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Prevenção de doenças em rebanhos leiteiros
Guilherme N. de Souza e José Renaldi F. Brito |
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Nas últimas décadas, os avanços tecnológicos contribuíram para um aumento sem precedentes no ganhos de produção de animais individuais e produtividade dos rebanhos leiteiros. Para possibilitar esse aumento na produção e na produtividade, foram necessárias mudanças significativas na alimentação e na forma de exploração, alterando assim o comportamento dos animais e ambiente de produção. Associado às modificações realizadas no sistema de produção, o estado sanitário do rebanho teve papel importante no alcance do máximo de produção e produtividade. Ao mesmo tempo em que ocorreram estas mudanças, houve intensificação da produção por meio de rebanhos com alta densidade de animais, venda e compra de animais para reposição, melhoramento genético e seleção de animais com características zootécnicas superiores. Esses aspectos podem contribuir para a transmissão de doenças e dificultar o controle. Este texto descreve de forma sucinta os principais avanços e desafios relacionados ao controle de doenças em rebanhos bovinos leiteiros.
A mudança de foco do tratamento clínico para a prevenção de doenças pode ser considerada o maior avanço relacionado às melhorias das condições de saúde do rebanho leiteiro. No início do século passado, o foco principal era na erradicação de doenças clínicas de caráter infeccioso, como exemplo a tuberculose e a brucelose que proporcionaram grandes prejuízos econômicos, ameaçaram o suprimento de alimentos de origem animal e colocaram em risco a saúde pública. No início da década de 1940, foi dada mais atenção aos produtos de origem animal utilizados na alimentação humana. Nesse período, os antibióticos tornaram-se disponíveis, revolucionando, assim, o tratamento de doenças e práticas veterinárias rotineiramente realizadas, como as cesarianas. Esforços no tratamento de doenças continuaram a ser direcionados, mas a vacinação começou a ser utilizada em paralelo, como exemplo, o controle da brucelose. Em meados da década de 60, a ênfase foi maior no sentido de prevenir as doenças ao invés de priorizar as opções de tratamento. O reconhecimento de doenças subclínicas como fator limitante da produtividade foi importante no controle das doenças infecciosas. Esse período foi marcado pelo início da remuneração de médicos veterinários pelos produtores para realizar visitas periódicas, mesmo na ausência de emergências ou de animais clinicamente doentes para serem tratados. Os esforços na prevenção de doenças foram direcionados na identificação e tratamento de vacas que apresentavam infertilidade e mastite. No final dos anos 80, foram estabelecidos programas de saúde para rebanhos leiteiros. Avaliação de dados quantitativos associada à identificação, em estágios iniciais, de problemas limitantes relacionados à produção e à produtividade foi o principal foco. Neste particular, o desenvolvimento de novas habilidades analíticas por parte dos veterinários, incluindo a análise econômica, auxiliou na tomada de decisão relacionada ao manejo sanitário do rebanho leiteiro.
Um passo importante na prevenção de doenças foi de que o foco de atenção deveria ser o rebanho, independente do seu tamanho, ou em grupos de animais, e não em vacas individualmente. A epidemiologia pode ser considerada como o principal avanço específico na prevenção de doenças. A expansão do conhecimento de epidemiologia aplicada à medicina veterinária tem sido significativa devido ao grande progresso, sofisticação e disponibilidade de métodos estatísticos, softwares, computadores e habilidade em trabalhar com grandes bases de dados, que permitiram quantificar e identificar relações entre doença, produção, reprodução e descarte de vacas leiteiras.
Na Embrapa Gado de Leite foram conduzidos estudos observacionais e de identificação de fatores de risco determinantes de mastite, com 175 rebanhos entre os anos 2003 e 2005. No estudo foi identificado que rebanhos com contagem de células somáticas (CCS) menor que 250.000 células/ml e maior que 750.000 células/ml apresentaram diferenças significativas no percentual de vacas infectadas por Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae.
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Fatores de risco para mastite subclínica causada por S. aureus e S. agalactiae foram associadas à característica individual das vacas, ausência de manutenção e uso inadequado do equipamento de ordenha, procedimentos inadequados no momento da ordenha e na aplicação de antibiótico via intramamária e não utilização de suporte laboratorial para diagnóstico da mastite. Nos rebanhos em que era usado um pano comum para secar as tetas das vacas havia 3,23 mais chance (risco) de ter vacas |
infectadas por S. aureus em relação aos rebanhos onde o papel toalha descartável foi utilizado para a mesma finalidade. Os fatores de risco para mastite subclínica causada por S. aureus e S. agalactiae identificados no estudo são apresentados nas Tabelas 1 e 2.
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Tabela 1. Fatores de risco associados a mastite subclínica causada por Staphylococcus aureus.
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Tabela 2. Fatores de risco associados a mastite subclínica causada por Streptococcus agalactiae.
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É importante ressaltar que conhecimentos específicos relacionados à saúde do úbere, à imunologia, ao bem-estar animal, ao manejo sanitário dos bezerros, e ferramentas de monitoramento, como a CCS dos animais e dos rebanhos, também proporcionaram grande avanço no controle e prevenção de doenças. Porém, a mudança de foco do tratamento para a prevenção de doenças pode ser considerada o maior avanço em termos de controle de doenças dos bovinos leiteiros. O resultado foi significativo e observou-se principalmente redução na freqüência de animais com febre do leite, mastite contagiosa e mastite severa causada por coliformes. |
O entendimento e domínio da epidemiologia e fisiopatologia por si só não proporcionarão a redução na incidência das doenças. O grande desafio nesse aspecto é a implementação efetiva de procedimentos adequados de manejo que permitam reduzir e prevenir substancialmente estas doenças. A habilidade em traduzir o conhecimento e aplicá-lo nos rebanhos leiteiros na prevenção de problemas sanitários requer que a fazenda (rebanho) seja visto como um sistema integrado. Paralelamente, esforços devem ser direcionados para educar, capacitar e motivar o pessoal envolvido com a atividade. |
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Esta é a edição nº 11, do informativo eletrônico, Panorama do Leite de 04 de outubro de 2007, uma publicação mensal de responsabilidade do Centro de Inteligência do Leite CILeite, criado em parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais Seapa. Embrapa Gado de Leite Chefe-geral: Paulo do Carmo Martins, Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Pedro Braga Arcuri, Chefe-adjunto de Comunicação e Negócios: Marne Sidney de Paula Moreira e Chefe-adjunto de Administração: Luiz Fernando Portugal Silva. Editora Geral:Rosangela Zoccal. Coordenador de Jornalismo: Rubens Neiva. Redação: equipe técnica do CILeite. Colaboração: Vanessa Maia A. de Magalhães Projeto Gráfico: Marcella Avila. Editoração eletrônica: Leonardo Fonseca. Estagiário: Rafael Junqueira. |
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