Queda nos preços dos fertilizantes melhora a relação de troca do agricultor

Guilherme Fonseca Travassos – Estudante de economia da UFJF e Bolsista da Embrapa/CNPq - e-econ@cnpgl.embrapa.br
Glauco Carvalho - Economista e pesquisador da Embrapa Gado de Leite - glauco@cnpgl.embrapa.br


O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, atrás apenas de China, Índia e EUA. No entanto, cerca de 70% da demanda interna, representada por produtos finais, é atendida por importações, oriunda principalmente da Rússia e do Canadá. Os fertilizantes têm peso importante nos custos de produção de leite, pois são representativos na estrutura de custo de produção de grãos componente de ração como milho e soja, alimentação volumosa e também nos sistemas de produção a pasto. O objetivo deste artigo é apresentar e discutir os movimentos de preços de fertilizantes nos últimos anos.

Os preços dos fertilizantes apresentaram valorização expressiva nos últimos anos, com a tonelada do NPK passando de US$ 242 para US$ 785 entre junho de 2006 e agosto de 2008, segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Essa valorização foi associada a diversos fatores, entre eles: 1) elevado crescimento da economia mundial; 2) incremento do consumo de alimentos, sobretudo em países em desenvolvimento; 3) escalada dos preços do petróleo; e 4) expansão dos programas de biocombustíveis; entre outros motivos.

A Figura 1 mostra a evolução dos preços internacionais do petróleo e da tonelada de NPK no mercado interno, em dólar. Após atingir o pico de US$ 133/barril em junho de 2008, o preço do petróleo recuou gradativamente até fevereiro de 2009, tendo uma queda de aproximadamente 71%, chegando à cotação de US$ 39/barril. O mesmo aconteceu com o preço médio dos fertilizantes no Brasil, que recuou 48% entre agosto de 2008 e fevereiro de 2009.

Em reais, os preços de NPK também registraram grande volatilidade em um período curto de tempo, saindo de um preço médio por toneladas de R$ 564 em 2006 para R$1.097 em 2008. Em uma avaliação mensal, verifica-se que o preço atingiu o pico em outubro de 2008, quando foi cotado a R$ 1.328/tonelada recuando para R$ 822/tonelada em julho de 2009 (Figura 2).

Essa elevada volatilidade dificulta tremendamente a gestão da empresa rural, principalmente porque os fertilizantes exercem influência no custo da produção do leite, tanto na produção de grãos, quanto silagens e pastagens. De acordo com levantamento da Conab, os fertilizantes representam entre 28% e 35% do custo total de produção de milho no país. No caso da soja, essa participação varia de 23% a 37%. Ou seja, grosso modo cerca de 30% dos custos de produção para milho e soja referem-se a despesas com fertilizantes. Além disso, em levantamentos realizados pela Embrapa Gado de Leite em diferentes sistemas de produção de leite e regiões de Minas Gerais, verificou-se que a soma dos custos com volumoso e concentrado (portanto, que utilizam fertilizantes) chegou a 65% do custo total do setor de produção de leite. Nos sistemas avaliados, a participação destes custos ficou predominantemente entre 40% e 50% (Figura 3).

O recuo recente nos preços dos fertilizantes vem contribuindo para uma melhoria na relação de troca para o produtor de leite, voltando ao patamar de início de 2007, quando eram necessários pouco mais de 1.000 litros de leite para comprar uma tonelada de NPK (Figura 4). Em outubro de 2008, por exemplo, eram necessários mais de 2.000 litros de leite para a aquisição de uma tonelada de NPK. Portanto, essa melhoria na relação de troca deverá contribuir positivamente aos produtores de leite, principalmente no plantio da silagem neste segundo semestre. No entanto, é importante aproveitar o período para a aquisição do adubo, pois a pressão de compra no segundo semestre poderá causar alguma elevação nos preços. Isso porque, apesar da crise financeira internacional e da queda dos preços agrícolas, espera-se uma aceleração nas vendas neste segundo semestre, o que pode trazer alguns problemas logísticos para o abastecimento da safra de grãos, já que boa parte terá que vir de fora.

Nos primeiros sete meses de 2009, as vendas nacionais de fertilizantes atingiram cerca de 10,9 milhões de toneladas, apresentando uma queda de 21,5% em relação ao mesmo período do ano anterior (Figura 5). Já no mês de julho o volume de vendas foi semelhante ao verificado em julho do ano passado, o que mostra que o produtor deixou para realizar as compras de última hora. Até porque as condições financeiras não eram das melhores.

Como também houve recuo na produção doméstica de fertilizantes e no ritmo de importações, os estoques internos estão registrando recuo, ficando no mês de julho de 2009 cerca de 23,5% abaixo do verificado no mesmo mês do ano passado (Figura 6). Os estoques atuais encontram-se no patamar do volume de 2006 e 2007. Portanto, é possível que haja alguma dificuldade no abastecimento interno de fertilizantes e provoque reação nas cotações neste segundo semestre alguma pressão de demanda para o plantio da safra 2009/10 no Brasil mais os baixos estoques de passagem,. Mas nada semelhante à alta de 2007 e 2008, quando o cenário econômico mundial era outro.

 

Agradecimentos: Fapemig, CNPq e Embrapa Gado de Leite.

 

Esta é a edição nº 34 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 22 de setembro de 2009, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Duarte Vilela, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Rui da Silva Verneque, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Elizabeth Nogueira Fernandes e Chefe-adjunto de Administração: Antônio Vander Pereira. Editores: Rosangela Zoccal e Glauco Carvalho. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Pedro Gomide e Leonardo Gravina. Projeto gráfico: Marcella Avila.

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