Panorama do Leite

Fatores associados à presença de resíduos de antimicrobianos no leite

Guilherme Nunes de Souza - Médico Veterinário - Embrapa Gado de Leite
Yuri de Almeida Silva - Bolsista de Iniciação Científica CNPq/Embrapa Gado de Leite
Fabiana Ribeiro dos Santos - Bolsista de Iniciação Científica FAPEMIG/Embrapa Gado de Leite

A presença de resíduos de antimicrobianos no leite pode causar problemas relacionados à saúde pública e ao processamento de derivados na indústria de laticínios. De acordo com Saville et al. (2000), o aumento da contagem de células somáticas (CCS) do rebanho foi associado à presença de resíduo no leite. Estudo realizado nos Estados Unidos mostrou que o risco de resíduo foi 7 vezes maior em rebanhos com média de CCS acima de 700.000 células/ml em relação aos rebanhos com média de CCS menor ou igual a 250.000 células/ml. De acordo com Ruegg e Tabone (2000), um ponto crítico no controle de resíduo de antimicrobianos no leite pode ser a redução da prevalência da mastite contagiosa em rebanhos leiteiros. A não observação do período de carência, que varia de acordo com a base farmacológica, ausência de ficha de anotações ou anotação inadequada para identificação de animais em tratamento e drogas usadas de maneira inadequada foram associados à presença de resíduos de antimicrobianos no leite (Saville et al., 2000). A anotação em relatórios ou em fichas de vacas submetidas ao tratamento com antimicrobianos e não identificação destas vacas foi importante fator de risco observado no estudo realizado por Gibbons-Burgener et al. (1999). A razão mais comum para tratamento em rebanhos leiteiros com antimicrobianos são casos de mastite clínica e subclínica (Saville et al., 2000). Portanto, um estudo para avaliar fatores associados à presença de antimicrobianos no leite de rebanhos pode gerar informações que auxiliarão na elaboração de estratégias para evitar resíduos no leite. Estudo coordenado pela Embrapa Gado de Leite com 186 rebanhos leiteiros localizados na região de Santos Dumont, Minas Gerais, teve como objetivo identificar fatores associados à presença de antimicrobianos no leite de rebanhos.

Os principais fatores de risco identificados para presença de antimicrobianos no leite de rebanhos foram: não identificação de animais submetidos ao tratamento de mastite com antibióticos, uso de antibiótico no tratamento de casos de mastite clínica e número de vacas em lactação maior que dez. Os riscos identificados no estudo apresentam associação significativa entre si e seus efeitos sobre a presença de antimicrobianos no leite devem ser levados em consideração conjuntamente. A não identificação de animais submetidos a tratamentos com antibiótico e tratamento de casos clínicos de mastite estão relacionados e apresentaram associação significativa. O uso inadequado de drogas e ausência de fichas de anotações e identificação dos animais de forma inadequada são pontos críticos que devem ser melhorados com o objetivo de evitar resíduo de antimicrobianos. O número de animais em lactação, identificado no presente estudo como fator associado à presença de resíduo no leite, também apresenta uma associação com os tratamentos de mastite clínica. Foi observado por Schukken et al. (1989) e Waage et al. (1998) que à medida que aumenta o tamanho do rebanho, a taxa de mastite clínica, bem como o risco de ocorrência, também aumentam. Desta forma, espera-se que haja um aumento do tratamento dos casos clínicos com antimicrobianos. Esta situação pode proporcionar uma chance maior de resíduo no leite caso não haja um sistema de anotação em fichas do tratamento e marcação dos animais que receberam o antibiótico. A relação entre alta CCS e presença de resíduo no leite é uma associação indireta, pois a CCS está relacionado aos casos de mastite subclínica (Harmon, 1994). De acordo com os programas de controle e prevenção da mastite, recomenda-se o uso de antimicrobianos no tratamento dos casos clínicos de mastite imediatamente após a identificação e tratamento à secagem (National Mastitis Council, 2001). O tratamento dos casos subclínicos são recomendados em situações específicas, como a blitz terapia para erradicação do Sdtreptococcus agalactiae (Keefe , 1997).

Os resultados do presente estudo demonstram que os principais fatores associados à presença de antimicrobianos no leite foram tratamento de animais com mastite clínica e não identificação destes animais. O aumento do rebanho aumentou o risco para presença de antimicrobianos no leite. A adoção de procedimentos estabelecidos nos programas de controle da mastite nos rebanhos contribuirá para redução dos casos clínicos e subclínicos e conseqüentemente o uso de antimicrobianos e de resíduos no leite.

Referências Bibliográficas

GIBBONS-BURGENER, S. N.; KANEENE, J. B., LLOYD, J. W., ERSKINE, R. J. Evaluation of certification in the milk and dairy beef quality assurance program and associated factors on the risk of having violative antibiotic residues in milk from dairy farms in Michigan. American Journal of Veterinary Research, v.60, n.10, p.1312-1316, 1999.

HARMON, R.J. Physiology of mastitis and factors affecting somatic cell counts. J. Dairy Sci., v.77, p.2103-2113, 1994.

KEEFE, G. P. Streptococcus agalactiae mastitis: a review. Canadian Veterinary Journal, v. 38, n. 7, p. 429-435, 1997.

NATIONAL MASTITIS COUNCIL. Recommended Mastitis Control Program, 2001. Disponível em: . Acesso em: 18/05/2003.

RUEGG, P. L.; TABONE, T. J. The relationship between antibiotic residue vilolations and somatic cell count in Wisconsin dairy herds. Journal Dairy Science, v.83, n.2, p.2805-2809, 2000.

SAVILLE, J. A.; WITTUM, T. E.; SMITH, K. L. Association between measures of milk quality and risk of violative antimicrobial residues in grade-A raw milk. Journal American Veterinary Medicine Association. v.217, n.4, p.541-545, 2000.

SCHUKKEN, Y. H.; VAN DE GEER, D.; GROMMERS, F. J. et al. Intramammary infections and risk factors for clinical mastitis in herds with low somatic cell counts in bulk milk. Veterinary Record , v. 125, p. 393-396, 1989.

WAAGE, S.; SVILAND, S.; ØDEGAARD, S. A. Identification of risk factors for clinical mastitis in dairy heifers. J. Dairy Sci., v.81, p.1275-1284, 1998.