Técnica de produção - Sanidade Animal

Carrapaticida: como e quando usar

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John Furlong e
Márcia Cristina de Azevedo Prata
Embrapa Gado de Leite

BANHO MAL DADO E UM PROBLEMA

O banho carrapaticida é, quase sempre, a única atividade realizada pelo produtor para combater carrapatos nos bovinos de leite. Os rebanhos deleite, por terem maior grau de sangue Holandês e por serem manejados de maneira mais intensiva, sofrem mais com esse parasita. A maior infestação dos bovinos de leite causa um círculo vicioso que deve ser quebrado. Como os animais têm muito carrapato, precisam ser banhados com maior frequência, o que toma tempo. Por causa disso, os banhos têm sido feitos com pressa na maioria das vezes, não matando os carrapatos, criando resistência e multiplicando as populações nos animais. Existem algumas regras simples, porém muito importantes, as quais, se seguidas, auxiliarão muito no controle dos carrapatos no rebanho.

O PREPARO DA SOLUÇÃO CARRAPATICIDA

No preparo da solução para aplicação nos animais está a primeira regra importante. É fácil de entender que nunca se conseguirá uma mistura homogênea do carrapaticida com a água, quando se despeja a pequena quantidade necessária de carrapaticida na grande quantidade de água do pulverizador. Para que a mistura fique homogênea, é necessário, primeiro, diluir-se o carrapaticida numa pequena quantidade de água (2 ou 3 litros) e misturar-se muito bem. Só depois disso é que essa mistura deve ser despejada no pulverizador, completando-se então com a quantidade de água necessária para a quantidade de carrapaticida utilizada na calda, misturando-se muito bem novamente. Esse procedimento é o único capaz de garantir que todos os animais serão banhados com a mesma concentração do carrapaticida, o que é muito importante para se ter sucesso.

O USO CORRETO DO EQUIPAMENTO

São diversos os equipamentos utilizados na aplicação de carrapaticida, tais como o pulverizador costal, a bomba de pistão manual, os vários tipos de adaptação de bombas d 'água elétricas e a câmara atomizadora, em que os animais passam pelo túnel para ser molhados. Mais recentemente têm surgido no mercado minibombas elétricas (lava-jatos), perfeitamente utilizáveis para pulverizações, com jato em leque, como recomendado, devendo-se ter o cuidado de reduzir a pressão ao mínimo, para não machucar os animais.
Como regra geral, a escolha do tipo de equipamento a ser utilizado depende do tamanho do rebanho. Independentemente do tipo de equipamento, o seu uso deve seguir as recomendações descritas, capazes de permitirem uma pulverização correta, o que implica formação de jatos com microgotículas, que, com muita velocidade, são capazes de penetrar nos pêlos dos animais e atingir os carrapatos pequenos, sob esses pêlos.

COMO DAR O BANHO CARRAPATICIDA

O ato do banho em si concentra a maior parte dos problemas relativos à tarefa do "banho carrapaticida". Para ser bem dado, os animais devem ser contidos por corda, canzil, brete de tábuas estreitas ou cordoalha de aço, e banhados individualmente. Devem ficar completamente molhados, garantindo-se, assim, que todas as partes do corpo receberam a mistura com carrapaticida, que matará todos os carrapatos. Para isso, gastam-se em média três a quatro litros para banhar um animal adulto.

Os carrapaticidas utilizados em banhos de aspersão somente matarão os carrapatos que forem molhados pela mistura. Assim sendo, aqueles carrapatos pequenos, micuins, que, por não serem vistos, não são molhados, não morrerão, continuando a crescer, até que as fêmeas caiam ao chão e coloquem muitos ovos. Esta é uma das causas mais frequentes de queixa de produtores, que afirmam somente terem sucesso com banhos a cada 10 ou 15 dias. Como o banho só é dado nas partes dos animais onde se encontram mais carrapatos, os carrapatos das outras partes vão trocando de lugar e crescendo, e nesse período de 15 dias já são visíveis nas regiões do corpo que foram banhadas, necessitando mais banho nos animais.

O banho deve ser aplicado em sentido contrário ao dos pêlos, e de cima para baixo nos animais. Deve ser dado sempre a favor do vento. Tanto na preparação da solução do banho, como na sua aplicação, a pessoa deve proteger-se com luvas, máscara e roupa apropriada. O banho nunca deve ser realizado em horas de sol forte e em dias de chuva ou com os animais cansados. Se no dia definido para o banho estiver chovendo, deve-se deixar os animais presos sob a coberta por umas duas horas, após o banho, para depois solta-los.

TIPO DE PRODUTO CARRAPATICIDA

O manejo de carrapaticida é fundamental para o sucesso dos banhos, chegando-se ao ponto de afirmar que nada do que aqui está dito terá valor, se os carrapatos do rebanho já estiverem resistentes ao carrapaticida. Os carrapaticidas estão divididos por grupos químicos ou famílias, ou seja, cada grupo ou família tem uma forma de matar os carrapatos. Com o uso, os carrapatos vão se tornando naturalmente resistentes aos carrapaticidas. Essa resistência levará mais ou menos tempo para ocorrer, em vista do número de carrapatos que sobreviverem após cada contato com o produto (pelo banho carrapaticida). Um produto carrapaticida, ou produtos de um mesmo grupo ou família, deve ser utilizado por um tempo suficientemente grande, dois anos no máximo, da maneira mais correta possível, e pelo menor número de vezes possível (banhos estratégicos), para que a resistência demore mais a se instalar na população de carrapatos.

Decorrido esse tempo, ou percebendo-se que os carrapatos já não morrem mais após um banho bem feito, deve-se então trocar de carrapaticida, optando-se por um, de um outro grupo ou família diferente do atual, que tenha uma boa relação de custo por litro de solução pronta para o banho, e, principalmente, seja eficiente contra os carrapatos do rebanho. Em virtude do uso inadequado e da troca constante de carrapaticidas que o produtor tem feito, já não é tão fácil encontrar-se um carrapaticida com essa característica.

MELHOR ÉPOCA

A melhor época de combater-se os carrapatos com melhores resultados é a dos meses quentes do ano, janeiro a abril, quando crescem e morrem mais rapidamente ou durante os meses mais secos do ano, quando a baixa umidade prejudica o desenvolvimento dos ovos e larvas. O sistema de banhos estratégicos recomendado se fundamenta numa série de cinco ou seis banhos intervalados de 21 em 21 dias. Dessa forma cobrirão um período capaz de eliminar do pasto e dos animais uma geração inteira, que, não havendo, não dará origem às outras três gerações que ocorrem normalmente nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Com isto, ficarão no pasto poucos carrapatos, que ao parasitarem os animais não causarão prejuízo econômico, e ao mesmo tempo permitirão a manutenção da imunidade dos animais ante os agentes da Tristeza Parasitária Bovina, transmitidos pelos carrapatos. Nova série de banhos carrapaticidas deve ser realizada no mesmo período do ano seguinte.