Resíduos de antibióticos no leite

 

Maria Aparecida V. P. Brito e Carla Christine Lange – Pesquisadoras da Embrapa Gado de Leite mavpaiva@cnpgl.embrapa.br

          

O leite é considerado o alimento mais perfeito da natureza. Apresenta uma composição rica em proteínas, vitaminas, gordura, carboidratos e sais minerais (principalmente cálcio), essenciais aos seres humanos. É produzido durante a lactação na glândula mamária da vaca, a partir de elementos que passam do sangue para as células especializadas da glândula. Durante este processo podem passar também medicamentos ou drogas veterinárias que foram administrados às vacas para o controle de alguma doença. Portanto, sempre que se precisar administrar um medicamento à vaca leiteira, deve-se estar alerta para a possibilidade de aparecimento de resíduos no leite.

 

Antimicrobianos

 

São substâncias empregadas para inibir ou tornar inativos os microrganismos, as mais usadas são os antibióticos. Há diversas razões que levam à preocupação com resíduos de antibióticos no leite. As principais são relacionadas à industrialização e às conseqüências para a saúde humana.

 

Prejuízos para a indústria e problemas para a saúde

 

O principal problema para a indústria é a inibição de culturas lácteas sensíveis utilizadas na fabricação de queijos, iogurtes e outros produtos fermentados, dificultando a obtenção destes produtos ou alterando sua qualidade. Outros problemas são a formação de odores desagradáveis na manteiga e no creme. A pasteurização tem pouco ou nenhum efeito sobre o conteúdo de resíduos de antibióticos do leite.

       

Os problemas ligados à saúde pública se devem à possibilidade de desenvolvimento de reações alérgicas ou tóxicas nos indivíduos que ingerem o leite contaminado com os resíduos de antibióticos. As reações alérgicas se manifestam, geralmente, como urticárias, dermatites ou rinites e asma brônquica.

 

Reações tóxicas são relacionadas a alguns antimicrobianos com potencial   carcinogênico, isto  é,  que   podem  desenvolver   tumores  em

animais de laboratório (ex. sulfametazina, nitrofuranos) ou dar origem a alterações hematológicas em indivíduos susceptíveis (cloranfenicol). Por isso, não se admitem resíduos dessas substâncias no leite, e elas são proibidas para tratamento de vacas leiteiras.

       

Período de carência para o consumo do leite

 

Chama-se período de carência o prazo de eliminação do antibiótico no leite, após a última aplicação. Este período varia de produto para produto, e de acordo com a via de aplicação (intramamária, intramuscular ou intravenosa). Sempre que um antibiótico é recomendado para tratamento de vacas em lactação ou no início do período seco, deve-se estar atento para o período de carência. Isto significa que neste período todo o leite da vaca tratada deve ser retirado do consumo.

 

O aparecimento de resíduos de antibióticos no leite geralmente se dá após o tratamento de vacas por problemas de mastite, metrite ou outra doença infecciosa, ou como resultado do tratamento no início do período seco para controlar mastite. O tratamento para mastite tem sido o principal responsável pelos resíduos no leite. Mesmo após a aplicação do antibiótico em somente um quarto mamário, ocorre o aparecimento de resíduos no leite nos que não foram tratados.

 

BOAS PRÁTICAS PARA SE EVITAR RESÍDUOS DE ANTIBIÓTICOS NO LEITE

 

Ler o rótulo e a bula do antibiótico selecionado para o tratamento. Observar se o medicamento é licenciado no Ministério da Agricultura, o princípio ativo, o período de descarte do leite ou período de carência para abate do animal, o nome do fabricante ou do distribuidor, as recomendações gerais quanto ao uso e via de aplicação, o prazo de validade e a dosagem recomendada.

 

Usar somente medicamentos recomendados para animais. Antibióticos recomendados para medicina humana não devem ser usados para tratamento dos animais, porque não há estudos sobre o período de descarte. Outro motivo é que determinados antibióticos são selecionados somente para tratamento humano, devido à natureza e particularidade das indicações.

