Técnica de produção - Pastagens

Lagartas: controle

Enviar por email
A-   A+
Joaquim Rezende Pereira
Embrapa Gado de Leite

As plantas forrageiras, assim como outras culturas, são atacadas por várias pragas que podem, se não controladas a tempo, dizimar toda área plantada. Algumas pragas exigem programas de controle sistemáticos e bem planejados, pois ocorrem todos os anos atacando grandes áreas. É o caso da cigarrinha-das-pastagens, considerada como uma das pragas de mais difícil erradicação no Brasil.

Outras pragas existem que, embora não ocorrendo constantemente, exibem uma voracidade tal que constituem ameaças graves para as quais o produtor deve estar atento. As lagartas são pragas potenciais que, assim como os gafanhotos, são capazes de devorar rapidamente imensas áreas produtivas. Ocorrem esporadicamente e constituem-se em formas jovens de mariposas e borboletas. Por esta razão, comem continuamente até o momento de empuparem para se transformarem em adultos. Seu aparelho bucal, do tipo mastigador, e sua mobilidade lhe conferem capacidade de "roer" rapidamente as folhas, reduzindo drasticamente a capacidade de suporte da pastagem. O prejuízo é pior em pastagens em formação.

AS LAGARTAS MAIS IMPORTANTES

Duas lagartas são mais importantes: a Mocis lar/pes, conhecida como coruquerê-dos-capinzais, e a Spodoptera frugiperda ou lagarta militar. Ambas são desfoliadoras vorazes que apresentam diferenças e semelhanças que serão abordadas nesse trabalho. Outras de menor importância e de ocorrência esporádica não se constituem normalmente em problema sério.

O coruquerê-dos-capinzais é a lagarta mais frequente e mais voraz, que ataca vários tipos de gramíneas, incluindo arroz, cana e milho. Por se tratar de praga polífaga, outras culturas são eventualmente atacadas, como as leguminosas forrageiras (siratro, soja perene e outras). O adulto desta praga é uma mariposa de hábitos noturnos, não se diferenciando em muito de outras mariposas; as asas são cinza-escuras e quando totalmente distendidas chegam a 4 cm de envergadura. Quando pousa, mantém as asas fechadas, adquirindo aspecto de um triângulo de base estreita. Após períodos quentes e chuvosos, voa sobre as pastagens depositando os ovos nas páginas inferiores das folhas. Geralmente a ovoposição se dá nos mesmos locais onde já ocorreram surtos ou nas proximidades. Após dez dias os ovos eclodem, dando origem a lagartinhas que raspam a página inferior das folhas para logo a seguir passar a devorá-las pelos bordos. O período larval dura 25 dias e, no fim deste período, as lagartas chegam a 4 cm de comprimento. São finas (aproximadamente 3 mm de diâmetro), de coloração pardo-escura com faixas longitudinais amarelas. A cabeça é pequena, em forma de globo com muitas estrias amarelas.

Apresentam três pares de patas anteriores e dois pares de falsas patas na parte posterior do corpo, o que lhes confere o típico andar "mede-palmos". No final do período larval, tecem um casulo nas dobras das folhas ou descem até o pé das plantas, onde empupam, permanecendo neste estágio por 12 dias. Da pupa surge novamente o adulto. Estima-se que possam existir até quatro gerações anuais, se o ciclo da praga não for interrompido.

A lagarta militar (Spodoptera frugiperda) é de ocorrência menos frequente, porém tão voraz quanto o coruquerê. É uma praga cosmopolita que ataca as mais variadas culturas. A mariposa é pardo-escura, com 3,5 cm de envergadura. Também tem hábitos noturnos e coloca os ovos na página inferior ou superior das folhas, agrupados em número de 50 a 100, cobertos por uma crosta pulverulenta de cor cinza.

