Sistemas silvipastoris e mudanças climáticas


Marcelo D. Müller; Elizabeth N. Fernandes; Domingos S. C. Paciullo – Pesquisadores da Embrapa Gado de Leite - muller@cnpgl.embrapa.br

 

O aumento desproporcional da concentração de gases efeito estufa – GEE’s na atmosfera no decorrer do último século, em função da atividade humana, levou a comunidade internacional a criar e estabelecer instituições e organismos voltados para a gestão deste problema. Durante a Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro em 1992, foi criada a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – UNFCCC, representando um esforço global de cerca de 180 países no sentido de estabilizar as emissões de GEE’s (YU, 2004). Após a entrada da UNFCCC em vigor, em 1994, passaram a ser realizadas anualmente reuniões entre os representantes dos países signatários para a tomada de decisões em relação às mudanças climáticas. Estas reuniões foram denominadas de Conferência das Partes – COP (CARVALHO et al., 2002). A terceira conferência das partes – COP 3, realizada em Quioto, Japão, em 1997, culminou com o estabelecimento do Protocolo de Quioto estabeleceu que os países industrializados devessem reduzir suas emissões em 5,2% (em média) abaixo dos níveis observados em 1990, no período compreendido entre 2008 e 2012 (MCT, 2006). Foram estabelecidos três mecanismos de flexibilização (Implementação Conjunta, Comércio de Emissões e Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - MDL) como uma forma de viabilizar a redução de emissões de GEE dos países desenvolvidos. Dentre estes mecanismos o mais importante para os países em desenvolvimento é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL, que tem como objetivo assistir aos países não desenvolvidos, para que elas atinjam o desenvolvimento sustentável e contribuam para o objetivo final da Convenção (MCT, 2006). Sendo assim, este mecanismo permite que os países desenvolvidos financiem projetos de redução de emissões ou seqüestro de carbono em países em desenvolvimento, como forma de cumprir seus compromissos e, ao mesmo tempo, contribuir para o desenvolvimento sustentável dos países emergentes (JACOVINE et al., 2006). Dentre os projetos elegíveis para mitigação de emissões vale destacar os projetos de florestamento e reflorestamento, incluindo aí a possibilidade de Sistemas Agroflorestais.

 

A par disso, diversos autores têm investido no estudo da dinâmica do carbono em sistemas silvipastoris. SHARROW & ISMAIL (2004) observaram maior eficiência no seqüestro de carbono e nitrogênio em um sistema silvipastoril comparado a pastagem e um plantio florestal com 11 anos de idade, em Oregon, nos Estados Unidos. Resultado semelhante foi observado por KAUR et al (2002) em um sistema silvipastoril implantado em solos com altos teores de sódio na região noroeste da Índia e TSUKAMOTO FILHO (2003), em um sistema agrossilvipastoril com eucalipto na região Noroeste de Minas Gerais.

 

GUTMANIS (2004) observou que, gramíneas utilizadas em um SSP com Pinus chegaram a contribuir com 43% do carbono estocado na densidade de 200 árvores/ha, e com 23% na densidade de 400 árvores/ha.

 

Na Colômbia, Giraldo et al. (2005; 2006) desenvolveram estudos sobre quantificação de carbono em sistemas silvipastoris em duas regiões diferentes.

 

Na região dos Andes da Colômbia, foram testadas duas densidades de plantio (1.111 e 407 árvores/ha), onde se constatou que não houve uma diferença muito pronunciada na quantidade de carbono estocada entre os dois sistemas, apesar da grande diferença do número de árvores. Em outro estudo, novamente foram testadas duas densidades de plantio (170 e 100 árvores/ha), onde também não foi identificada diferença significativa entre as densidades de plantio.

 

Em todos os casos citados acima, os sistemas silvipastoris se mostraram mais eficientes do que a pastagem e a floresta solteira, como sumidouros de carbono.

 

Dessa forma, diante da possibilidade de utilização de projetos florestais e agroflorestais, como forma de mitigação de emissões de gases efeito estufa e considerando as premissas de desenvolvimento sustentável, exigidas como condicionantes para elegibilidade de projetos, torna-se fundamental o estudo de alternativas de manejo de florestas, bem como de sistemas de uso do solo que proporcionem a integração de objetivos sócio-econômicos e ambientais. Recentemente, foi aprovada uma metodologia de linha de base para projetos de seqüestro de carbono com sistemas silvipastoris (ver: Afforestation or reforestation on degraded land allowing for silvopastoral activities --- Version 1, no site da UNFCCC).

 

Entretanto, vale ressaltar que a literatura científica a respeito do seqüestro de carbono em sistemas agroflorestais ainda é escassa quando comparada à literatura referente a plantios homogêneos (MONTAGNINI & NAIR, 2004). Sendo assim, justifica-se a necessidade de estudo e da estimação dos estoques de biomassa e carbono nos diversos compartimentos do sistema a fim de se conhecer o potencial dos sistemas silvipastoris na produção de biomassa e seqüestro de carbono.

 

Em um mercado globalizado e cada vez mais competitivo, a possibilidade de agregar valores aos sistemas silvipastoris, com o emergente “mercado de créditos de carbono”, e de contribuir para redução nas emissões de CO2 na atmosfera, cria perspectivas otimistas de expansão para o setor florestal e agropecuário brasileiro.

Esta é a edição nº 13 do informativo eletrônico, Panorama do Leite, de 7 de dezembro de 2007, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa. Embrapa Gado de Leite – Chefe-geral: Paulo do Carmo Martins, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Pedro Braga Arcuri, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Marne Sidney de Paula Moreira e Chefe-adjunto de Administração: Luiz Fernando Portugal Silva. Editora Geral: Rosangela Zoccal. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Vanessa Maia A. de Magalhães. Projeto gráfico: Marcella Avila. Editoração eletrônica: Angela de Fátima A. Oliveira e Leonardo Fonseca. Estagiário: Rafael Junqueira.

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