Técnica de produção - Reprodução Animal

Cio: como identificar

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Luiz Sérgio de Almeida Camargo
Embrapa Gado de Leite

Cio, também conhecido como estro ou calor, é o período durante o qual a vaca ou novilha aceita a monta ou cobrição. Esse período é cíclico e ocorre a cada 21 dias (18 a 23 dias) nos animais não-prenhes. A duração do cio varia de 10 a 30 horas, dependendo, entre outros fatores, da raça, da presença de doenças, da temperatura ambiente e do tipo de manejo.

IMPORTÂNCIA DO CIO

Para se obter um intervalo de partos (IP) próximo de 12 meses e, consequentemente, maior eficiência reprodutiva do rebanho, é necessário que a vaca conceba ou fique gestante até três meses após o parto. Para que isso ocorra, é importante o retorno ao cio pós-parto o mais breve possível; bem como uma identificação (ou detecção) de cio eficiente e uma boa taxa de concepção.

A falha na identificação do cio é um dos grandes problemas em fazendas de gado leiteiro que utilizam a inseminação artificial ou a monta controlada. Pouco adianta uma vaca bem nutrida e de boa fertilidade retornar ao cio logo após o parto, se esse cio não for identificado para ser aproveitado.

Quando a eficiência na identificação do cio é baixa, o rebanho tem poucos animais gestantes, pois muitos não são inseminados ou cobertos. Ocorre também a inseminação de animais que não estão em cio, por falta de conhecimento ou observação incorreta do cio. A falha na identificação do cio alongará o IP médio do rebanho, reduzindo o número de vacas em lactação e gestantes, além de novilhas para reposição.

Uma boa taxa de identificação de cio aumenta a eficiência reprodutiva, produzindo um menor período de serviço e, em consequência, encurta o IP. Para isso, é necessário manter o rebanho sem doenças e bem alimentado, além de conhecer os sinais característicos do cio, tendo uma boa planilha de anotações das datas em que ocorrem e estabelecendo horários específicos para a sua observação.

SINAIS DO CIO

Para se obter boa eficiência na identificação do cio, é de suma importância que se conheça bem os sinais dele. A principal característica do cio é quando a fêmea aceita a monta de um touro ou de uma companheira do rebanho. Entretanto, existem muitos outros sinais que auxiliam na identificação do cio, e são chamados de sinais secundários. Normalmente, os animais em cio ficam mais agitados, procurando uma companheira, mugindo ou Iambendo e cheirando outros animais do rebanho com mais frequência. Realizam também tentativas de monta em outros animais que podem ou não estar no cio.
É comum os animais em cio apresentarem perda de pêlos próximo à inserção da cauda, o que é provocado pela monta de outro animal. A presença de muco na vulva ou muco seco grudado no períneo e cauda também são indicativos de cio. A vulva fica avermelhada e "inchada" além do normal. No dia do cio pode haver queda na produção de leite e diminuição do apetite.

Os sinais secundários surgem antes do cio propriamente dito e acabam depois de seu final, sendo auxiliares na identificação. É importante lembrar que os sinais secundários não são exclusivos do cio, porém são mais intensos durante a ocorrência dele. Para se ter certeza do cio e assim efetuar uma identificação correta, é preciso visualizar a aceitação da monta.

RECOMENDAÇÕES PARA AUMENTAR A EFICIÊNCIA DA IDENTIFICAÇÃO DO CIO

Para que o cio seja corretamente identificado, é necessário haver uma pessoa treinada, que conheça bem os sinais característicos do cio das vacas e noviIhas. O produtor deve estar conscientizado de que a identificação de cio é uma das tarefas prioritárias na propriedade. Essa atividade exige muita atenção, devendo-se evitar que seja feita com outras atividades. A observação de cio deve ser realizada no mínimo duas vezes por dia, durante trinta minutos, sendo a primeira observação nas primeiras horas da manhã e a segunda no final da tarde, antes de escurecer. A presença de um touro ou de um rufião auxilia na identificação do cio, porém não são totalmente eficientes, por isso não dispensam uma boa observação. Os horários de observação devem ser respeitados e as anotações feitas em fichas adequadas, de fácil acesso e consulta.

Deve-se sempre ter as anotações dos cios anteriores, para se identificar quais os animais próximos a completar 21 dias após o último cio. Normalmente, vacas ou novilhas que não foram inseminadas/cobertas ou que não gestaram podem apresentar novo cio 18 a 23 dias após o último.

No local de observação deve-se evitar interferir nas atividades dos animais, ficando-se atento para identificar aqueles mais agitados ou com outros sinais secundários do cio. Todos os animais devem possuir uma identificação de fácil visualização, como brincos, números a ferro quente, colares ou correntes com número no pescoço, para que possam ser identificados a uma distância razoável, sem que seja necessária maior aproximação.
Quando há dois ou mais animais em cio, a observação é facilitada, pois esses animais tendem a se agrupar e interagir. Existem alguns produtos que ajudam na identificação do cio, os chamados detectores de cio. O objetivo desses é fazer com que os animais em cio sejam marcados, normalmente por tinta, ao serem montados pelo rufião ou companheira de rebanho, quando então são facilmente identificados.

Os mais conhecidos são o Buçal Marcador e o KaMar. Existem também equipamentos eletrônicos que auxiliam na detecção do cio, como o Pedômetro, que mede a intensidade da movimentação física dos animais, avaliando o aumento do número de passos dados pelo animal. Outros aparelhos medem a resistência elétrica na secreção e musculatura da vulva e vagina, que é menor durante o cio. Embora vários métodos já tenham sido desenvolvidos para auxiliar na detecção de cios, nenhum deles substitui um bom observador.