Competitividade além do leite


Glauco Carvalho – Economista MSc, Pesquisador da Embrapa Gado de Leite – glauco@cnpgl.embrapa.br

Sarah Kirchmeyer Vieira, Estagiária da Embrapa Gado de Leite e estudante de economia das Faculdades Integradas Vianna Júnior

 

          

A competitividade possui elementos externos a cadeia produtiva propriamente dita, mas que afetam seu desempenho. Conforme salientado por Michael Porter (1999), a competitividade de um país depende da capacidade de sua indústria de inovar e melhorar. Além disso, as estruturas econômicas, as instituições e a historia são fatores que contribuem para o êxito competitivo. No mercado de leite, verifica-se que o Brasil possui competitividade em custos de produção e uma oferta em expansão, mas com nível de produtividade muito aquém do padrão internacional. No âmbito do macroambiente o Brasil possui indicadores adversos em relação a outras economias mais desenvolvidas ou mesmo em desenvolvimento. Nesse artigo fez uma avaliação de algumas variáveis relativas ao setor lácteo e outros indicadores mais gerais (instituições, infra-estrutura, estabilidade macroeconômica, inovação e tamanho do mercado) com base no relatório 2007-2008 do Fórum Econômico Mundial. Os países selecionados foram os Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e Argentina. 

 

A Tabela 1 apresenta resultados de produção, produtividade e custos de produção. O Brasil é o 6º maior produtor mundial de leite, com cerca de 25 bilhões de litros. Entre os países analisados o Brasil perde apenas para os Estados Unidos. A Nova Zelândia, Austrália e Argentina vêm em seguida como importantes produtores. Entre 1996 e 2006, a produção mundial cresceu de 17%. Nesse mesmo período a produção da Nova Zelândia avançou 45% e a do Brasil 33%, portanto bem acima da média mundial. A produção dos Estados Unidos acompanhou o crescimento da média mundial enquanto a Austrália e Argentina apresentaram desempenho pior. A produção na Austrália aumentou 14%, enquanto na Argentina houve recuo de 11%.

 

O aumento de produção no Brasil ocorreu principalmente devido ao aumento da produtividade média. Ainda assim, o país ocupa uma posição ruim no âmbito mundial nesse indicador, com uma produtividade quase três vezes inferior a da Nova Zelândia e sete vezes menor que a dos Estados Unidos. Já no âmbito de custos, o Brasil encontra-se no segundo grupo de maior competitividade, entre US$ 0,18 e US$ 0,23 por litro, ao lado de Nova Zelândia e Austrália. A Argentina possui o menor custo de produção enquanto os Estados Unidos tem o custo mais elevado.

 

Tabela 1 – Pecuária de leite: produção, produtividade e custos em países selecionados.

 

             Fonte: FAO e IFCN. Elaboração dos autores.
 

No relatório do Fórum Econômico Mundial 2007-2008 foram analisados 131 países. No pilar Avaliação Global o Brasil ocupou a 72ª posição e uma pontuação de 3,99 em um total de 7,0. Os Estados Unidos ocuparam a 1ª posição, com uma pontuação de 5,67. A Austrália apareceu em 19ª posição enquanto Nova Zelândia e a Argentina ficaram na 24ª e 85ª posições, respectivamente. Portanto, o Brasil ficou na frente apenas da Argentina, que obteve baixa avaliação em instituições e inovação. A Figura 1 ilustra uma comparação do Brasil com os demais países em seis pilares, incluindo a avaliação global. Uma avaliação mais detalhada de cada pilar pode ser verificada nas tabelas 2 e 3, com a posição no ranking global e a pontuação recebida.

 

             Fonte: Fórum Econômico Mundial. Elaboração dos autores

             Figura 1: Avaliação da competitividade global de países selecionados

 

Tabela 2. Pilares de competitividade em países selecionados: posição no ranking de 131 países e nota de até no máximo 7

 

                 Fonte: Forum Econômico Mundial. Elaboração dos autores.
 

Tabela 3. Pilares de competitividade em países selecionados: posição no ranking de 131 países e nota de até no máximo 7

 

                 Fonte: Forum Econômico Mundial. Elaboração dos autores.
 

