Sistemas referências de produção de leite: Zona da Mata de Minas Gerais


Alziro V. Carneiro, Luiz Carlos T. Yamaguchi e Glauco Carvalho - Embrapa Gado de Leite

alziro@cnpgl.embrapa.br

          

A mesorregião Zona da Mata de Minas produz 707 milhões de litros de leite/ano, respondendo por cerca de 10% da produção estadual. Os sistemas de produção são heterogêneos, exigindo uma avaliação mais detalhada de suas características. Para isso realizou-se uma pesquisa utilizando a técnica de painel, que reuniu especialistas em produção de leite com amplo conhecimento da região. O levantamento dos coeficientes técnicos, em nível de unidades produtivas, foi realizado com o auxílio do aplicativo SisSeg, desenvolvido em planilha eletrônica da Microsoft Excel®. Em linhas gerais, o estudo propôs caracterizar e identificar sistemas referências ou modais de produção de leite, para posterior levantamento de coeficientes técnicos. Estes coeficientes são básicos para aferir o desempenho técnico e econômico dos setores de produção e de serviços que compõem o sistema global de produção de leite.

 

Foram caracterizados três sistemas referências, doravante identificados como A, B e C. Com relação à representatividade destes sistemas, em termos de números de produtores, correspondem a 60%, 37% e 3%, respectivamente, e em termos de produção regional de leite, 15%, 64% e 21%. Quanto ao número de vacas ordenhadas representam 23%, 65% e 12%, respectivamente. Algumas medidas de tamanho e indicadores de desempenho são apresentadas e discutidas para os setores de produção (leite, fêmeas para reposição e alimentos volumosos) e setores de serviços (trator e implementos e reprodução).
 

Na Tabela 1 são apresentados seis indicadores de desempenho para o setor de produção de leite, sendo três técnicos e três econômicos.

 

Tabela 1. Indicadores de desempenho técnico e econômico do setor de produção de leite, caracterizados e identificados para a região Zona da Mata de Minas Gerais. Outubro de 2008.

 

Indicador de Desempenho

Unidade

Sistema Referência

A

B

C

Técnico

 

 

 

 

Taxa de lotação das pastagens

UA/ha

           1,22

            1,27

            2,08

Produtividade de pastagens

lt/ha/ano

   1.723

      2.241

      7.490

Produtividade da mão-de-obra

lt/dh

             151

             264

             315

Econômico

 

 

 

 

Ativo imobilizado

R$/lt

           1,20

            1,39

            0,56

Remuneração do ativo imobilizado

% a.a.

           3,49

          9,74

          22,58

Giro do ativo imobilizado

           0,46

            0,43

            1,04

Fonte: Dados de pesquisa
 

Analisando os indicadores de desempenho técnico, observa-se: (i) Taxa de lotação das pastagens - os sistemas A e B foram menos eficientes em termos de utilização de pastagens, indicando uso excessivo do fator terra no processo produtivo; (ii) Produtividade de pastagens - destaque deve ser dado ao ótimo desempenho do sistema C. A fertilização e o bom manejo do solo e das pastagens são fatores básicos à obtenção desta produtividade; e (iii) Produtividade da mão-de-obra - os sistemas B e C foram mais eficientes no emprego do fator mão-de-obra, sendo que no sistema C a produtividade alcançada é similar a obtidas pelos sistemas eficientes do sul do país.
 

Quanto aos indicadores de desempenho econômico: (i) Ativo imobilizado por litro de leite - o sistema C foi o mais eficiente. De fato, visitando a propriedade foi possível constatar que a estrutura produtiva utilizada pelo produtor é extremamente simples, funcional e composta apenas de benfeitorias e equipamentos necessários para produção de leite; (ii) Remuneração do ativo imobilizado – os sistemas B e C obtiveram rendimentos reais superiores aos pagos pela caderneta de poupança (6% a.a.), com destaque para o ultimo que apresentou rendimento superior em 3,7 vezes ao rendimento considerado. O diagnóstico para propriedades com perfil do sistema A seria de continuar na atividade leiteira, porém a rentabilidade abaixo de outras oportunidades de mercado tornaria o negócio cada vez mais desinteressante, do ponto de vista financeiro; e (iii) Giro do ativo imobilizado - foi reduzido nos sistemas A e B. No sistema C, este indicador informa o faturamento obtido foi superior ao ativo imobilizado. Não se pode negar que o sistema C apresenta deficiências que necessitam ser corrigidas. Mesmo assim, seus resultados são significativamente melhores que os demais. Por esta razão é que ele pode ser considerado como uma referência para os que desejam ter no leite uma atividade atrativa.

