Desempenho estadual das exportações brasileiras de lácteos de janeiro a novembro de 2008

Glauco Carvalho¹; Sarah Bartels Kirchmeyer Vieira².

¹Pesquisador da Embrapa Gado de Leite - glauco@cnpgl.embrapa.br
²Bolsista da Fapemig, estudante de Economia das Faculdades Integradas Vianna Júnior.
 

Em novembro de 2008 as exportações de lácteos totalizaram US$ 27,4 milhões ante US$ 58,7 milhões em outubro. Em relação a novembro de 2007 as vendas caíram pela metade. Ainda assim, o saldo da balança comercial brasileira de lácteos de janeiro a novembro de 2008 foi de US$ 290,7 milhões, com exportações atingindo o recorde de US$ 483,1 milhões e um crescimento de 91,7% em relação ao mesmo período de 2007 (Figura 1). Esse excepcional desempenho no ano ocorreu devido a um aumento de 56% no volume embarcado (em equivalente litro de leite) e de 27% nos preços. Essa é uma ótima notícia e mostra que nossas exportações estão gerando receita crescente e escoando parcela do excedente de produção. Mas os embarques precisam continuar em expansão.

* Janeiro a novembro de 2008.

Fonte: MDIC/AliceWeb. Elaboração do autor.

Figura 1 – Balança comercial de leite e derivados (US$ milhões)

Entre os produtos vendidos de janeiro a novembro, o leite em pó foi responsável por 68,9% do total, seguido pelo leite condensado (13,9%), leite modificado (5,8%) e queijos (5,8%). Além disso, estes produtos estão apresentando elevado crescimento nos embarques em relação a 2007 (Tabela 1). A receita com exportações de leite em pó aumentou mais de três vezes e a de leite condensado quase duplicou. Outros produtos também estão se destacando, como foi o caso da manteiga, cujas vendas cresceram mais de 52%.

Tabela 1 – Exportações brasileiras de lácteos, por produto: jan-nov/2008 (US$ mil)

Fonte: MDIC/AliceWeb. Elaboração dos autores.

Minas Gerais foi o Estado que mais contribuiu para o resultado das exportações, com embarques de US$ 224,5 milhões e um saldo de US$ 215,8 milhões. Os cinco principais estados produtores de leite, foram responsáveis por 97,8% dos embarques de janeiro a novembro de 2008. Nesse mesmo período de 2007 esses estados foram responsáveis por 93,2% da exportação. Em 2008, no entanto, o saldo está sendo bem mais expressivo (Tabela 2).

Em termos de crescimento das exportações, o melhor desempenho foi verificado em São Paulo, cujas exportações triplicaram. No Rio Grande do Sul e em Minas gerais as exportações praticamente duplicaram. Em Goiás, o desempenho foi mais modesto enquanto no Paraná as exportações caíram cerca de 7,7% em relação ao mesmo período de 2007. Portanto, no período analisado Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul ganharam participação na exportação enquanto o Paraná e Goiás perderam participação em relação a 2007 conforme a Figura 2.

Na avaliação de déficits e superávits verifica-se que Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo e Goiás registraram superávit na balança comercial de lácteos nos onze primeiros meses de 2008, enquanto o Paraná foi o único estado deficitário entre os grandes produtores de leite do Brasil. O saldo de Minas Gerais foi o maior e correspondeu a 74% do saldo brasileiro.

Tabela 2. Leite e derivados: balança comercial estadual (US$ mil)

Fonte: MDIC/AliceWeb. Elaboração dos autores.

Fonte: MDIC/AliceWeb. Elaboração dos autores.

Figura 2: Participação dos principais estados produtores de leite no total das exportações de lácteos (em %)

Para o próximo ano algumas preocupações são levantadas, principalmente devido a uma combinação de preços internacionais mais baixos e crise econômica mundial. No âmbito dos preços, vale destacar que tanto as cotações da União Européia quanto da Oceania registraram quedas significativas, movimento distinto daquele vivido no ano passado. As cotações do leite em pó no mercado internacional praticamente recuaram para o patamar de 2006.

A segunda preocupação surge pelo lado da demanda, já que a economia mundial deverá apresentar crescimento econômico em 2009 bem inferior ao registrado nos últimos anos. As projeções do Fundo Monetário Internacional, publicadas em novembro, indicam crescimento de 2,2% em 2009 ante 5,0% em 2007. Os países em desenvolvimento, que cresceram 8% em 2007 devem registrar expansão de 5,1% em 2009. Na América Latina as projeções indicam crescimento de 2,5% em 2009. Já as economias avançadas, o cenário é de recessão. Em média, essas economias deverão encolher cerca de 0,3%. Na Zona do Euro o produto interno bruto deverá recuar 0,5% e nos Estados Unidos, queda de 0,7%.

Uma outra preocupação no âmbito das exportações brasileiras refere-se aos destinos dos produtos lácteos, já que existe atualmente uma forte concentração de vendas em poucos países. A Venezuela, por exemplo, está comprando mais da metade de nossas exportações. O recuo nos preços do petróleo pode prejudicar os planos do presidente Hugo Chaves. Além disso, vários de nossos compradores de lácteos serão penalizados em termos de crescimento de renda em 2009. A Venezuela, por exemplo, deve crescer apenas 2,0%, bem aquém do crescimento de 2007, quando chegou a 8,4%.

Em síntese, novos desafios são apresentados para o próximo ano com queda de preço médio internacional, crescimento mundial menor, restrição de crédito e queda expressiva de renda de nosso principal parceiro comercial. Portanto, será mais difícil a negociação e renovação de nossos contratos.

Agradecimentos: à Fapemig que apoia e financia esta pesquisa.