Contagem de células somáticas (CCS) em leite de cabra

 

Guilherme N. de Souza, Cristiano G. de Faria,Luciano C. D. de Moraes e Leandro Rubiale
- Embrapa Gado de Leite - Laboratório de Qualidade do Leite

      

CÉLULAS SOMÁTICAS

 

Células somáticas são aquelas encontradas no leite e que se originam do sangue e da glândula mamária. A maioria destas células passam do sangue para a cisterna da glândula mamária em resposta a um estímulo e uma pequena proporção desprendem-se da glândula a medida que envelhecem. Essas últimas são conhecidas como células epiteliais. As células que se originam do sangue são as células brancas ou leucócitos e possuem a capacidade de defender o animal de agressões externas. Estas agressões podem ser causadas por microrganismos, traumas e substâncias químicas. As causas mais freqüentes de agressão a glândula mamária são os microrganismos e dentre estes as bactérias são as mais importantes.

 

CÉLULAS SOMÁTICAS E QUALIDADE DO LEITE

 

Células somáticas são usadas como indicador de qualidade do leite tanto para vacas como para cabras. Normalmente a CCS no leite de cabras não infectadas é maior que no leite de vacas não infectadas. Em média, a CCS no leite de vacas livres de infecções intramamária varia de 40.000 a 80.000 células/ml de leite. No leite de cabras livres de infecções intramamárias a contagem varia de 50.000 a 400.000 células/ml. O principal fator que contribui para a CCS mais elevada no leite de cabra é a maneira como o leite é secretado pela glândula mamária. 

 

GLÂNDULA MAMÁRIA DE CABRAS

 

De acordo com o processo de secreção, as glândulas são classificadas como merócrinas, holócrinas e apócrinas. Nas glândulas merócrinas é eliminado somente o produto de secreção. Este é o caso da glândula mamária dos bovinos, pâncreas e glândulas salivares. Nas holócrinas, a célula toda se destaca da glândula, arrastando consigo o seu produto de secreção acumulado. O exemplo clássico desse tipo é a glândula sebácea. As glândulas apócrinas são intermediárias. Nelas o produto de secreção é eliminado juntamente com pequena parte da célula. Este tipo de secreção ocorre na glândula mamária de cabras e glândulas sudoríparas. Como resultado da liberação de leite pela glândula mamária de cabras, uma porção das células secretórias são desprendidas. Apesar da maioria destas porções ou partículas celulares serem anucleadas (não conterem fragmentos do núcleo), há uma proporção destas partículas celulares que possuem fragmentos do núcleo. Devido a presença de partículas celulares nucleadas, somente procedimentos de contagem que são específicos para identificação do DNA (contador celular eletrônico e contagem celular por microscopia direta usando corante específico para DNA) devem ser usados para estimar a concentração de células somáticas no leite de cabras.

 

DIAGNÓSTICO DA MASTITE

 

O diagnóstico da mastite clínica, tanto bovina como caprina, é baseado primariamente na presença de sintomas. Entretanto, a detecção da mastite subclínica representa problema em ambas espécies. O diagnóstico desta forma da doença é feito através de exames bacteriológicos, sendo método auxiliar os testes baseados no aumento do conteúdo celular da glândula mamária. Estes testes são bem difundidos devido a praticidade e rapidez de execução. O Califórnia Mastite Teste (CMT) e CCS são os mais utilizados. O CMT mede indiretamente a concentração de células no leite e é um dos mais difundidos como auxiliar no diagnóstico da mastite subclínica em bovinos. O reagente do CMT reage com o DNA do núcleo das células somáticas resultando em uma mistura gelatinosa. A avaliação dos resultados na prova do CMT é feita de forma subjetiva através da viscosidade desenvolvida (Tabela 1 e 2). A CCS é largamente aceita como indicador do estado de saúde da glândula mamária. Devido à presença de grande quantidade de células epiteliais e partículas celulares no leite caprino, a estimativa da concentração de leucócitos pode ser interpretada de maneira errada. O CMT e a CCS são úteis no diagnóstico da mastite subclínica em caprinos, entretanto, vários fatores devem ser levados em consideração ao interpretar os resultados. Métodos aceitáveis para testar o leite de cabra devem ser específicos para DNA, os quais diferenciam células nucleadas de partículas celulares. Teste confirmatório para a contagem de células somáticas no leite de cabra é a microscopia direta utilizando-se o Corante Pironina Y pois permite a diferenciação entre células nucleadas e partículas celulares.