 

Na Tabela 2 são apresentados cinco indicadores de desempenho para o setor de produção de fêmeas para reposição, sendo três técnicos e dois econômicos.

 

Tabela 2. Indicadores de desempenho técnico e econômico do setor de produção de fêmeas para reposição do rebanho de vacas, caracterizados e identificados para a região Zona da Mata de Minas Gerais. Outubro de 2008.

 

Indicador de Desempenho

Unidade

Sistema Referência

A

B

C

Técnico

 

 

 

 

Taxa de lotação das pastagens

UA/ha

1,1

1,3

0,9

Produtividade de pastagens

Cab/ha

2,5

2,4

1,8

Produtividade da mão-de-obra

dh/cab/ano

0,7

0,5

1,1

Econômico

 

 

 

 

Ativo imobilizado

R$

  18.603

   120.733

   109.797

Ativo imobilizado por cabeça

R$/cab

  716

       1.006

       1.339

Custo total da novilha ao parto

R$/cab

969

1.536

1.615

Fonte: Dados de pesquisa
 

Os indicadores de desempenho técnico relativos ao uso de pastagens foram semelhantes para os três sistemas estudados. Também neste caso, o Sistema C mostrou ser mais eficiente na utilização da mão-de-obra, empregando apenas 0,64% e 0,45% quando comparado aos sistemas A e B, respectivamente.
 

Em termos de ativos, o capital imobilizado pelos Sistemas B e C é semelhante sendo que o B imobiliza 6,5 vezes mais do que o sistemas A. Entretanto, em termos de capital por cabeça, o sistema C imobiliza 1,3 e 1,9 vezes mais.
 

Quanto ao custo de criação da novilha até o parto, o valor apurado no sistema C também foi superior, equivalendo a 1,05 e 1,67 vezes mais do que os observados nos sistemas A e B. A relação entre o preço de mercado de uma novilha ao parto com características semelhantes e o custo de recria foi de 1, 0,85 e 1,20 nos sistemas A, B, e C, respectivamente. Significa que, as novilhas do sistema C apesar de ter maior custo de recria alcançam maior valor de mercado, o que não ocorre com sistema B.

 

A alimentação é a rubrica de maior valor tanto no setor de produção de leite quanto no de recria de novilhas. A alimentação básica nos três sistemas é composta por pastagens, forragens fornecidas no cocho e concentrados. A Tabela 3 mostra algumas medidas de tamanho e indicadores de desempenho econômico do setor de produção de alimentos volumosos. As culturas perenes são compostas basicamente por pastagens de braquiária, Tanzânia e Angola e forrageiras de corte. Todos três sistemas utilizam além das pastagens, capineiras e cana picada como alimentação volumosa do rebanho. Culturas anuais estão presentes apenas no sistema C, consistindo basicamente de sorgo para confecção de silagem.

 

Tabela 3. Medidas de tamanho e indicadores de desempenho econômico do setor de produção de alimentos volumosos, caracterizados e identificados para a região Zona da Mata, de Minas Gerais. Outubro de 2008.

 

Tamanho e Desempenho Econômico

Unidade

Sistema Referência

A

B

C

Tamanho

 

 

 

 

Área com culturas anuais

ha

-

-

2,0

Área com culturas perenes

ha

        37,6

        221,0

         75,3

Área de pastagem

ha

        35,0

         210,0

72,3

Econômico

 

 

 

 

