Impacto econômico da mastite em rebanhos leiteiros

Alziro Vasconcelos Carneiro; Brito,J.R.F.; Fonseca,A.H.; Stock,L.A.; Oliveira,V.M.; Zoccal,R.; Yamaguchi,L.C.T – Pesquisadores da Embrapa Gado de Leite - alziro@cnpgl.embrapa.br

No Brasil, são raros os estudos que estimam o custo e retornos econômicos de estratégias de tratamento de doenças animais. A disponibilidade de informações precisas e no tempo certo é um subsídio importante para que as decisões na administração da saúde animal sejam corretas e eficientes. Esta pesquisa teve como objetivos avaliar e quantificar o impacto econômico da mastite clínica bovina em um rebanho leiteiro.
Foram coletados dados no período de setembro de 2002 a novembro de 2004, de uma propriedade localizada no Estado de Minas Gerais. O rebanho estava composto por animais da raça Holandesa, em média, 230 vacas em lactação com produção diária de leite de 22 kg/vaca. Eram realizadas duas ordenhas diárias seguindo seqüência de manejo predeterminado (linha de ordenha) e tratamento de todos os quartos mamários de todas as vacas após a última ordenha da lactação, com antibiótico específico para vacas secas.

Os índices médios de mastite clínica foram calculados considerando os seguintes itens: número de casos de mastite clínica dentro do rebanho; persistência, número médio de vacas em lactação. O custo de cada caso de mastite clínica foi obtido computando as despesas com o tratamento e as perdas decorrentes da doença, que incluíram os exames, medicamentos e mão-de-obra adicional, descarte de leite, descarte precoce e morte de vacas e honorário do médico veterinário. Os valores monetários foram corrigidos para agosto de 2007, pelo IGP-DI/FGV. Os valores em Dólar Americano (US$) convertidos conforme cotação do Mercado Oficial do dia 14/09/2007, US$ 1,00 = R$1,9031.

O Índice de Mastite Clinica Mensal reflete a incidência de mastite clinica no rebanho, fornecendo informações sobre as alterações no status de saúde da glândula mamária, sempre levando em consideração um determinado período de tempo. O nível internacionalmente aceito é menos de 1% do rebanho com mastite clinica. A taxa mensal de mastite clinica também é um bom indicador da eficiência do programa de controle de mastite. No período deste estudo ocorreram 458 casos de mastite clinica ou uma média de 17 casos por mes (Figura 1).

No cálculo do custo da mastite clínica não foram computados os custos indiretos, tais como, instalações para vacas doentes, custos para identificar as vacas afetadas, custos para treinamento de empregados, rompimento de fluxo na sala de ordenha, redirecionamento da atenção de administração de outras áreas operacionais da atividade leiteria, e aumento do risco de aborto após casos de mastite clinica, particularmente no início de lactação. Também não estão incluídas nos cálculos as despesas com prevenção. São consideradas despesas de prevenção os custos com monitoramento, pré e pós-dipping, vacinação e tratamento das vacas após a última ordenha da lactação, com antibiótico específico para vacas secas.

Tabela 1. Custo médio de um caso de mastite clínica bovina, em um rebanho da raça holandesa, com produção média diária de 22 kg/vaca em lactação.

Este valor evidencia a importância da doença na lucratividade dos sistemas de produção de leite e justificam os esforços para manter a doença sob controle. É intermediário ao relatado em diversos estudos, aproximadamente US$ 200,00 por vaca/ano, com variação de US$ 35,00 a US$ 295,00 por vaca/ano, representando perdas de 10 a 11% da capacidade produtiva das vacas.

Em parte, as variações entre os resultados do presente estudo e o dos demais pode ser justificada devido: (a) metodologia utilizada, pois cada estudo apresenta diferente conjunto de variáveis; (b) as origens dos dados são diversas: rebanho, animal, associação, indústria; e (c) em nenhum dos cálculos todas as possíveis variáveis foram incluídas nas análises.

Considerando que o custo de cada caso de mastite clínica equivale à receita gerada pela venda de 411 litros de leite, e que ocorreram, em média, 210 casos de mastite clínica por ano, o prejuízo anual com esta enfermidade representa a renda obtida com venda de 84.302 litros de leite, ou a produção total de 18 dias.

As pesquisas sobre mastite no Brasil, de maneira geral, estão direcionadas para tratamento e diagnóstico, sendo pouco conhecidas as relações entre a doença e os sistemas de produção, incluindo os fatores humanos e a incidência de mastite. Acredita-se que o conhecimento destas relações auxiliará os produtores a reduzir os custos de produção de leite e os riscos à saúde humana. Ressalta-se que os resultados desta pesquisa embora tenham sido estimados para uma propriedade típica, ainda assim representam uma importante contribuição diante da escassez de informações sobre o tema.