Técnica de produção - Pastagens

Capim-elefante: formação e utilização

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Fermino Deresz, Antonio Carlos Cáser e Carlos Eugênio Martins
Embrapa Gado de Leite

O capim-elefante é uma gramínea que apresenta elevadas produções de forragem de alta qualidade desde que manejado e adubado convenientemente. É palatável, apresentando boa resistência à seca, a doenças e a pragas (exceto ataque de cigarrinhas) e adapta-se à maioria dos solos e climas do Brasil. É utilizado com muito sucesso para pastejo rotativo.

Devido à alta produção de forragem, proporciona elevadas produções de leite ou carne por animal e por área. Sob condições de pastejo pode suportar de quatro a sete vacas por hectare, com suplementação volumosa na época seca do ano e suplementação concentrada quando a produção de Ieite por vaca/dia for acima de 10 a 12 kg/dia, desde que haja disponibilidade de pasto à vontade. Para que haja um bom estabelecimento da pastagem de capim-elefante, deve-se considerar os seguintes pontos:

FORMAÇÃO DE PASTAGEM: Pasto deve ser cultivado, como se cultiva milho, soja etc. Quanto maiores os cuidados na formação e manutenção de uma pastagem, maior o retorno em produtividade.

ESCOLHA DA ÁREA: O capim-elefante deve ser plantado em áreas planas bem drenadas ou em meia-encosta mecanizável, de preferência próximo ao curral de manejo. Quando for utilizado para vacas em lactação, ele deve ficar próximo do curral. Solos muito argilosos ou rasos devem ser evitados.

ANÁLISE DO SOLO: Fazer amostragem representativa da área a uma profundidade de 0 a 20 cm. Os resultados obtidos permitirão recomendar calagem e adubação racionalmente.

CALAGEM: Se necessário, o calcário deve ser distribuído e incorporado por meio de gradagem com 60 a 120 dias de antecedência ao plantio.

PLANTIO: Deve ser feito em sulcos espaçados de 50-70 cm e com profundidade de 20-30 cm. Colocar sempre que possível duas fileiras de colmos e cobrir com 10 cm de terra. Ex.:



ADUBAÇÃO DE PLANTIO: O adubo fosfatado deve ser aplicado de uma só vez no fundo dos sulcos por ocasião do plantio. O nitrogênio e o potássio serão aplicados em cobertura após o pastejo de uniformização ou, se for preciso, quando a planta atingir em torno de 60 cm de altura.

MUDAS: As melhores mudas devem ser maduras, bem desenvolvidas e terem acima de 120 dias de idade, as quais vão gerar plantas vigorosas. Com 1 ha de mudas, em geral, formam-se 6 ha de pasto com espaçamento de O,5-O,7 m.

CÁLCULO DA ÁREA: A área da pastagem a ser formada é em função do número de vacas ou garrotes (UA/ha) e da taxa de lotação recomendada.

PIQUETES: A Embrapa Gado de Leite recomenda dividir a pastagem em 11 piquetes de área semelhante, de forma a permitir um período de ocupação de três dias em cada piquete, com descanso de 30 dias.



CERCAS: As divisões internas podem ser feitas com cerca elétrica, com um só fio de arame liso na altura de 1 m com suportes distanciados de 10 a 15 m, ou com cerca fixa. Os esticadores são colocados a 50 m ou mais um do outro. As cercas de contorno devem ser de arame farpado. A fonte de energia pode ser a elétrica, por meio de bateria ou energia solar. Caso haja necessidade de corredor, este deve ter uma largura em torno
de 4 m com cerca fixa.

MANEJO DA PASTAGEM: Começa com o pastejo de uniformização visando formar um gradiente de crescimento diferenciado dos piquetes, o que deve ser feito quando o capim atingir 1,00 m de altura, rebaixando-o até 60-70 cm. Evitar o super-pastejo.

ALTURA DO PASTO NA ENTRADA: Os animais devem entrar no piquete quando o capim estiver com altura de 1,70 a 1,80 m.

SAÍDA DO PASTO: Os animais devem sair do piquete quando este atingir em torno de 1,00 m de altura do capim, levando-se em conta o desfolhamento da pastagem. Deve-se deixar um resíduo de 15 a 20% de folhas, para permitir uma rebrota mais rápida. Normalmente não há necessidade de podar o capim após a saída dos animais dos piquetes. Se sobrar capim após os três dias de pastejo, recomenda-se fazer um repasse.

ÁGUA E SOMBRA: Não ha, obrigatoriamente, necessidade de água e sombra em todos os piquetes. O bebedouro, o sal mineral e a sombra devem ficar, de preferência, no curral de manejo.

SUPLEMENTACÃO NA SECA: A pastagem de capim-elefante reduz sua produção de forragem na época seca, sendo necessário suplementar os animais com volumoso. Silagem de milho ou sorgo, feno, cana-de-açúcar com 1% de uréia e forrageiras de inverno, como aveia e azevém, são alternativas utilizadas, além do concentrado quando necessário.

OUTRAS GRAMÍNEAS: Além das cultivares de capim-elefante, como Napier, Pioneiro e Taiwan, outras forrageiras, como Colonião, Tanzânia, Mombaça, Vencedor, Estrela Africana, Pangola, Setária, Tifton, Braquiárias etc., podem ser utilizadas sob pastejo rotativo.

PRODUÇÃO: Resultados de pesquisa têm mostrado produções de leite entre 12 e 14 kg/vaca/dia, na época chuvosa, sem suplementação concentrada, com uma taxa de lotação de cinco vacas por hectare. Ganhos de peso de 0,7 a 1,0 kg/cabeça/dia, podem ser obtidos durante a época das chuvas usando-se animais de recria.

CUSTO DE FORMAÇÃO: Para formar 1 ha de pasto, gasta-se o equivalente a 3.000 a 3.500 litros de leite. Esse valor inclui preparo da área, aração, gradagem, calagem, adubação e cercas.

RETORNO ECONÔMICO: Considerando-se uma produção de 12 kg/vaca/dia e diferentes taxas de lotação nas pastagens, durante a época chuvosa, pode-se chegar a diferentes produtividades por área, como no exemplo abaixo:




180 dias, é suficiente para pagar o custo de formação de 1 ha do pasto já nos primeiros 180 dias, considerando o equivalente a 3.000 kg de leite para a formação do pasto.

Usualmente, o custo de 1 kg de matéria seca neste sistema de produção é de R$0,04. Admitindo-se um consumo de 12 kg/vaca/dia de matéria seca, isto significa um custo de R$0,48. Da mesma forma, a produção de 12 kg de leite a R$0,30/kg resulta em uma receita diária de R$3,60/vaca.

CONCLUSÃO

Como se vê no exemplo acima, a produção de três vacas/ha de 6 kg/dia, durante 180 dias, é suficiente para pagar o custo de formação de 1 ha do pasto já nos primeiros 180 dias, considerando o equivalente a 3.000 kg de leite para a formação do pasto. Usualmente, o custo de 1 kg de matéria seca neste sistema de produção é de R$0,04. Admitindo-se um consumo de 12 kg/vaca/dia de matéria seca, isto significa um custo de R$0,48. Da mesma forma, a produção de 12 kg de leite a R$0,30/kg resulta em uma receita diária de R$3,60/vaca.