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Redução da contagem total de bactérias: um dos grandes desafios da pecuária leiteira no Brasil
Guilherme Nunes de Souza - Pesquisadores da Embrapa Gado de Leite Cristiano G. de Faria e Leandro Rubiale - Analista da Embrapa Gado de Leite Luciano C. Dutra de Moraes - Assistente da Embrapa Gado de Leite |
A contagem total de bactérias (CTB) é de particular interesse para o produtor e para a indústria, pois reflete condições gerais de higiene no processo de produção do leite na fazenda. De forma geral, as principais fontes de contaminação bacteriana do leite cru podem ser divididas em três: glândula mamária infectada (mastite), pele dos tetos e do úbere e utensílios que entram em contato com o leite como baldes, latões, coadores, filtros, equipamento de ordenha e tanque de refrigeração. Após a ordenha, a temperatura e o tempo de armazenamento do leite em tanque de refrigeração influenciarão a habilidade de multiplicação de bactérias contaminantes. De acordo com a Instrução Normativa 51 (IN 51) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a partir de julho de 2007 a CTB do rebanho será requisito de qualidade e identidade do leite para todas as Regiões do Brasil. Os limites máximos estabelecidos para CTB em tanques de expansão individual com leite cru refrigerado inicialmente foram de 1.000.000 Unidades Formadoras de Colônias (UFC)/ml, com redução prevista para 750.000, e posteriormente para 100.000 para tanques de refrigeração individual e 300.000 para tanques de refrigeração coletivo (Anexo VI da IN 51).
Ao avaliarmos os resultados da CTB em amostras de leite de rebanhos localizados em diferentes Regiões do Brasil, observa-se que os percentuais de amostras dentro dos limites estabelecidos na IN51 entre o segundo semestre de 2005 ao primeiro semestre de 2008 não apresentaram grandes diferenças. O que pode ser observado durante o período foi o aumento do número de amostras analisadas e conseqüentemente de rebanhos avaliados. Tal fato se deve provavelmente devido a implantação da IN51 em julho de 2005, o que levou os laticínios, indústrias e estabelecimentos com inspeção federal a realizarem as análises previstas em amostras de leite de rebanhos. Apesar do número de amostras ter aumentado significativamente do ano de 2005 para 2008, os percentuais de amostras dentro dos limites estabelecidos na IN51 não sofreram grandes alterações (Tabela 1). |
Tabela 1. Número de amostras analisadas para contagem total de bactérias, média geométrica e percentual de amostras acima dos limites estabelecidos na Instrução Normativa 51 de 2005 a 2008 | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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Fonte: Laboratório de Qualidade do Leite - Embrapa Gado de Leite (Agosto, 2008) | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Os resultados apontam para a necessidade urgente de redução nas CTB no leite dos rebanhos analisados. A CTB é um indicador da higiene e limpeza da produção e do manuseio do leite na fazenda. Diversos estudos mostram que é possível produzir leite com CTB menor ou igual a 10.000 ufc/ml, e esta contagem é regularmente alcançada por produtores em diversos países.
Em geral, o
leite recém ordenhado apresenta baixo número de
microrganismos, mas esse número pode ser elevado quando
prevalecem baixas condições de higiene da ordenha e de
limpeza e higienização dos equipamentos e utensílios que
entram em contato com o leite. A temperatura e o tempo de
armazenamento determinam a extensão da multiplicação
bacteriana, que resultará na contagem final.
Esta redução
imediata foi observada no trabalho realizado pela Equipe de
Qualidade do Leite da Embrapa Gado de Leite durante os anos
de 2007 e 2008 para avaliar a eficiência do "Kit Embrapa
Ordenha Manual"do em quatro regiões brasileiras
(Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Minas Gerais, Goiás, São
Paulo e Rio Grande do Sul), em pequenas propriedades
produtoras de leite. Nesse estudo, foram feitas contagens
totais de bactérias no leite antes e depois de serem
recomendadas medidas de higiene da ordenha e limpeza dos
utensílios. Após três dias de uso das práticas recomendadas
em dez propriedades, houve uma redução média na CTB de
883.000 para 74.000 ufc/ml. Isso correspondeu à redução de
91,6% na contaminação bacteriana do leite.
O desafio de reduzir a CTB dos rebanhos pode ser vencido se houver uma difusão e imediata adoção em massa de tecnologias de fácil aplicação, que proporcionem higiene no processo de obtenção do leite, bem como a refrigeração imediata do mesmo. Para atender os limites mais rígidos de CTB, será necessário o esforço e envolvimento de todos os segmentos da cadeia produtiva do leite. A indústria laticinista pode contribuir incentivando a redução da CTB por meio de programas de pagamento do leite baseado em indicadores de qualidade e o Estado fazendo cumprir as exigências mínimas de qualidade por meio de fiscalização. |
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