Milho: exportações e preços em alta

Glauco Carvalho e Alziro Carneiro
Pesquisadores da Embrapa Gado de Leite
glauco@cnpgl.embrapa.br e alziro@cnpgl.embrapa.br

As exportações de milho seguem firmes e com recorde de volume embarcado. Os preços do cereal também registraram forte elevação nos últimos três meses. Na praça de Campinas – SP a saca de 60 kg passou de R$19 para R$ 27 entre julho e setembro de 2007. No final de setembro ocorreram negócios a R$28/saca de 60 kg.

O contrato futuro na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), também indicou cotação em elevação no último mês. Para o vencimento em novembro de 2007 o indicador de preços passou de R$ 24/saca em meados de agosto para R$ 27 no final de setembro. O mesmo foi verificado nas cotações para janeiro de 2008. Já para março e maio de 2008, quando a próxima safra estará sendo comercializada, as indicações são de preços no patamar de R$ 23/saca (Figura 1).

       Fonte: BM&F

       Fig. 1. Evolução dos preços futuros do milho (R$ / 60kg)

Essas indicações de preços de milho mostram certa pressão da alimentação concentrada sobre os custos de produção de leite. A Figura 2 ilustra o comportamento dos preços futuros e os verificados no mesmo mês do ano anterior, indicando preços mais elevados até pelo menos meados de 2008. Para novembro de 2007, as previsões indicam preços 16,8% acima do realizado em novembro do ano passado. Para maio e julho de 2008 projeta-se alta de 21,7% e 19,8% sobre maio e julho de 2007, respectivamente.

       Fonte: BM&F/Embrapa Gado de Leite

       Fig. 2. Preços futuros do milho e preços realizados no mesmo mês do ano anterior (R$ / 60kg)

A comercialização de milho no Brasil tem sido bastante influenciada pelo ritmo das exportações. Entre janeiro e agosto o país exportou 5,58 milhões de toneladas, volume bem superior ao resultado de todo o ano de 2006, de 3,9 milhões de toneladas (Figura 3). Os embarques de setembro e outubro devem permanecer robustos e o país poderá atingir/superar a marca de 10 milhões de toneladas de milho exportado neste ano safra.

           Fonte: Sedex: Elaboração: CILeite

           Fig. 3. Milho: evolução mensal das exportações

A demanda da União Européia continua muito agressiva pelo milho brasileiro, sobretudo devido às restrições contra os transgênicos. Aliás os europeus têm importado milho brasileiro com preços acima do realizado pelos Estados Unidos. Os embarques de milho para a União Européia nos primeiros oito meses deste ano foram de 2,09 milhões de toneladas ante 977 mil toneladas em todo o ano de 2006. O bloco já representa cerca de 37,5% do embarques brasileiros (Figura 4).

       Fig. 4. Exportação brasileira de milho por destino

A safra de milho da UE em 2007/2008 está prevista em 46,9 milhões de toneladas, com recuo de 15% em relação ao ano anterior, segundo relatório de oferta e demanda divulgado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos em setembro. Os estoques finais devem cair de 10,6 milhões de toneladas para 3,7 milhões de toneladas. O mesmo movimento deverá ocorrer no trigo, com estoques recuando de 14,5 milhões de toneladas em 2006/2007 para 11 milhões de toneladas em 2007/2008. Portanto, a queda da produção de milho e de trigo da União Européia em 2007/2008 com elevação da demanda por ração está provocando aumento das importações do bloco. Para o milho, projeta-se aumento entre 2 e 3 milhões de toneladas na importação no ano safra 2007/2008. No caso do trigo espera-se 1 milhão de tonelada a mais.

Nesse sentido, a Europa deverá continuar comprando milho brasileiro até pelo menos julho de 2008, quando deverá ser colhida a nova safra da União Européia. Para 2008, a Argentina sinaliza para um potencial exportador mais elevado, o que pode direcionar parte das compras da União Européia, Irã e Coréia do Sul para esse país. Todavia, até março de 2008 as únicas alternativas são Brasil e Estados Unidos, este último com produto transgênico. Além disso, toda a alta de produção de milho nos Estados Unidos na safra 2007/2008 deverá ser direcionada para a produção de etanol, alterando pouco o excedente de exportação (Figura 5).

Por fim, o comportamento das exportações brasileiras de milho e a situação climática são variáveis que merecem ser acompanhadas de perto, pois poderão interferir nos preços praticados no próximo ano safra. Aliás a preocupação atual refere-se ao clima no Brasil, tendo em vista um setembro muito seco e com atraso de plantio da safra 2007/2008.

     Fonte: USDA. Elaboração: Embrapa Gado de Leite

     Fig. 5. Demanda de milho nos estados Unidos (milhões de toneladas)