Utilização de co-produtos de biodiesel para alimentação de ruminantes

Heloisa Carneiro - Zootecnista, PhD em Nutrição Animal - Pesquisadora da Embrapa Gado de Leite - heloisa@cnpgl.embrapa.br


O biodiesel começa a se firmar no Brasil, tendo em vista a crescente produção e intensificação de sua distribuição nos postos de reabastecimento. Ao longo desses últimos anos, quase três dezenas de usinas estão sendo construídas em Minas Gerais, sendo que mais de cem estão espalhadas pelo Brasil, e outras estão prestes a serem inauguradas.

O cenário atual se mostra bastante oportuno, tendo em vista a prática do livre mercado para combustíveis, a redução das barreiras, a política energética praticada, o perfil de produção e consumo de diesel, a necessidade de se reduzir a poluição atmosférica, em particular nos grandes centros urbanos, e o grande interesse e competitividade da indústria nacional, o biodiesel pode ser um importante produto para exportação e para a independência energética nacional. Associada a geração de emprego e renda nas regiões mais carentes do Brasil, representaria soluções de cunho regional mediante o aproveitamento econômico dos insumos disponíveis.

Novas tecnologias de produção surgiram ao mesmo tempo em que o questionamento acerca de seus co-produtos potenciais tem gerado dúvidas quanto a sua viabilidade e utilização, tendo em vista a necessidade de minimização de impactos ambientais. Independente da tecnologia utilizada antecipa-se serem muitas as toneladas de co-produtos despejados no meio ambiente. Assim, questionam-se quais dos co-produtos poderão ser utilizados como alimento para os ruminantes?

Sabemos que estes animais possuem quatro estômagos e que podem digerir as fibras que existem nestes co-produtos resultantes da extração de óleos para produção de biodiesel. Com a utilização destes co-produtos pelos bovinos, espera-se uma redução do impacto ambiental e se questiona a sua utilização como mitigadores de metano.

Considerando a grande oferta de co-produtos de biodiesel com potencial para serem utilizadas na dieta dos ruminantes, estão sendo desenvolvidos estudos com o objetivo de identificar e avaliar através da composição química e do valor nutricional de diversos co-produtos de biodiesel em Minas Gerais e no País que poderão ser racionalmente aproveitados na alimentação de ruminantes, além de verificar também a utilização desses co-produtos como fertilizantes, pois caso apresentem toxicidade na dieta animal, seja pela composição química ou processo de extração, esta poderá inviabilizar a sua utilização na alimentação animal.

É de suma importância estudar co-produtos que propiciarão um bom desempenho animal e que apresentem principalmente baixo custo na aquisição da matéria prima na substituição total ou parcial de fontes consagradas como o farelo de soja e outras tortas que apresentem excelente qualidade, mas de alto custo, as quais deverão ter fins mais nobres.

A emissão de poluentes atmosféricos também é complementada com o lançamento dos conhecidos gases de efeito estufa (GEE), dentre eles o metano (CH4), que é 13 vezes mais poluente do ar do que o tão falado CO2. Com a escassez do petróleo como fonte alternativa de energia em substituição ao petróleo fonte esgotada tendendo a escassez, com reservas que durarão segundo as estimativas cerca de 40 anos.

O Biodiesel é um combustível derivado de fontes renováveis, podendo ser extraído de uma série de vegetação que tenham em sua matéria prima teor oleaginoso suficiente para tal uso. Dentre eles cita-se a soja, o algodão, mamona girassol canola entre outros.

Atualmente, existem algumas alternativas de oleaginosas para serem cultivadas nas diversas regiões do País, que possui uma situação climática muito bem definida para período seco e chuvoso, bem como uma grande disponibilidade de temperatura e radiação solar para o cultivo agrícola, com base em estudos promovidos e incentivados pelo governo e instituições privadas. Na tabela 1 estão mostrados os teores de proteína bruta, extrato etéreo e fibra bruta (% em base seca) de algumas oleaginosas com potencial para a produção de biodiesel no Brasil.

Brasil com sua biodiversidade oferece uma gama de matéria prima para toda sua extensão territorial. A sua distribuição está representada na Figura 1 mostrando a sua diversidade na distribuição da matéria prima utilizada para a produção de biodiesel em cada estado. O Norte tem como matéria prima o dendê, no Nordeste o babaçu e a palma, serão os mais explorados. No Centro-Oeste, soja, mamona e caroço de algodão estão sendo priorizados. No Sudeste, a soja, o algodão e o girassol foram os selecionados, já na região sul, engloba a soja, algodão, girassol, e canola.

Estudos edafoclimáticos no Brasil mostram que em todas as regiões existem condições para produzir elevada quantidade de óleo por hectare a partir de plantas que possuam alguns atributos fisiológicos adequados a cada uma delas.

Em Minas Gerais estão se expandindo as usinas de biodiesel. Atualmente a usina de Montes Claros pertencente à Petrobrás trabalha com óleo já processado de sebo, algodão e óleo de soja, mas futuramente propõe esmagar e utilizar o óleo de girassol, soja e macaúba restando os seus co-produtos disponíveis na região para os produtores, principalmente para a pecuária bovina.

O Biodiesel permite a economia de divisas com a importação de petróleo e óleo diesel, sendo uma vantagem estratégica ao reduzir a dependência das importações de petróleo. Assim, economiza-se gastos com a importação e promove uma maior independência do petróleo importado.

O laboratório de alimentos da Embrapa Gado de Leite tem observado grande variação na composição química e bromatológica destes co-produtos necessitando de uma análise detalhada em todas as vezes que se desejar utilizar tais produtos. Dependendo de cada região e do processamento utilizado o mesmo material poderá variar a sua análise. É importante verificar principalmente o teor de extrato etéreo (gordura), fibra além de possível efeito tóxico do material.

Conclusões

Com base nos resultados da Tabela 1, pode-se concluir que:

- Existem em disponibilidade na região de Minas Gerais e em diversos estados do País, co-produtos de biodiesel, incluindo torta e farelo que podem ser aproveitados racionalmente na alimentação de animais ruminantes, sendo que a mamona e o pinhão manso necessitam de um processo prévio de detoxificação para seu aproveitamento, o que onera o preço do produto final.

- Dentre os co-produtos analisados, torta de girassol e de soja apresentaram os maiores teores de proteína bruta e baixos teores de fibra em detergente neutro possibilitando a sua utilização como insumo em dietas de ruminantes.

- É importantíssimo considerar a disponibilidade do co-produto na região, pois o transporte poderá inviabilizar a sua utilização na formulação da ração. Neste caso a escolha dos componentes da dieta dependerá da disponibilidade na região e do seu retorno econômico.

 

Esta é a edição nº 41 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 22 de abril de 2010, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Duarte Vilela, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Rui da Silva Verneque, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Elizabeth Nogueira Fernandes e Chefe-adjunto de Administração: Antônio Vander Pereira. Editores: Kennya Beatriz Siqueira e Marcos Cicarini Hott. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Pedro Gomide e Leonardo Gravina. Projeto gráfico: Marcella Avila.

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