Os ovos eclodem após três a nove dias e Iagartinhas agrupadas passam a raspar o limbo foliar. Após trocas de peles, as lagartas tornam-se mais vorazes, destruindo as folhas a partir do centro, deixando-as "esburacadas". No seu estágio final, as lagartas medem de 3 a 5 cm de comprimento e diâmetro de 0,5 cm. Distinguem do coruquerê pela coloração que é parda-escura, quase preta, com várias estrias longitudinais e pontos

pretos brilhantes pelo corpo. A cabeça de cor preta tem três estrias brancas, que formam um "V" invertido. Diferentemente do coruquerê, apresentam três pares de patas anteriores e quatro pares de falsas patas na parte mediana do corpo. Ao final de 30 dias de período IarvaI, descem ao solo e escavam até aproximadamente 1 cm de profundidade, onde empupam. O período pupaI dura 21 dias, ao final do qual surge a mariposa. O número de gerações é bem grande, devido ao fato de a praga atacar várias culturas, sobrevivendo durante todo o ano até mesmo em plantas invasoras. Outro fato importante sobre a lagarta militar é a ocorrência de canibalismo quando a densidade populacional é alta. Assim, raramente se veem duas lagartas sobre a mesma folha.

O produtor normalmente não distingue as duas lagartas, mas a identificação correta da praga é importante, pois o controle da lagarta militar costuma ser mais difícil que o do coruquerê.

MÉTODOS DE CONTROLE

As pastagens são formadas por plantas, perenes ou semiperenes, o que faz com que abriguem um grande número de inimigos naturais e formas de vida cujo papel é manter o equilíbrio biológico. Aves, como anús, gaviões, andorinhas e os pica-paus são grandes consumidores de insetos. Sapos e rãs são gourmets que têm predileção pelos insetos alados, e muitas espécies de insetos predadores e parasitas se alimentam de insetos menores que escapam de aves e répteis.

Embora as lagartas sejam muito susceptíveis a inseticidas tradicionais, estes produtos devem ser evitados, pois acarretam vários efeitos negativos, eliminando não só a praga mas também os inimigos naturais dela. Além disso, são tóxicos, o que obriga o produtor a retirar os animais da pastagem, por um período mínimo, até que o resíduo tóxico do produto tenha desaparecido para evitar contaminação na carne ou no leite. Isto sem falar da possibilidade de contaminar rios e córregos por resíduos levados pelas águas das chuvas ou da irrigação.

Em alguns casos, não existem outras maneiras de controlar certos insetos sem usar inseticidas. É o caso de gafanhotos. Porém, a pesquisa vai descobrindo métodos naturais de controle, os quais eliminam a praga sem afetar o meio ambiente. É o caso do uso do fungo entomógeno Metarrhizium anisop/iae no controle de cigarrinhas-das-pastagens, cupins etc. As lagartas podem ser controladas com pulverizações de produtos à base de Baci//us thuringiensis, vendidos comercialmente com os nomes de DIPEL, BACTOSPEINE, ZOOCAMP-78 e THURICIDE.

Estes produtos são constituídos de esporos de B. thuringiensis e cristais tóxicos de origem protéica. Ao ingerir o produto, a lagarta se contamina com os cristais que perfuram seu intestino, fazendo que os esporos da bactéria circulem pelo seu corpo e germinem. Em poucas horas a lagarta apresenta uma infecção generalizada, que a paralisa por completo, causando a sua morte dois dias após a pulverização.

Os produtos acima são recomendados para o controle biológico do coruquerê-dos-capinzais e outras lagartas desfolhadoras. Entretanto, para a lagarta militar, devido a uma particularidade de seu sistema digestivo, o que a torna menos susceptível ao Bacillus, recomenda-se aplicar uma dose bem maior do produto, o que torna o custo de tratamento antieconômico. Por isso, quando ocorrer apenas esta lagarta ou ela prevalecer sobre o coruquerê, deve-se optar pelo controle químico.

A aplicação pode ser feita por pulverizador costal, trator, ou mesmo, avião. A dosagem usada deve ser de 400 a 600 gramas/ha. A aplicação deve ser feita logo que se observem as primeiras lagartas, devendo a solução atingir a lagarta, o que facilitará a ingestão do produto. Para melhor aderência do produto, recomenda-se que, ao preparar a solução, seja adicionado um bom espalhante adesivo.

Além do controle biológico, outras medidas podem ser postas em prática, como, o emprego de rolo-facas sobre a população das lagartas na pastagem, uso de fogo, abertura de valas para dificultar a passagem delas para outras áreas. Nestas valas poderão ser aplicados produtos químicos brandos.