       

Armazenar todos os medicamentos adequadamente. Separar aqueles recomendados para os animais não-lactantes ou para os lactantes. Os medicamentos recomendados para tratamento no início do período seco são mais concentrados e não devem ser administrados em animais em lactação. Observar se há necessidade de estocagem sob refrigeração.

 

Administrar adequadamente o medicamento. As aplicações intramamárias necessitam de cuidados para evitar a inoculação de outros microrganismos que podem complicar ainda mais o quadro existente. É necessário limpar a extremidade do teto com algodão embebido com álcool e usar uma cânula estéril, se esta não for fornecida com o medicamento. Inserir  somente  2 a 3  milímetros  da  cânula  no

teto. Após infusão da glândula mamária, recomenda-se fazer a desinfecção do teto por imersão com um desinfetante efetivo. Para evitar novas infecções com patógenos do ambiente, não se deve usar a mesma cânula para tratamento em mais de um quarto mamário e não se deve tratar várias vacas a partir de um frasco contendo múltiplas doses.

 

Marcar e identificar todas as vacas tratadas. Há necessidade de identificar todas as vacas tratadas e o período de descarte do leite deve ser de conhecimento de todos. As vacas tratadas devem ser separadas e ordenhadas por último, para evitar a contaminação do leite total do rebanho.

 

Ordenhar todas as vacas tratadas por último. A separação das vacas tratadas para o final da ordenha é a primeira medida a ser tomada para evitar a contaminação do leite do tanque.

 

Observar atentamente o período de descarte do leite. Essa observação é importante também se o animal for descartado para abate. O período de descarte não é o mesmo para todas drogas.

 

Descartar o leite de todos os quartos das vacas tratadas. Antibióticos aplicados em um quarto mamário são absorvidos pela corrente sangüínea e eliminados nos outros quartos mamários em níveis detectáveis pelos testes.

 

Manter anotações de todos tratamentos empregados. Devem incluir o nome ou o número da vaca tratada, data e motivo do tratamento, medicamento usado, período de descarte do leite e quem administrou o tratamento.

 

Não aumentar nem alterar a dosagem recomendada. A aplicação de uma dose dupla não significa dupla efetividade do antibiótico. Havendo necessidade de aumentar o período de aplicação, procurar informações com o Médico-Veterinário sobre o período de descarte do leite. É importante ter um plano para tratamento de mastite. Deve-se evitar o tratamento de infecções subclínicas crônicas que apresentam baixo sucesso de cura, como as causadas por Staphylococcus aureus.

 

Não combinar antibióticos diferentes, a não ser sob recomendação do Médico- Veterinário. Determinados antibióticos são antagônicos (têm efeitos contrários), o que interfere com a efetividade deles. Quando se fazem combinações, o período de descarte do leite fica alterado.

 

Conclusões

 

A imagem que os consumidores possuem do leite e dos derivados lácteos é de produtos saudáveis, nutritivos, livres de adulterantes, contaminantes e de substâncias que possam constituir riscos para a saúde do homem. A presença de resíduos de antibióticos ou outras substâncias químicas no leite pode criar uma imagem negativa dos produtos lácteos, prejudicando o consumo.

 

A porta de entrada de resíduos de antibióticos e outras substâncias químicas no leite é na produção primária. Por isso é muito importante que os produtores compreendam os fatores que levam à presença de resíduos no leite, e como preveni-los.

 

A produção e o processamento de leite de alta qualidade beneficia os produtores, a indústria e os consumidores e é importante para garantir a confiança do consumidor e a competitividade da cadeia produtiva do leite a médio e longo prazos. Portanto, todos os esforços devem ser feitos para assegurar que o leite que sai da propriedade seja de alta qualidade e livre de riscos para a saúde humana.

       

Esta é a edição nº 19 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 10 de Junho de 2008, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Paulo do Carmo Martins, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Pedro Braga Arcuri, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Marne Sidney de Paula Moreira e Chefe-adjunto de Administração: Luiz Fernando Portugal Silva. Editora Geral: Rosangela Zoccal. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Vanessa Maia A. de Magalhães. Projeto gráfico: Marcella Avila. Estagiárias: Milana Zamagno e Katyelen da Silva Costa.

 

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