Produção de leite e meio ambiente:

desafio para uma pecuária sustentável


Luciano Castro Dutra de Moraes - Tecnólogo em Meio Ambiente - Embrapa Gado de Leite

 Cristiano Gomes de Faria  - Químico - Embrapa Gado de Leite

Guilherme N. de Souza  - Médico Veterinário - Embrapa Gado de Leite

luciano@cnpgl.embrapa.br

          

Com a difusão da educação ambiental, novos conceitos estão sendo incorporados à rotina de indústrias, instituições governamentais e sociedade como um todo. A temática ambiental vem ganhando destaque em todos os fóruns e atualmente encontra-se incorporada no discurso cotidiano, especialmente nos momentos em que se projeta a escassez de recursos naturais, como a água potável, em várias partes do mundo.
 

Há muito tempo que os produtores de leite no Brasil, desperdiçam recursos ambientais importantes. Estes recursos deveriam ser encarados como importante fonte de receita para o produtor. A falta de informações sobre o meio ambiente pode levar o produtor de leite a tratar estes valiosos recursos naturais como se fossem infinitos e sem relevância para a atividade leiteira. Como exemplo, um dos recursos naturais que poderia ser mais bem utilizado é a água. Outros exemplos observados nas fazendas leiteiras é o desmatamento em áreas impróprias para a criação do rebanho, como topos de morros, áreas com mais de 45% de declividade, matas ciliares e nascentes. Solos degradados e compactados devido a manejo inadequado das pastagens diminuem a capacidade de infiltração da água e aumentam o escorrimento superficial, podendo evoluir para formação de erosões, perda da fertilidade do solo e assoreamento de cursos de água.
 

Exemplos de atividades que permitam recuperar o equilíbrio ambiental são: recompor as matas de alto de morros e locais com declividade superior a 45%, realizar curva de nível, cordão em contorno, terraciamento, faixas de retenção com o uso de plantas, quebra ventos e barraginhas. Estas atividades são importantes para o aumento da infiltração da água de chuva no solo de forma lenta e gradual, trazendo de volta o fornecimento de água em quantidade e qualidade para execução das atividades de rotina. A tecnologia das barraginhas (Figura 1), que capta a água de chuvas, impedindo o aparecimento de erosões e recuperando áreas degradadas foi desenvolvido na Embrapa Milho e Sorgo. Esta tecnologia foi implantada em mais de 300 municípios no Estado de Minas Gerais, sendo que mais de 60 mil barragens já foram construídas com o apoio da Emater - MG.

 

Figura 1. Captação de água de chuvas por meio de barraginhas – Fonte: Embrapa Milho e Sorgo

          

De acordo com a Instrução Normativa 51 de 2002 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a água destinada à produção de leite deve ter as seguintes características: tratada e clorada, aprovada em sua condição bacteriológica e físico-química, oferecer quantidade suficiente de 100 litros de água/vaca/dia e outros 6 litros adicionais para cada litro de leite produzido. Além da quantidade de água, esta precisa ser de boa qualidade para higienizar os tetos das vacas no momento da ordenha e os utensílios que entram em contato com o leite antes e após a ordenha.
 

Existe uma alternativa para se ter um pré-tratamento de água na propriedade leiteira de forma simples e eficiente. Trata-se de um filtro com manilhas de concreto contendo leitos formados por cascalho e areia com grãos de diversos tamanhos. A matéria orgânica proveniente da captação ficará retida nas camadas de areia, seguindo a água límpida para ser tratada por meio de um clorador. O tratamento a base de cloro é necessário para tornar a água potável. Ressalta-se que não há dificuldades maiores em implantar um clorador na propriedade leiteira. A seguir é apresentada a ilustração de um sistema de tratamento da água com cloro desenvolvida pela Embrapa Instrumentação Agropecuária (Figura 2).

Figura 2. Sistema de captação e tratamento de água na propriedade leiteira - Fonte: Embrapa Instrumentação Agropecuária
 

Após a utilização da água na propriedade leiteira, é necessário dar um destino correto para o efluente gerado. O efluente tratado transforma-se em rico biofertilizante e deve ser visto como um insumo para a fertilização de diversas culturas na propriedade. A adoção do tratamento de efluente poderá proporcionar ao produtor uma redução no custo para aquisição de fertilizantes. Atenção especial deve ser dada no tratamento dos efluentes, pois em hipótese alguma este deve ser drenado para os cursos de água, pois causaria poluição hídrica. Para o tratamento do efluente, uma alternativa é o uso de biodigestores com o aproveitamento do gás metano gerado.

 

Portanto, a produção de leite de forma sustentável, sem impactar o meio ambiente e com índices produtivos competitivos são desafios para a pecuária leiteira nacional. Desta forma, os profissionais autônomos e da extensão rural deverão orientar produtores e seus filhos a produzir leite e preservar e recuperar o meio ambiente baseado em conhecimentos técnicos. A responsabilidade de desenvolver e validar tecnologias que tornem viável a produção de leite de forma sustentável fica a cargo das universidades e instituições de pesquisa.

 

Esta é a edição nº 24 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 14 de novembro de 2008, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Duarte Vilela, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Rui da Silva Verneque, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Carlos Eugênio Martins e Chefe-adjunto de Administração: Antônio Vander Pereira. Editora Geral: Rosangela Zoccal. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Vanessa Maia A. de Magalhães. Projeto gráfico: Marcella Avila. Estagiárias: Milana Zamagno, Diego Pereira de Oliveira e Rafael Junqueira.

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