produtor rural tenha uma receita constante ao longo do ano e os laticínios uma maior previsibilidade quanto a oferta de leite, melhorando assim a relação produtor X indústria, que é vital para o bom desempenho dessa cadeia produtiva de tanto valor e importância para o país.

 

Esta é a edição nº 23 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 10 de outubro de 2008, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Duarte Vilela, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Rui da Silva Verneque, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Carlos Eugênio Martins e Chefe-adjunto de Administração: Antônio Vander Pereira. Editora Geral: Rosangela Zoccal. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Vanessa Maia A. de Magalhães. Projeto gráfico: Marcella Avila. Estagiárias: Milana Zamagno, Katyelen da Silva Costa e Rafael Junqueira.

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