O poder de barganha de uma cooperativa de leite nos Estados Unidos

Peerapon Prasertsri - Estudante de Doutorado do Food and Resource Economics Department, University of Florida
Richard L. Kilmer - Professor do Food and Resource Economics Department, University of Florida, kilmer@ufl.edu


Como resultado das economias de escala, indústrias de alimentos são geralmente maiores e em menor número. Essas características as colocam em vantagem no processo de barganha em relação aos produtores independentes. Por isso, nos Estados Unidos foram criadas as cooperativas de comercialização para auxiliar os produtores no processo de barganha. Neste artigo, então, investiga-se o poder de barganha de uma cooperativa leiteira relativo a diversos laticínios da Flórida.

A Southeast Dairy Cooperative, Inc. (SDC) fornece leite cru a diversos laticínios da Flórida. De janeiro de 1999 a maio de 2002, a SDC era composta por duas cooperativas: Southeast Milk, Inc. (SMI) e a Southeast Council of Dairy Farmers of America, Inc. (DFA). Neste período, ela fornecia todo o leite para os laticínios da Flórida. A média anual de cada indústria tem sido de 9.051.689.152,8 Kg de leite Class I (leite destinado ao consumo direto).

A estrutura de mercado é um monopólio do lado da oferta (SDC) e um oligopólio do lado da indústria. Quando há barganha, o mercado modifica-se para uma estrutura semelhante a um monopólio bilateral. Isso ocorre porque o ambiente de barganha é estruturado de forma que o preço seja negociado mensalmente entre a SDC e um ou dois grandes laticínios, sendo que as demais indústrias aceitam o preço negociado pela(s) líder(es).

Os contratos de fornecimento entre a SDC e os laticínios da Flórida têm validade de um ano, e são renovados anualmente; contudo, o contrato pode ser cancelado por ambas as partes se há um aviso prévio de 60 dias para o cancelamento. Toda quinta-feira, as indústrias encomendam cargas de caminhão diárias de leite para cada semana, começando no domingo e terminando no sábado. No entanto, os laticínios têm flexibilidade para alterar seus pedidos.

A análise dos dados através de um modelo econométrico mostrou que a SDC tem maior poder de barganha que os laticínios, embora isto varie a cada mês. O poder de barganha da SDC varia de uma alta de 0,7831 em setembro para uma baixa de 0,6664 em janeiro, o que equivale a uma média mensal de 0,7326. Os meses acima da média mensal da força de barganha da SDC são fevereiro, abril, julho, agosto, setembro e dezembro, com o mês de outubro aproximando-se da média. Julho, agosto, setembro, outubro e dezembro são meses de entressafra; entretanto, fevereiro e abril são meses de safra. Deste modo, a força de barganha para a SDC é alta na maioria dos meses de entressafra (novembro é um mês de entressafra) e em alguns meses de safra, o que significa que os altos níveis de força de barganha não ocorrem exclusivamente durantes os meses de safra.

Existem duas razões que explicam o fato da SDC ter maior poder de barganha. Primeiro, os laticínios são mais impacientes do que a SDC, já que eles têm compradores que necessitam de uma oferta contínua de produtos lácteos. A SDC fornece às indústrias processadoras todo o leite que elas precisam (um contrato completo de oferta) e elas confiam no serviço da SDC. Segundo, há um risco de quebra de contrato, porque as alternativas existem tanto para a venda de leite da SDC quanto para a compra de leite das indústrias. Se a quebra contratual ocorrer, há pelo menos três consequências que poderiam afetar as indústrias. Primeiro, as indústrias da Flórida preferem leite fresco ao invés de leite estocado em um tanque por muitos dias. Quanto mais tempo o leite é estocado antes de ser envasado, mais rápido ele irá estragar. Portanto, se o processo de barganha fracassar, o leite não estará tão fresco quanto desejado, porque ele terá que ser transportado por distâncias maiores do que o leite produzido na Flórida. Segundo, se as indústrias não tiverem acesso ao leite produzido na Flórida, os laticínios da Florida poderão apenas adquirir leite fora do limite norte do estado. Visto que a Florida é rodeada de água por três lados, as indústrias só têm a fronteira norte como alternativa para adquirir leite de fora do estado. Isto aumenta o custo de transporte para importar leite na Flórida e pode levar os laticínios a pagar preços mais altos pelo leite. Terceiro, quando as indústrias procurarem por leite ao norte da Flórida, elas perceberão que todo o sudeste dos Estados Unidos é deficitário em leite. O excedente de leite localiza-se a milhas da Flórida, o que afeta o prazo de validade (vida de prateleira) do produto.

Portanto, pode-se concluir que as cooperativas de comercialização de leite têm barganhado bem com os processadores do mercado lácteo. A força de barganha mensal da SDC excede a dos processadores em todos os doze meses, variando de uma baixa de 0,6664 em janeiro para uma alta de 0,7831 em setembro. A média de força mensal de barganha sobre todos os meses é de 0,7326.

 

Esta é a edição nº 37 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 17 de dezembro de 2009, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Duarte Vilela, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Rui da Silva Verneque, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Elizabeth Nogueira Fernandes e Chefe-adjunto de Administração: Antônio Vander Pereira. Editores: Rosangela Zoccal e Glauco Carvalho. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Pedro Gomide e Leonardo Gravina. Projeto gráfico: Marcella Avila.

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