Fertilizantes em alta afetam custo do agricultor


Glauco Carvalho – Economista, pesquisador da Embrapa Gado de Leite
glauco@cnpgl.embrapa.br

 

O faturamento do setor de fertilizantes no Brasil é de aproximadamente US$ 5,5 bilhões. As vendas estão apresentando elevado crescimento em 2007. Os preços também encontram-se em patamar mais alto e os agricultores devem ter seus custos de produção pressionados na próxima safra de grãos.

 

O Brasil é o quarto maior consumidor mundial de nutrientes para a formulação de adubo, ficando atrás apenas da China, Estados Unidos e Índia. Apesar disso, a aplicação do produto nas lavouras ainda é baixa em relação a outros países com agricultura desenvolvida. Estima-se que o produtor norte-americano aplique, em média, 1,8 vezes mais fertilizantes por unidade de área do que o produtor brasileiro. Para atender a demanda, o Brasil é o quinto maior importador de fertilizantes, com cerca de 12,1 milhões de toneladas em 2006. As principais importações são de potássicos oriundos da Rússia e do Canadá e de nitrogenados dos EUA e Rússia. Mesmo no caso dos fosfatados, mais disponíveis internamente, as importações representam mais de 50% do consumo aparente.

 

O mercado brasileiro de fertilizantes segue bastante aquecido, devido principalmente ao crescimento da produção agrícola. Em 2006/2007, a safra brasileira de grãos cresceu cerca de 7,0% para 131 milhões de toneladas. A expansão da área de cana-de-açúcar também está impulsionando as vendas do setor. Nos primeiros sete meses de 2007, as vendas de fertilizantes atingiram cerca de 11,6 milhões de toneladas, mostrando um crescimento de 55% em relação ao mesmo período do ano passado. Já a produção, registrou aumento de 13%, atingindo 5,37 milhões de toneladas. Portanto, a demanda foi suportada pelas importações, que apresentaram crescimento de 72,7% no período analisado e chegaram em 9,33 milhões de toneladas (Figura 1).

                   Fig.1 Produção, importação e vendas de fertilizantes no Brasil (milhões de toneladas)

 

No mercado mundial, a demanda por fertilizantes também segue bastante aquecida. A expansão da demanda por milho, cana-de-açúcar e outras lavouras para produção de biocombustíveis e a alta nos preços internacionais de grãos estimularam o aumento do plantio em todo o mundo, especialmente na China, Estados Unidos, Brasil e Índia, todos grandes produtores agrícolas.

 

Do lado da oferta, ocorreram inundações em minas de cloreto da Rússia e EUA, que são os principais fornecedores da matéria-prima, o que provocou uma redução da disponibilidade global. Além disso, a elevação dos preços do petróleo e do gás no mercado mundial está pressionando os custos de produção de alguns produtos. Vale ressaltar ainda, que a elevada concentração da produção mundial de fertilizantes em poucos grupos garante elevado poder de barganha das empresas atuantes no setor.

 

No mercado brasileiro, os preços dos fertilizantes estão apresentando valorização expressiva. Os preços de NPK registraram valorização, em reais, de 22% em julho de 2007 em relação a julho de 2006. Em dólar, o incremento foi de aproximadamente 42% atingindo US$ 353/tonelada no último mês, segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). A Figura 2 ilustra a evolução mensal dos preços, com destaque para a elevação ocorrida no primeiro semestre de 2007.

                              Fig. 2 Evolução dos preços de NPK no mercado brasileiro: US$/t

 

A Figura 3 também ilustra a variação dos preços de diferentes fertilizantes ocorrida no período de 12 meses até agosto de 2007. Destacam-se as elevações ocorridas no superfosfato simple e superfosfato triplo, ambas superiores a 50%. Mesmo nos demais produtos, que apresentaram valorização inferior, a alta de preços foi relevante.

                                 Fig. 3 Variação dos preços de fertilizantes entre agosto de 2006 e agosto de 2007 (em %).

 

Nesse sentido os agricultores devem sofrer pressão altista nos custos de produção. Os fertilizantes representaram entre de 20% a 30% do custo total de produção de milho, conforme levantamento da Conab para a safra 2006/2007. No caso da soja, essa participação variou entre 15% e 25% do custo total dependendo da região e do sistema de produção. A Figura 4 mostra a piora na relação de troca de algumas culturas entre maio de 2006 e maio de 2007 em relação ao preço dos fertilizantes.

 

                Fig. 4. Quantidade de produto agrícola para comprar uma tonelada de fertilizante.

Esta é a edição nº 10, do informativo eletrônico, Panorama do Leite de 03 de Setembro de 2007, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais Seapa. Embrapa Gado de Leite Chefe-geral: Paulo do Carmo Martins, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Pedro Braga Arcuri, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Marne Sidney de Paula Moreira e Chefe-adjunto de Administração: Luiz Fernando Portugal Silva. Editora Geral:Rosangela Zoccal. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Estagiária: Lidiane Medeiros Santos. Colaboração: Vanessa Maia A. de Magalhães Projeto Gráfico: Marcella Avila. Editoração eletrônica: Leonardo Fonseca. Estagiário: Rafael Junqueira.

Para não receber mais este newsletter do Centro de Inteligência do Leite. Clique aqui