Para a Estabilidade Macroeconômica, o 1º lugar entre os países analisados foi ocupado pela Austrália que ficou na 34ª posição no ranking geral. Em seguida apareceu a Nova Zelândia, Argentina e Estados Unidos. O Brasil ficou em último lugar entre os países analisados e um dos últimos no âmbito mundial, já que continua com problemas que prejudicam a competitividade: alto spread bancário; gastos públicos elevados e alta carga tributária; setor público ineficiente e incapaz de prover serviços públicos e infra-estrutura de qualidade; um sistema legal complexo, burocratizado e lento.

 

Na avaliação de Instituições, a Nova Zelândia foi o país com melhor desempenho, ocupando a 9ª colocação no ranking global. A Austrália, os Estados Unidos, o Brasil e a Argentina, nessa ordem, vieram na seqüência. As instituições têm uma forte influência sobre a competitividade e crescimento econômico, pois desempenham papel relevante nas relações sociais, nas estratégias e políticas de desenvolvimento. Além disso, elas têm um peso elevado em decisões do investimento e na organização da produção. No Brasil, a recente crise aérea, os escândalos de corrupção e os problemas de fraude no leite são sinais de fragilidade institucional.

 

No quesito infra-estrutura, os Estados Unidos ficaram na 6ª posição no ranking geral. A Austrália, Nova Zelândia, Brasil e Argentina vieram em seguida. A baixa avaliação do Brasil (78ª) reflete os diversos problemas relacionados à qualidade da infra-estrutura de transportes, comunicação e de fornecimento de energia, como reflexos dos baixos investimentos públicos e falta de ambiente regulatório transparente. Os gargalos da infra-estrutura afetam diretamente o setor lácteo em função, principalmente, dos custos logísticos.


          No pilar Inovação os Estados Unidos ocuparam 4ª posição, seguido pala Austrália (23ª) Nova Zelândia (25ª), Brasil (44ª) e Argentina (83ª). Isso mostra que ocorre no Brasil algumas distorções de prioridades, já que o país está relativamente melhor classificado em indicadores mais sofisticados, como o de Inovação e encontra-se em posições ruins em pilares dos fatores básicos como Instituições, Infra-estrutura, Macroeconomia.

 

No pilar Tamanho do Mercado, o Brasil apresentou melhor desempenho. A colocação brasileira foi a 10ª com uma nota de 5,44. Entre os países analisados o Brasil ficou abaixo apenas dos Estados Unidos, que ocupou a 1ª posição mundial já que possui população elevada e com alto poder de compra. Austrália, Argentina e Nova Zelândia vieram depois. Os mercados maiores permitem que as empresas explorem economias de escala, ganhando competitividade.

 

E síntese, o Brasil é competitivo em custo de produção, porém é o pior colocado na Estabilidade Macroeconômica entre os cinco países analisados. No âmbito das Instituições a colocação brasileira está à frente somente da Argentina, o mesmo ocorreu nos quesitos, Infra-estrutura e Inovação. O melhor desempenho brasileiro ocorreu no Tamanho de mercado, fornecendo boa contribuição para o setor lácteo. Isso, porque populações maiores tendem a apresentar maior potencial de consumo de leite. Resta, no entanto, avançar nos demais indicadores para que o país cresça em ritmo mais elevado, com melhorias na renda e em sua distribuição. Por fim, avanços nas demais áreas serão importantes para o posicionamento mais competitivo da indústria de laticínios no cenário global.

 

 

Esta é a edição nº 13 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 7 de dezembro de 2007, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Paulo do Carmo Martins, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Pedro Braga Arcuri, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Marne Sidney de Paula Moreira e Chefe-adjunto de Administração: Luiz Fernando Portugal Silva. Editora Geral: Rosangela Zoccal. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Vanessa Maia A. de Magalhães. Projeto gráfico: Marcella Avila. Editoração eletrônica: Angela de Fátima A. Oliveira e Leonardo Fonseca. Estagiário: Rafael Junqueira.

 

 

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