 

 

PADRÕES INTERNACIONAIS

 

O aumento no comércio internacional de produtos lácteos tem levado muitos países, especialmente da União Européia, a desenvolver padrões rígidos para células somáticas. A União Européia impôs um limite de 400.000 células/ml para o leite bovino, enquanto que os requerimentos para  o Canadá e Estados Unidos são 500.000/ml e 750.000/ml, respectivamente. O limite de células somáticas é também motivo de grande preocupação para produtores de cabras e processadores. Nos últimos quinze anos tem sido exaustivamente estudada a CCS em caprinos e sua relação com a qualidade do leite e saúde do úbere. Entretanto, poucos estudos têm sido realizados para avaliar a CCS do leite total de rebanho caprino. No momento, a CCS de 1.000.000 células/ml é o limite regulamentado para rebanhos tipo A nos Estados Unidos. Esforços são realizados para reduzir o atual padrão da CCS do leite de cabra de 1.000.000 células/ml para 750.000 células/ml.

 

EXPERIÊNCIA NA NORUEGA

 

Na Noruega, o leite de cabra é entregue pelo produtor a cada dois ou três dias. Cada rebanho é amostrado duas vezes por mês para a análise de proteína, gordura, lactose e CCS do leite total. Há uma classificação para pagamento pela qualidade baseada em limites de CCS do leite total. Há prêmios para rebanhos que possuem CCS menores que 1.200.000 células/ml e entre 1.200.000 e 1.500.000 células/ml. Rebanhos com CCS do leite total maiores que 1.500.000 células/ml não recebem prêmio. O primeiro ano de pagamento pela qualidade do leite foi em 1995 e 82,2% dos rebanhos receberam 4% a mais no pagamento (CCS do leite total < 1.200.000 células/ml), 12,8% receberam 2% a mais pelo leite (CCS do leite total entre 1.200.000 e 1.500.000 células/ml) e apenas 5% dos rebanhos não receberam pagamento adicional (CCS do leite total > 1.500.000 células/ml). Este foi o primeiro passo para alcançar alta qualidade do leite de cabras. Neste país, o leite de cabra também é pago de acordo com o conteúdo total de proteína, gordura e lactose desde janeiro de 1995.

 

Um dos problemas encontrados para analisar a CCS do leite total é a variação sazonal devido a concentração de partos durante o inverno, o que dificulta também estabelecer um esquema de pagamento pela qualidade. A média geométrica da CCS do leite total é baixa durante os meses de fevereiro a maio, começando a aumentar durante o verão e atingindo valores máximos no outono (Figura 1).

 

Verificou-se na Noruega, que rebanhos ordenhados manualmente possuem em média o valor de CCS do leite total de 540.000 células/ml e aquelas ordenhados mecânicamente possuem 720.000 células/ml.

      

Estes dados indicam que os equipamentos de ordenha mecânica e procedimentos de manejo durante a ordenha não tiveram progresso em relação a saúde do úbere de cabras nos últimos 20 anos.

 

 

Esta é a edição nº 10, do informativo eletrônico, Panorama do Leite de 03 de Setembro de 2007,  uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais Seapa. Embrapa Gado de Leite Chefe-geral: Paulo do Carmo Martins, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Pedro Braga Arcuri, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Marne Sidney de Paula Moreira e Chefe-adjunto de Administração: Luiz Fernando Portugal Silva. Editora Geral:Rosangela Zoccal. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Estagiária: Lidiane Medeiros Santos. Colaboração: Vanessa Maia A. de Magalhães  Projeto Gráfico: Marcella Avila. Editoração eletrônica: Leonardo Fonseca. Estagiário: Rafael Junqueira.

 

 

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