Técnica de produção - Pastagens

Capim-sapé: controle

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Margarida M. Carvalho e
Deise Ferreira Xavier
Embrapa Gado de Leite

INTRODUÇÃO

O capim-sapé (lmperata brasiliensis Trin.) é uma planta invasora perene, que pode ser encontrada em pastagens degradadas e em áreas cultivadas de diversas regiões do Brasil. Na Região Sudeste, sua ocorrência é mais comum em pastagens degradadas de capim-gordura e em áreas abandonadas. As características de possuir rizomas e de produzir sementes leves e viáveis facilitam sua disseminação nessas áreas e contribuem para dificultar o seu controle. Em alguns casos, a infestação das pastagens com essa invasora é tão intensa, que a disponibilidade de forragem é reduzida e a produção animal pode ser comprometida.

O controle dessa invasora é, portanto, uma operação necessária quando se pretende o melhoramento de pastagens já existentes ou a formação de pastagens cultivadas em áreas infestadas.

CONTROLE QUÍMICO E MECÂNICO

O capim-sapé pode ser controlado por meio da aplicação de herbicidas ou por processos mecânicos (aração ou gradagem). Nos dois casos, uma área infestada com capim-sapé necessita antes ser queimada e um ou outro método de controle aplicado quando a planta invasora iniciar a rebrotação. No entanto, esses métodos somente serão eficientes se o terreno anteriormente ocupado pelo capim-sapé for revegetado por uma forrageira.

Essa, de preferência, deve ser adaptada às condições de solo e clima do local, e apresentar crescimento vigoroso, com capacidade de cobrir a área rapidamente, evitando o aparecimento de novas plantas de sapé, o que ocorre principalmente por rebrotação, a partir dos rizomas. Em um estudo feito na Embrapa Gado de Leite, a eficiência da aração e da aplicação de herbicida (glyphosate 41%), seguido do plantio de capim-gordura (Me/inis minutif/ora) ou Brachiaria decumbens foram comparados, tendo sido verificado que tanto a aração como o herbicida controlaram o capim-sapé, sendo o melhor controle o que associou esses métodos com o plantio de braquiária.

CALAGEM CONTROLA CAPIM-SAPÉ?

Uma outra forma de controle do capim-sapé, que tem sido sugerida, é a correção da acidez e da fertilidade do solo. A possibilidade de a calagem controlar o capim-sapé é uma indagação frequentemente feita por pessoas interessadas na formação e desenvolvimento de pastagens, principalmente na Região Sudeste. Como não havia comprovação técnica sobre esse efeito, decidiu-se estudar o assunto na Embrapa Gado de Leite. Um experimento de campo foi então realizado, com o objetivo de examinar o efeito da aplicação de calcário dolomitico sobre o controle do capim-sapé em pastagens, usando-se doses crescentes do corretivo, sendo as mais altas suficientes para corrigir a acidez do solo.

Uma área com intensa infestação de capim-sapé foi queimada, e em seguida o solo foi preparado por meio de gradagem para permitir a aplicação e incorporação manual das doses de calcário. Inicialmente o número de plantas de sapé foi reduzido por efeito da gradagem, inclusive onde não se aplicou calcário, porém, com o passar do tempo, o sapé voltou a povoar a área. No entanto, em nenhuma ocasião, até aos 33 meses após a calagem, houve redução ou aumento na quantidade de sapé por efeito da correção da acidez do solo, apesar de terem ocorrido mudanças consideráveis nas características químicas do solo, conforme indicam os dados da tabela apresentada a seguir. Por exemplo, aos 33 meses após a calagem, o pH em água tinha aumentado de 4,72 para 6,03 quando a dose de calcário cresceu de zero para 6 t/ha, enquanto a porcentagem de saturação por bases
(V) aumentou de 18,8 para 66,3%.

Características químicas do solo, sob efeito de doses de calcário, aos 33 meses após a calagemi.




CONSIDERAÇÕES FINAIS

O controle efetivo do capim-sapé em áreas infestadas consiste de duas etapas distintas: a redução na quantidade de biomassa da invasora existente na área, e, em seguida, a adoção de medidas para evitar a reinfestação. A redução na biomassa de sapé é conseguida pela queima e por outra medida controladora, como a aplicação de herbicidas ou o cultivo mecânico do solo. A reinfestação da área com a invasora, por meio de sementes, e principalmente da rebrotação a partir dos rizomas, deve ser prevenida ocupando-se a área com uma forrageira de crescimento agressivo, como a B. decumbens ou a B. brizantha.

A calagem é uma operação que requer terreno livre de vegetação, para facilitar a incorporação do calcário ao solo. Com as práticas agronômicas necessárias para efetuar a calagem, as medidas iniciais de controle do sapé estariam asseguradas. Além disso, como o controle de invasores sempre é feito com o objetivo de introduzir na área uma cultura agrícola ou forrageira, à prática da calagem sempre se segue o plantio de uma cultura de interesse, cujo desenvolvimento irá impedir a reinfestação da área com sapé. Portanto, a correção da acidez do solo pela calagem pode contribuir para o controle do capim-sapé apenas de modo indireto, ao executar as duas etapas de medidas necessárias para se conseguir esse controle. No entanto, como prática isolada, a calagem não garante o estabelecimento e desenvolvimento de forrageiras nos solos ácidos que predominam nas áreas infestadas com capim-sapé. É necessário que algumas deficiências nutricionais sejam corrigidas, principalmente de fósforo, elemento essencial para o estabelecimento de pastagens.