Ativo Imobilizado

R$

106.715

1.048.450

166.600

Custo total do setor

R$/ano

   11.339

    112.960

59.054

Custo médio da pastagem

R$/ha

      222

         421

         526

Custo médio do volumoso

R$/t

11,26

         46,70

           97,18

Fonte: Dados de pesquisa
 

Analisando os dados econômicos, observa-se que o sistema B imobiliza um montante considerável na forma de terra e forrageiras perenes, representando cerca de 9,8 e 6,3 vezes maior do que os verificados nos sistemas A e C, respectivamente. Quanto ao custo total do setor, no sistema B ele é maior em 10 e 2 vezes quando comparado aos sistemas A e C. Observou-se ainda, que o custo médio da pastagem e dos alimentos volumosos foram maior no Sistema C, seguido dos sistemas B e A. Vale ressaltar que na apuração do custo dos alimentos volumosos foi considerado o alimento colocado no cocho

 

A Tabela 4 ilustra algumas medidas de tamanho e indicadores de desempenho econômico do setor de trator e implementos. Os sistemas B e C dispõem destes equipamentos, cujas horas trabalhadas, ativo imobilizado e custo-hora do trator e implementos são apresentados na tabela. O custo-hora apurado indicam eficiência no uso deste recurso, em razão do seu nível utilização. Apesar do sistema B imobilizar montante considerável de recursos monetários, o custo-hora é menor devido o alto nível de utilização destes maquinários e diferenças de tamanho de máquinas. No entanto, a programação do uso destes equipamentos deve ser criteriosamente estudada evitando deslocamentos desnecessários.

 

Tabela 4. Medidas de tamanho e indicadores de desempenho econômico do setor de trator e implementos, caracterizados e identificados para a região Zona da Mata de Minas Gerias. Outubro de 2008.

 

Tamanho e Desempenho Econômico

Unidade

Sistema Referência

A

B

C

Tamanho

 

 

 

 

Total de horas trabalhadas

h/ano

-

2.850

630

Econômico

 

 

 

 

Ativo imobilizado

R$

-

167.700

84.000

Custo-hora trator e implementos

R$/h

-

15,13

28,21

Fonte: Dados de pesquisa
 

A Tabela 5 mostra alguns indicadores obtidos no setor de reprodução. Foram computados os custos com reprodutores, rufiões e com a inseminação artificial. Os sistemas A e B adotam monta natural com a utilização de reprodutores, sendo que no sistema A o reprodutor é mestiço e no sistema B de raças com aptidão leiteira. No manejo reprodutivo do sistema B, além da monta natural, é adotada a técnica de inseminação artificial. No sistema C adota-se apenas a técnica de inseminação artificial, sem a utilização de rufiões. Decompondo o custo médio de cada prenhes no sistema B, 38% refere-se ao custo dos reprodutores e rufiões e o restante, 62%, ao custo da inseminação artificial. Vale salientar que a adoção de inseminação artificial, apesar de ter apresentado maior custo, proporciona grande e rápida melhoria do rebanho, se utilizada de maneira adequada.

 

Tabela 5. Indicadores de medidas de tamanho e desempenho econômico do setor de reprodução, caracterizados e identificados para a região Zona da Mata de Minas Gerais. Outubro de 2008.

 

Tamanho e Desempenho Econômico

Unidade

Sistema Referência

A

B

C

Tamanho

 

 

 

 

Reprodutor

cab.

1

4

-

Rufião

cab.

-

2

-

Sêmen

doses

-

240

100

Econômico

 

 

 

 

Ativo imobilizado

R$/ano

900,00

11.400,00

-

Custo - reprodutores e rufiões

R$/ano

389,60

4.528,60

-

Custo - inseminação artificial

R$/ano

-

7.410,00

2.900,00

Custo total da reprodução

R$/cab

11,13

52,59

40,28

Fonte: Dados de pesquisa

 

Agradecimentos: à Fapemig que apoia e financia esta pesquisa.

 

Esta é a edição nº 24 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 14 de novembro de 2008, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Duarte Vilela, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Rui da Silva Verneque, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Carlos Eugênio Martins e Chefe-adjunto de Administração: Antônio Vander Pereira. Editora Geral: Rosangela Zoccal. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Vanessa Maia A. de Magalhães. Projeto gráfico: Marcella Avila. Estagiárias: Milana Zamagno, Diego Pereira de Oliveira e Rafael Junqueira.

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