Torta de algodão: co-produtos de biodiesel na alimentação animal

Heloísa Carneiro – Pesquisadora da Embrapa Gado de Leite
heloisa@cnpgl.embrapa.br


O algodão é cultivado essencialmente para a produção de fibras, reconhecida como a mais importante das fibras têxteis, naturais ou artificiais. Os co-produtos do algodão são obtidos após a separação da fibra, no processo de descaroçamento, são eles: o línter, a casca e a amêndoa. Destes co-produtos são extraídos os óleos, tortas, farelos e farinhas integrais, sendo posteriormente extraído o óleo refinado, a borra e farinha desengordurada.

O caroço (amêndoa) possui matérias-primas para a indústria de óleo e gordura comestível. Depois da extração do óleo das sementes, fica um concentrado protéico, denominado de torta que pode ser magra ou gorda, dependendo do resíduo que tenha de óleo. O caroço de algodão (amêndoa) possui entre 18% a 23% de óleo e 30% a 40% de proteína e é utilizado como suplemento na alimentação humana e animal. Os óleos de algodão correspondem a 17% de todo o óleo produzido no mundo.

O óleo de algodão possui uma excelente qualidade nutricional por apresentar ácidos graxos essências como o ácido linoléico e ser rico em vitamina E, essas características fazem dele um óleo importante para a alimentação humana, após a eliminação do gossipol (pigmento tóxico aos monogástricos). Na forma de gordura, é muito utilizado na indústria alimentícia.

A farinha de algodão fornece uma suplementação protéica aos produtos de panificação e é muito apreciada em países africanos.

Na alimentação animal, utiliza-se os seguintes subprodutos do algodão: o caroço, o farelo, a torta (produto do esmagamento da amêndoa) e as cascas (retiradas das amêndoas antes do esmagamento). Esses co-produtos são ricos em proteína e energia para os ruminantes, sendo fornecidos por meio da ração.

As cascas são excelentes fontes de fibra com capacidade de estimular o rúmen e de alta palatabilidade para os ruminantes e podem ser misturadas à torta para a alimentação do gado.

A torta de algodão e o farelo são usados para alimentação animal na forma moída ou compactada. Além disso, outro importante uso da torta de algodão é como fertilizante.

A produção de biocombustível ou biodiesel pode ser feita a partir do óleo semi-refinado ou do óleo bruto, com o esmagamento do caroço. Assim, o incentivo do Brasil na produção de biocarburantes pode aumentar significativamente nos próximos anos a procura pelo caroço do algodão. Com essa utilização do caroço para a produção de biocombustíveis, cogita-se que será gerado muito co-produto que poderá potencialmente ser destinado à alimentação animal.

A produção brasileira anual de algodão em caroço, na safra de 2006, foi de 1,6 milhões de toneladas.

O emprego desses co-produtos na alimentação animal como caroço, ou farelo e as cascas da semente do algodão, fornecendo proteína e energia aos ruminantes, por meio de ração e são usados principalmente na alimentação de poligástricos. O gossipol é tóxico aos monogástricos; é inofesivo aos ruminantes desde que oferecido em quantidades não muito elevadas. Em dietas de monogástricos como as poedeiras e suínos a adição oriundos da produção desse co-produto na alimentação poderá produzir ovos com gemas esverdeadas, após um período de estocagem; e em suínos não se pode utrapassar mais de 5% em sua dieta, pois são muito sensíveis a esse pigmento tóxico (gossipol). Já para bovinos, não se deve fornecer acima de 15% ou 20% da ração. Os touros são dez vezes mais susceptíveis aos efeitos do gossipol que as vacas, pois podem apresentar redução súbita na quantidade de sêmen produzida.

O nível crítico de teor de umidade para oleaginosas é de 11%. A estocagem inadequada poderá comprometer a vida útil do material podendo desenvolver contaminação de microorganismo e causar alterações químicas, acarretando redução das qualidades nutricionais e no consumo final do produto. Com os problemas atuais enfrentados no mundo por conta da crise energética, o algodão pode entrar como uma importante opção para produção de biodiesel, por meio do elevado teor de óleo no caroço (semente). Um dos co-produtos resultante deste processo, a torta de algodão, poderá ser usada na alimentação animal. O emprego desses co-produtos oriundos da produção de biodiesel na alimentação de ruminantes provavelmente reduzirá a degradação ambiental, por diminuir o acúmulo de dejetos na natureza e a extensão de áreas destinadas à pecuária. O algodoeiro deverá participar deste contexto.

 

Esta é a edição nº 28 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 20 de março de 2009, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Duarte Vilela, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Rui da Silva Verneque, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Carlos Eugênio Martins e Chefe-adjunto de Administração: Antônio Vander Pereira. Editora Geral: Rosangela Zoccal. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Leonardo Gravina e Pedro Gomide. Projeto gráfico: Marcella Avila.

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